Os historiadores vivem a ansiedade da armadilha de olhar para o passado através do presente. Isso conduz a quem estuda história das revoluções a frequentemente tropeçar nas derrotas e não conseguir ver as vitórias, escorregar nas desilusões sem ver as lutas. Em suma onde vêem derrotas não conseguem ver lutas.
É assim que as grandes lutas dos anos 80 em Portugal – cuja derrota deu origem ao Pacto Social e à adesão à UE – são esquecidas porque a sua derrota abriu espaço ao neoliberalismo em Portugal. Em Portugal há um antes e um depois da crise económica de 1981-1984. Há um antes e um depois do Pacto Social – escrito e assinado em muitos casos pela UGT e pela CGTP (a  CGTP assinou 7 acordos de concertação social) ou de facto aceite pelas centrais sindicais (experienciado nas polÃticas de produção “nacional”, recuo no radicalismo das propostas, greves gerais que são greves de um dia para marcar agenda, despolitização das lutas económicas, etc). Tudo isto nasceu, esta é uma hipótese de análise apenas, da derrota da espinha dorsal do movimento operário organizado -a Lisnave e a Siderurgia. Como na Europa nasceu da derrota dos mineiros, dos «homens do aço» e dos construtores navais. Se eu, por acaso, estiver certa – ou seja, que a vitória da burguesia na crise de 1984 significou a vitória do neoliberalismo, e  portanto de uma nova etapa histórica regressiva, imaginem o que vem aà depois desta crise, se ela não for vencida.
Estes saudosos anos 80 – que muitos historiadores vêem como anos de derrotas – foram marcados por lutas extraordinárias da Polónia à Ãfrica do Sul, do Irão à  Nicarágua (79), do Brasil à s Filipinas.
Polónia, minha cara , foi uma contra-revolução. Foi o capitalismo que venceu, e não o movimento operário. As lutas aà tiveram outro conteúdo – e significado.
Por cá lutou-se muito, muitÃssimo, e o que ainda temos deve-se aos operários e aos trabalhadores portugueses (conduzidos pela sua central sindical de classe, a CGTP-IN e pelo PCP) que resistem e defendem a par e passo as conquistas do 25 de Abril.
Não misture aqui a Polónia e o movimento sindical financiado pelos EUA e o Vaticano…
Raquel
Os anos 80 apenas deixam saudade aos yuppies. No plano da luta dos trabalhadores foram anos de fome (olhe, em Almada e Setúbal, por exemplo, com trabalhadores a cometerem suicÃdios por não terem como alimentar as suas famÃlias), de cargas policiais violentas e tiros sobre populações e trabalhadores em luta (dos Caulinos ao 1º de Maio no Porto, passando por Valongo e a Marinha Grande.
A sua avaliação histórica do papel da CGTP é mais do que questionável, insultuoso. A Raquel é historiadora, que reconhecida pelos seus pares. Com afirmações como esta não terá concerteza o reconhecimento daqueles que conhecem a história, porque a protagonizaram e não apenas estudaram, fora dos circúlos das academias.
Aproveito para lhe pedir que inumere os 7 acordos de concertação social (atenção: acordos de concertação social e não acordos parciais sobre matérias concretas, como o SMN ou SHST).
Cumprimentos.
Estudos da Maria da Paz Lima, Alan Stolerov, CES de Coimbra.
Terá todo o reconhecimento dos seus pares, sim, caro «Grevista». Hoje, no campo da História, há um forte consenso anti-PCP, anti-CGTP, anti movimento operário organizado – que vai (como sempre e como noutras áreas) da extrema-esquerda à extrema-direita: Raquel Varela ou João Madeira/ Costa Pinto ou Rui Ramos são exemplos disto mesmo…
O neoliberalismo venceu antes, em Novembro de 76, mais precisamente me 25 de Novembro. Gostava que me respondesses se na tua opinião os 7 acordos que a CGTP assinou se permitiram a derrota dos trabalhadores e da esquerda, ou seja da luta progressista, da democracia e da liberdade.
