O Verão do Skylab, a anterior obra realizada por Julie Delpy, era uma comédia centrada num encontro familiar dos anos 70. Entre a herança colonial francesa e a memória do Maio de 68, entre a discussão polÃtica e o choque de gerações, com a bruma do skylab (satélite que se suspeitava poder chocar com a Terra) a funcionar como um catalizador metafórico, estava um filme capaz de construir e trabalhar personagens com uma inteligência tremenda. Uma extraordinária comédia, com um uso requintado da música (no contexto apropriado, nem Daddy Cool incomoda) e um humor fino e existencialista tão caracterÃstico de Woody Allen. Alguns meses mais tarde, 2 dias em Nova Iorque, sequela de 2 Dias em Paris, está uns bons furos abaixo do filme anterior de Delpy. Contudo, dificilmente a actriz e realizadora francesa seria capaz de fazer uma comédia do tipo alarve ou romântica cliché. Não é naturalmente o caso.
Mingus (Chris Rock) e Marion (Julie Delpy) são o casal de protagonistas. Ele é locutor de rádio e ela uma fotógrafa de erotismo que se usa como modelo e que, num processo surrealista, decide vender a própria alma. Quando, no pequeno apartamento nova-iorquino que partilham com os filhos, recebem a visita da excêntrica famÃlia francesa dela, o resultado são dois dias caóticos.
Estamos novamente num contexto familiar perfeitamente absurdo e volta aqui a haver personagens bem interessantes, fortes e improváveis, como tornar Chris Rock o sÃmbolo de sensatez no meio da desordem total (logo ele) ou pôr Vincent Gallo a fazer de si próprio. Por outro lado, colocar como pai de Marion (o fabuloso Albert Delpy, o pai de Julie na ficção e na realidade) um francês entre o lunático, o caloroso e o pouco higiénico, capaz de causar no espectador algo entre a profunda simpatia e o asco, aparenta ser uma forma engraçada de gozar com alguns estereótipos dos americanos.
O grande problema é, então, a falta de um argumento mais consistente e de uma maior reflexão social ou de costumes que tornavam O Verão do Skylab num filme tão fascinante. Para além do mais, os diálogos de Mingus com Obama não são particularmente estimulantes e a cena da pseudo-doença de Julie e os respectivos desenvolvimentos soam a coisa demasiado recalcada e pouco criativa. Assim sendo, 2 dias em Nova Iorque é pouco mais que uma parvoÃce descontraÃda, com nÃvel e que se vê com prazer. É uma pena que seja só isto.
5/10
Infelizmente ainda não vi o verão do skylab, mas do que diz, Dois dias em NI parece um pouco mais interessante do que a prequela, que tinha muito de uma perspectiva clichesada dos franceses aos olhos dos americanos. Ainda, assim, longe de ser uma pérola intelectual (a prequela) fez-me rir.
Há quem ache que este tem também essa mesma “perspectiva clichesada”. Depende das interpretações
A gaja é boa e o Chris Rock normalmente tem piada.