Excerto de um texto de crÃtica ao Manifesto “O Meio da Esquerda“ retirado do site “Passa Palavra” e sobre os limites que o argumento da circunscrição da crÃtica à corrupção dos polÃticos comporta.
«Um teste infalÃvel para avaliar o grau em que uma proposta de remodelação polÃtica se insere no capitalismo é a obsessão com o problema da corrupção, e também os autores do Manifesto reclamam contra a «impunidade da corrupção». Mas veja-se com atenção. A corrupção consiste em não respeitar as regras estabelecidas pelo capitalismo nas relações entre capitalistas, não nas relações dos capitalistas com os trabalhadores. A corrupção não diz respeito à extorsão da mais-valia, ao processo de exploração dos trabalhadores, mas à repartição entre os capitalistas dos frutos dessa exploração. Compreendemos que o problema preocupe os capitalistas e os seus agentes polÃticos, mas é necessário que os trabalhadores sejam vÃtimas de profundas ilusões para se ocuparem com a questão. A corrupção é uma violação das regras vigentes na economia capitalista, e reclamar contra a violação das regras é implicitamente apoiá-las. Nesta perspectiva, o Manifesto propõe «a utilização de um sistema de júri, de forma coadjuvante, nos processos de corrupção». Todavia, uma reforma da Justiça que não passe pela completa remodelação do Direito, dos cursos de Direito e dos sistemas de nomeação dos magistrados e se baseie em júris é uma piada de tanto mais mau gosto quanto — mantendo-se o sistema capitalista — os júris constituem, ou podem constituir, uma forma de linchagem popular regularizada.
Para entender este problema é indispensável não confundir a consciência de classe com o ressentimento. Uma coisa é dar um pontapé no tabuleiro porque se recusam as regras do jogo. Outra coisa, muito diferente, é protestar contra a batota daqueles que estão a vencer porque se pretende ganhar em vez deles. É aqui que entra o argumento da corrupção, acusando-a de batota. Aqueles que evocam a corrupção não pretendem liquidar o capitalismo e deixar os capitalistas sem ofÃcio, mas apenas substituÃ-los por outros. Ora, quanto a isto a última palavra foi dita, e há muitos anos, por H. L. Menken, quando observou que pretender resolver o problema da corrupção colocando no governo polÃticos honestos era o mesmo que pretender resolver o problema da prostitução enchendo os bordéis de virgens. É que nas regras deste jogo estão implÃcitas as modalidades da sua violação e a curto prazo tudo recomeça, só que os ressentidos têm a barriga mais vazia e os dentes mais afiados, o que os torna ainda piores do que os outros».
Dei comigo a pensar que darei um contributo para a derrota do capitalismo se passar a ser corrupto. É assim JVA?
quanta confusão…
que exagero, é só alimentá-los e dar-lhes água
Do Manifesto, gostei particularmente da ideia de substituir o Portugal “de mão de obra” pelo Portugal “dos cérebros de obra”. Já estou a ver alguns dos signatários do artigo, “o meio da esquerda: do contra ao como”, espalhados pelas fábricas deste paÃs, agarrados a máquina e ferramentas, contribuindo para a recuperação do da nossa economia.
Espero que compreendam agora o que se vem a passar aqui no Brasil desde sempre! Quanto às cóleras e às misérias que aà rondam: não desejo isto (miséria ou capitalismo) a Portugal, nem ao Brasil, mas é certo que só agora começarão a nos entender melhor na medida em que nossas arrogâncias históricas não nos serviram de nada!