Os Acordos entre o Capital e o Trabalho são um recuo. Sempre. Não percebo aliás como pode haver qualquer acordo.
Essa dos acordos entre o capital e o trabalho serem um recuo “sempre” – é uma pérola do esquerdismo mais pantomineiro.
Experimenta ler um textozinho do Lénine chamado “nenhum compromisso?” – que ele explica tudo.
E se os ditos «acordos» consagrarem importantes direitos na sequência de duras lutas dos trabalhadores? É um recuo? Percebe muito de revoluções e de como elas se fazem – não é assim: puf! e ela aparece, sabia?
Esquerdismo, é o que é…
É isso, Raquel. Defender o Lech Walesa e o anti-comunismo polaco, defender a direcção do Lula na luta do ABC – que se fosse aqui teria a oposição da Raquel porque cedeu várias vezes ao Governo. Sim, esse é o caminho. Felizmente, nem todos somos parvos.
Bruno, parece-me que quem defende que as direcções e os trabalhadores são a mesma coisa és tu. Defender a Polónia significa defender a luta dos trabalhadores polacos contra uma ditadura da burocracia do PC polaco e da da burocracia da URSS. É lamentável que essa luta tenha sido dirigida pela igreja católica e os sectores mais reaccionários mas depois de umas dezenas de anos a viver sob a pata de estalinistas e depois da esquerda ter sido decapitada é compreensÃvel que quando os trabalhadores se levantaram só tenha sobrado a direita para os dirigir.
O Lula – hoje dirigente de um governo neoliberal – foi e bem apoiado nas lutas do ABC, que levaram aliás ao fim da ditadura brasileira.
Sobre a Polónia: você arranja cá umas desculpas esfarrapadas para apoiar a direita…
Vá lá chame-me de estalinista – que de resto não sou.
É isso, Raquel. Passo-a-passo rumo ao abismo da social-democracia. Mas quem é que dizendo-se de esquerda se lembra de apoiar a luta travada contra o socialismo na Polónia? Para ti, até podia ser uma outra coisa qualquer menos socialismo mas compreender que aquilo não foi mais do que uma batalha dos sectores mais reaccionários da sociedade polaca – que ainda hoje é das coisas mais violentamente ultra-católicas que conheço – parece-me de uma lógica básica.
Aqui se demonstra que aquela conversa de que de que não se pode defender um inimigo só porque está contra um inimigo maior que costumam usar contra os comunistas que apoiam a luta anti-imperialista em paÃses como o Irão e a SÃria só serve para nós. Porque quando se trata de baixar as calças à direita mais reaccionária vocês estão lá. Porquê? Porque como dizes tu: porque apesar de serem reaccionários e dirigidos pela Igreja Católica lutavam contra o PC Polaco e a burocracia da URSS. Brilhante, Raquel.
Sobre o Lula espero que tenhas visto o documentário que postaste. Porque dei-me ao trabalho de o ver para ficar chocado como é que uma pessoa como tu que ataca os comunistas por defenderem o culto da personalidade (o que é falso no caso dos comunistas portugueses) consegue ficar contente com aquela figura com tiques pessoalistas e autoritários. Se aquilo fosse a CGTP caÃa-nos toda a “esquerda livre” e quejandos sobre a intersindical. É giro no final quando a direcção do sindicato pede o fim da greve do ABC entre outras coisas “porque o governo quer acabar com o percurso sindical de Lula”. Depois fala Lula pedindo aos metalúrgicos para que cessem a greve porque o governo ameaça proibir os sindicatos. Eu não discuto esta posição porque não conheço bem as circunstâncias mas sei quem é que cairia em cima da CGTP e a acusaria de reformista se tomasse o mesmo tipo de decisão.
Socialismo na Polónia?????? Quando?
Responderes ao meu comentário com essa pergunta demonstra bem a incapacidade de me responderes ao resto.
