///////Â Projecto RuÃdo
Ângela,
Não me conheces, mas achei que te devia escrever porque em breve estaremos tão perto que seria estranho se não nos apresentássemos antes. Não espero que me respondas, nem sequer que me cumprimentes ao chegar, mas para que não tenhas dúvidas, achei por bem apresentar-me desde já, para que quando chegares saibas ao que vens.
Como disse, não me conheces, mas eu estarei à tua espera.
Eu sou a criança que vai para a escola sem pequeno-almoço, com meia dúzia de cêntimos no bolso (quando há!), que almoço um pão com queijo no supermercado ao lado da escola.
Eu sou o rapaz que anda uma hora a pé para a secundária porque o Governo me tirou o apoio ao passe escolar e os meus pais não têm dinheiro para pagar transportes para mim e para a minha irmã.
Eu sou a rapariga que vês através do vidro esfumado do teu carro do corpo diplomático a correr da faculdade para um emprego mal pago, com horários desumanos, a fazer esforços além das minhas forças, para pagar os estudos porque as propinas não param de aumentar e já ninguém tem bolsa neste paÃs.
Eu sou o licenciado que entrava no avião enquanto saÃas do teu para emigrar à procura de um sÃtio qualquer onde tenha um emprego.
Eu sou a jovem trabalhadora que acumula estágios, falsos “recibos verdes†e contratos a prazo há anos, apesar de trabalhar há anos num mesmo sÃtio e desempenhar funções de carácter permanente.
Eu sou o homem que vagueia desesperado pelas ruas, sem perspectiva, cansado de ver as portas a fecharem-se sem encontrar um emprego há anos.
Eu sou a mulher que tem de escolher entre comer duas refeições ou dar as vacinas todas aos meus filhos.
Eu sou o trabalhador que no dia em que recebe sabe que não vai ter dinheiro para pagar todas as contas que tem até ao fim do mês.
Eu sou a que ficou sem casa por não ter dinheiro para pagar a prestação.
Eu sou o pai, a mãe, o avô, a avó que sustenta de novo filhos e netos que viram negada a sua emancipação e voltaram à minha dependência. Eu sou o doente a quem roubaram a possibilidade de se tratar. Eu sou o reformado a quem a pensão não chega para viver.
Eu sou isso e muito mais. Sei que não te devo parecer estranho, porque também lá para os teus lados os há (e muitos) como eu, à custa de quem tu e os senhores do sistema por quem dás a cara vivem no luxo e na fartura a acumular lucros aos milhares de milhões. Desses também temos por cá, dos que exigem daqueles como eu que não tenha vida, que não tenhamos dinheiro para mandar cantar um cego, que não tenhamos presente nem futuro e depois têm lucros tão grandes que a numeração que se aprende na escola nem chega para saber exactamente quantos zeros é que são.
É por isso que quero é que tu e a troika, seja a que trazes contigo, seja a que vens cá dar festinhas no dorso, se lixem.
Estou farto de viver à rasca e estimo bem é que voltes para donde vieste e, de preferência, leves contigo os que me andam a enterrar o futuro, a atulhar-me no lixo deles, enquanto eles brindam nos seus copos de cristal.
Mas Ângela, antes de ires, agacha-te e junta-te a esses teus fiéis súbditos que rasgam no chão os seus joelhos para te beijar a mão ao passares. Com eles, esses colaboracionistas, que abrem as portas do paÃs a quem nos vem roubar, apanha um por um os pedaços desse dito “memorando de entendimentoâ€, que cá por mim se não for rasgado, ele só serve mesmo para fazer de calço debaixo do pé de alguma mesa manca cujo baloiçar faz a escrita torta ou a sopa pender para um dos lados do prato!
Por fim, e para que não me acuses de indelicadeza, deixo-te para o caminho de volta um pedacinho da nossa cultura: cada vez que prometas que as coisas vão mudar, que as instituições vão ser reformadas, que isto vai ficar melhor à custa da nossa miséria, que isto é que é moderno e inevitável, lembra-te de um poeta português que dizia “Vós que lá do vosso império. Prometeis um mundo novo, Calai-vos, que pode o povo. Qu’rer um mundo novo a sério.â€
Até dia 12. Eu serei o da pancarta na mão, o do megafone estridente, o que não se resigna e faz tanto ruÃdo que não te dará por onde fugir sem teres de me ouvir. Vemo-nos por aÃ,
Projecto Ruido
Obrigado pela partilha! Merkel baza e leva as troikas contigo!
Carta disponÃvel em http://goo.gl/kbA2j
Associação Projecto RuÃdo
http://www.facebook.com/projecto.ruido
http://www.projectoruido.blogspot.pt
p.ruido@nullgmail.com
Tiago, há que respeitar o drama em que tanta gente vive.
Daà que o melodrama seja de excluir em absoluto!!
«…esses teus fiéis súbditos que rasgam no chão os seus joelhos para te beijar a mão ao passares»? !?!?!?
Não reparou no Coelho?Ou no Gaspar?
Na cara nojenta que fazem quando perante a dona e quando em presença dos seus comissários?
Ou naquele marques mendes em bicos dos pés a tentar chamar a atenção da boss?
Dois pontos:
1 – A Ângela não passa de um Passos Coelho ou de um VÃtor Gaspar, uma rafeira da Banca Internacional que não tem direito de voto.
2 – O manifestante que só faz ruÃdo, não vai a lugar nenhum. A única forma de combater os «nossos representantes eleitos» que trabalham para a Banca Internacional, é eliminá-los.
Fernando Madrinha – Jornal Expresso de 1/9/2007:
[…] “Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o paÃs, pessoas e empresas, trabalham para eles. […] os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutÃnio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos polÃticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais.” […]
Paulo Morais, professor universitário – Correio da Manhã – 19/6/2012
[…] “Estas situações de favorecimento ao sector financeiro só são possÃveis porque os banqueiros dominam a vida polÃtica em Portugal. É da banca privada que saem muitos dos destacados polÃticos, ministros e deputados. E é também nos bancos que se asilam muitos ex-polÃticos.” […]
[…] “Com estas artimanhas, os banqueiros dominam a vida polÃtica, garantem cumplicidade de governos, neutralizam a regulação. Têm o caminho livre para sugar os parcos recursos que restam. Já não são banqueiros, parecem gangsters, ou seja, banksters.”
Diogo gostei bastante do que referiu poderá enviar-me seu email para o meu 🙂 miramartamira@nullgmail.com
Parabéns a todos os que se insurgem contra a actual situação
todos nós teremos que inundar as ruas deste pais para derrubar a troica e o despotico capitalismo,destruir as estruturas do estado que eles implementaram e construiremos um outro estado ao sserviço do povo e do pais com a revoluçao socilista proletaria
Lindo de ler, triste por conter em tão poucas palavras uma verdade enorme de como vai este paÃs. Gostaria de ter tido estudado para saber escrever assim. Que no dia 12 as nossas vozes se possam fazer ouvir. Votos para que este povo de brandos costumes, acorde de vez. Um abraço amigo.