
Sala Escura da Tortura´- trabalho coletivo: Gontran Guanaes Netto, Julio Le Parc, Alejandro Marco, Jose Gamarra, 1973
Não creio que uma análise escalpelizada entre a inquisição e o fascismo valha muito a pena. Os seus pontos de contacto são demasiado evidentes, a começar pela partilha do amor pelas catacumbas. Não foram os únicos, é certo, pelo que é sabido que em nome de horizontes mais materialistas do que os da SantÃssima Trindade, outros também foram à procura de forjar o homem novo nos calabouços onde havia sido abandonado o velho.
Uma coisa é certa, a “violência polÃtica consequente” das barricadas é “produto de massas organizadas e conscientes”, pelo que o amor do primeiro associado ao escárnio do segundo não faz grande sentido. É como idolatrar o coito e desprezar o orgasmo, numa obsessão tântrica que repete o acto até à desidratação absoluta. Uma idealização fetichista que não deixa de admirar o longÃnquo mas apenas e só nos aspectos em que ele nos recorda o que nos está próximo, desdenhando tudo o resto.
Amar a organização como um fim em si mesmo é um ato de devoção ao aparato que releva o âmago da luta para um segundo plano. Os pneus dos mineiros das Astúrias tratados como brincadeira de criança ou retratados como parte menor do processo, é uma interpretação do sindicalismo como uma infinita marcha desprovida de propósito, sentido, ou capacidade de vitória. É, em suma, um acto de contrição, um que dificilmente tomará o caminho da barricada e ficará sempre contente com o único balanço positivo que dele pode ser feito, escrito a paredes meias com os juÃzes que sentenciam com declarado interesse na matéria. É um sindicalismo mutilado.
Quando tinha oito anos também deixei um pneu a arder. Não foi no Largo da Estrela e não me lembro do fumo que fez. Ainda assim, continuo convencido que aos mineiros das Astúrias basta-lhes o espÃrito inquisitorial do Estado Espanhol para lhes dedicar paralelos imbecis. A retoma de velhas formas de luta, a redescoberta da radicalidade do insuperável poder operário e popular, merece a ode do nosso olhar atento, não a desatenção da nossa sátira.
vais mesmo alimentar isto? acho que anda toda a gente a navegar na mesma direcção só que a dar com os remos uns nos outros.
A imagem é bonita e bastante acertada. O pneu bateu no remo mas o barco vai já de saÃda.
A mistificação continua da tua parte, a um grau de delÃrio doentio, Renato. Um pneu é um pneu. É fácil deixá-lo a arder. A imagem dos mineiros em luta, essa sim, é que é um esplendor. Porque fazer arder a consciência dos homens é infinitamente mais difÃcil que acender um pneu. Mas o teu fetiche é o pneu.
Pedro, baralhas para voltar a dar. Eu não estabeleci uma hierarquia entre os processos. Não desdenhei um em função da fetichização do outro. Não vejo que seja possÃvel barricar uma ponte ou uma auto-estrada sem organização. Ao contrário, tu pegas no teu amor à massa para a atirares contra a massa, esquecendo que os actos de resistência que temos testemunhados são todos, pneus inclusivé, obra da massa organizada dos mineiros das Astúrias.
Quanto ao espÃrito inquisitorial suponho que pelo teu silêncio estamos conversados.
O “meu silêncio” deve-se ao facto de teres retido este meu comentário desde a meia-noite de ontem. Não houve silêncio nenhum, como bem sabes.
E nada do que dizes está contido naquele post de quatro linhas. É da tua parte pura falsificação e mistificação. Não há naquele meu post uma palavra contra barricadas e a sua organização. Mas sim contra a fetichização da escaramuça que tu praticas. Prefiro homens a pneus, é isso que lá está.
Está visto que preferes debater tabelas horárias a assumir que fizeste dois paralelos infelizes. O teu comentário foi aprovado vinte minutos depois de ter dado entrada e não é da minha responsabilidade se ele fica retido ou não. Insinuas um problema de censura que nunca levantaste, perdendo mais tempo ai do que a debater o sindicalismo que emana das Astúrias. Curiosamente, tens comentários às tuas postas à espera de aprovação desde a meia-noite e meia, portanto, há praticamente 12 horas. O que dizer da duplicidade de critérios e tua infame retenção da liberdade de expressão dos leitores do 5dias?!?
Quanto ao assunto em debate não há qualquer mistificação. Não há pneus sem homens, mas há homens sem pneus.
A razão é clara: o meu acesso ao 5 Dias está barrado, enquanto o teu, pelos vistos, não 🙂
Curioso…
Que granda nóia Pedro. Que pobreza de argumentário para debate tão interessante.
Seria tão mais útil à luta e união da esquerda que em vez de andarem aqui com textos autofágicos para gáudio da direita que por aqui vem se discutissem estas merdices em privado. Andarem aqui a trocar galhardetes semânticos e desviarem-se do maior ataque da direita ultra-liberal aos direitos e bem estar dos portugueses é que devia ser a vossa prioridade.
Agora andarem a dizer que “o meu pneu queimou mais que o teu” é ridÃculo!
Vocês ou gostam muito destas tiradas a puxar para o intelectualóide ou então não devem mesmo saber quais são as prioridades da esquerda actualmente.
Curiosamente Tima, esta discussão fraterna é sobre tudo menos sobre pneus.
É isso mesmo, Tima.
Gastas demasiados recursos criticando os irmãos de luta e vejo-te com pouca garra para a dextra madrasta que oprime o paÃs! Tens de te focar mais no essencial e deixar o acessório para as idas ao bar!
Esse argumento é uma falácia. O debate à esquerda é demasiadas vezes considerado uma perda de tempo e as consequências são nefastas sobretudo para fortalecer o combate à direita.
O “debate” à esquerda quase na totalidade que se faz aqui neste blogue é demonstrar a superioridade moral do PCP face aos esquerdistas “caviar”. As consequências estão à vista. A esquerda em Portugal está tão unida um copo de água com azeite.
Renato, já chega. Estás a desperdiçar tempo e genica e a disparar para o lado errado. Vê se te acalmas e te concentras.
A destrinça não é tão aparente como aparenta!!
São animados de misticismos distintos! Uns animam-se de um misticismo apoteótico e outros de um misticismo apocalÃptico!!
Por falar em pneus, sábado, vou queimar os pneus para a manif em Lisboa
Pois é, mas entre a apoteose e o apócalipse pode distar o tempo de um suspiro! E a luta dos mineiros asturianos, como a do povo grego, dos desempregados na europa, dos excluÃdos na américa ou dos famintos em áfrica, onde quer que se encete, pode acender um rastilho fundamental para incendiar os opressores!