Mais ou menos entre 1948 e 1989… 😉
É “lamentável” e pronto, a Dr.ª Raquel arruma assim a questão. Assuma que tomou e toma posição pelo sindicalismo made in USA contra as «burocracias» dos PC’s, como tanto gosta de dizer. A 4.ª Internacional fê-lo, porque não a Raquel?
Neoliberal não será…
E não só… as lutas contra as ditaduras espalharam-se também pelos paÃses europeus: Rússia, Bulgária, Polónia, Roménia, Checolosváquia, Estónia, Letónia, Lituânia, Ucrânia.
São vastos os exemplos de posvos que viviam na mais absoluta miséria, governados por ditaduras sanguinárias que resolveram libertar-se desses assassinos e seguir um caminho livre!
realmente espantoso, eu a pensar que em 1983 vivÃamos em democracia, mas afinal era recém-primeiro-ministro Mário Soares, logo após a demissão de Francisco Balsemão (e na época não havia internet, embora houvesse mais imprensa e mais livre que hoje);
um pequeno reparo (já habitual;): no dicionário da Porto Editora, “burguesia” significa “a classe média da sociedade” e é nesta acepção que o comum dos falantes a compreende, pelo que este texto se torna ininteligÃvel se por tal palavra se pretende referir os detentores dos meios de produção, expressão em si também equÃvoca, pois hoje muita gente é detentora dos seus próprios meios de produção (um computador geralmente basta…)
Esse Dicionário não é lá grande coisas:)
Porque é que o comentário ainda está para ser aprovado e o da Leonor não?
As lutas em Portugal já tinham sido derrotadas em 75… Mas concordo que a onda de lutas abertas por volta de 68 durou até 82-84 noutros locais. Mas o grande fôlego internacional foi entre 68 e 74, com grande destaque para o outono quente italiano de 69.
Não tenho clareza sobre Portugal a esse respeito. Em 75 foi derrotado o duplo poder, de forma radical nos quartéis e paulatinamente nas fábricas e bairros, mas as «conquistas» dos sectores de trabalhadores não tiveram um recuo substancial até aos anos 80. Mas é uma discussão interessante, nem a revolução é um momento mas um processo, nem a contra revolução é um momento mas um processo.
De todas as formas convém não pensar que o mundo acabou em «68» ou «75»
eu não disse que o mundo acabou… Mas que não tem nada a ver as lutas actuais com as do perÃodo que mencionei… A análise não se situa apenas ao nÃvel das conquistas mas sobretudo quem determina a polÃtica. Ora em 80-82, em Portugal, os trabalhadores estavam a defender direitos conquistados, já não estavam a lutar pela conquista do poder polÃtico, algo que acabou em 75. E mesmo ao nÃvel das conquistas, em 82 a Reforma Agrária já não só era metade do que tinha sido, como as alterações do código do trabalho desse ano só puderam ser concretizadas precisamente porque as coisas não estavam nesse patamar que defendes.
Boa ó Raquel.
Vivam as grandes lutas na Polónia nos anos 80.
Viva o wojtila e viva o walesa.
Tudo melhorou a partir da queda das tais ditaduras, dos tais socialismos que tu dizes que não havia…
Não há nada como uma boa e honesta clarificação.
Razão tinha o Barreirinhas. Vocês tanto dizem querer cremar a burguesia como logo a seguir deitam-se com ela.
Vão mas é dar uma volta ao bilhar grande.
Sejam sérios, xuxializem-se.
Muita coisa melhorou, sem dúvida alguma. Só um cego não vê.
Um extenso exercÃcio sobre lutas e conquistas sem que se saiba com segurança contra o que se deve lutar, nem saibam definir exactamente o que há-de ser alcançado quando tudo estiver conquistado.
Ao fim de 130 anos de materialismo histórico, estudos tão profundos que abismam, experiências em que milhões de vidas foram sacrificadas, as bandeiras são erguidas como se nada tivesse ainda acontecido, e as teses são dirimidas como se fosse uma ideia recém criada.
Quem com tal se contenta, com pouco se contenta!
Muito bem. Muito bem.
Dos a 80 a 2012
C L dirigiu uma firm advog q trab p compl mil-ind EUA.
O dinhei UE p moderniz agricult Polón foi desv compra aviões F16 EUA. Esse desv deu orig ao referid negóc compr F16, organizado por Chris Lag, c dirig da ref fir adv, corrupt dir FMI.
O plano de urgên Out 2011, paà eur e FMI ajud à Gréc coincid c pedid compr p Gréc aos EEA 400 tanq M1 Abrams e 20 v anfÃb AA7VA1 p 1 280 milh euros. EUA aprov venda.
Mais em http://www.anticolonial21.blogspot.com
Interessante, muito interessante o documentário que o Canal História passou hoje e repetirá 2 vezes amanhã (Segunda-feira).
Conta um dos mais vergonhosos casos de anti-semitismo na URSS. E não, não aconteceu antes da Segunda Guerra Mundial. Foi no pós-guerra. A ver.
Em janeiro de 1953, na véspera da sua morte, Estaline identificou um novo inimigo imaginário: os médicos judeus. Organizou a campanha antissemita mais violenta das que ocorreram na URSS, conhecida como “complô das batas brancas”, pela qual se acusava uma série de médicos de conspirar para matar os principais dirigentes do regime soviético. Esta quase desconhecida trama polÃtica, planeada com sucesso por Estaline, tornou os judeus os novos inimigos do povo. Expôs a extraordinária paranoia do presidente e uma compulsão por manipular quem o rodeava. Os filhos e amigos das principais vÃtimas relatam, pela primeira vez, as suas experiências angustiantes relacionadas com estes acontecimentos terrÃveis. Graças a nova documentação encontrada, o programa revela os métodos cruéis de uma conspiração maquiavélica que enfatiza o totalitarismo daquele regime.
E se o Canal História diz… é porque é verdade?
A sua melhor fonte é o Canal História? Uau, estou maravilhado…
” Gentleman says:”
Quando o Canal História passar os documentários sobre a segregação racial na América com o KKK a fazer “churrascos” impunemente na via publica de cidadãos negros inocentes, avisa-me que eu também quero ver.
Sabes quantos anos perduraram essas barbaridades depois da morte de Estaline?
A Raquel dá a impressão que prefere o capitalismo assumido que o “Socialismo de fachada” (se não é isto que pretende dizer, deve ser parecido). Nesta coisa da politica nada como ser corajoso.
Sendo assim graças aos esforços das CIA`s e do Vaticano os Polacos livraram-se do embuste, a partir daà ficaram mais livres e passaram a ter plena consciência de quem os governa. Já não vivem enganados? Passaram a comer bananas, conforme disse Soares dos Santos na Televisão.
Mas a melhor tirada da Raquel foi esta.
” Em 75 foi derrotado o duplo poder, de forma radical nos quartéis e paulatinamente nas fábricas e bairros, mas as «conquistas» dos sectores de trabalhadores não tiveram um recuo substancial até aos anos 80.”
Consegue dizer a que duplo poder se refere? Estará a referi-se ao PREC?
Talvez pretendesse que a contra revolução retirasse de uma panada todos os direitos conquistados por os trabalhadores logo em 76?
Mário Soares o pai da contra revolução, de certeza que recebeu instruções de Vernon Walters e F Carlucci, para ter paciência, saber esperar, fazer as coisas com tempo , ir esmagando as lutas dos trabalhadores por fases, fazendo uso da fome e da repressão brutal se necessário.
Como historiadora sabe perfeitamente que foi assim.
Quanto ao “radicalismo” das propostas e à s greves de um ou dois dias, parece-me incrÃvel achar que fazer uma greve é só decretar e pronto, que basta propor coisas o mais radicais possÃvel. As massas têm que acompanhar a vanguarda (que deve ir um passo – e apenas um – à frente), se esta desata a correr em frente ficará isolada e será esmagada. Saber recuar ordenadamente é tão importante que saber avançar… Mas isso digo eu que sou um «recuado» de um militante do PCP…