Na sequência dos meus últimos escritos, houve quem pensasse que sabia do embrião de partido muleta que por aà anda. Acreditem ou não: desconhecia.
Há quem me tenha chamado a atenção que será anunciado um “movimento” (cujo site ainda não funciona – por enquanto o manifesto pode ser lido apenas aqui com as etiquetas “Profecia” e “Situação Social e PolÃtica”). Gente gira e bem vestida. Anarquistas e libertários, imagino! Cheios de moderação, é certo. Uma coisa muito trendy para comunicação social ver. Anuncia-se como “esquerda livre”. Fantástico! Piscam o olho a todos os pedreiros-livres. Até tem frases que reconheço de um sÃtio qualquer “a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência”…
Fora de brincadeiras. Que vazio confrangedor. Tanta frase vã que, há anos, vejo escritas em diferentes colunas de opinião,  emaranhadas numa coisa a que alguém resolveu chamar  manifesto. Para todos os que, como eu, se irritam com o adiar da unidade de acção que PCP e BE têm de construir, estes manifestos fazem-nos perceber que tudo podia ser muito pior sem uns e outros.
Não fosse a palavra “Esquerda” e “Direita”, todos os Camilos Lourenços deste planeta não teriam qualquer pudor em subscrever este manifesto.
Aqui fica a prosa:
Portugal afunda-se, a Europa divide-se e a Esquerda assiste, atónita.
As raÃzes desta crise estão no desprezo do que é público, no desperdÃcio de recursos, no desfazer do contrato social, na desregulação dos mercados, na desorientação dos governos, na desunião europeia e na degradação da democracia.
Em Portugal e na Europa, a direita domina os governos, as instituições e boa parte do debate público. A direita concerta-se com facilidade, tem uma agenda ideológica e um programa para aplicar. A direita proclama que o estado social morreu e que os direitos, a que chamam adquiridos, são para abater.
Em Portugal e na Europa, a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência. Esta esquerda, à s vezes tão inflexÃvel entre si, acaba por deixar aberto o caminho à ofensiva reaccionária em que agora vivemos, e à qual resistimos como podemos. Resistir, contudo, não basta.
É necessário reconstruir uma República Portuguesa digna da palavra República e construir uma União Europeia digna da palavra União.
É preciso propor aos portugueses, como aos outros europeus, um horizonte mais humano de desenvolvimento, um novo caminho para a economia e um novo pacto de justiça social.
É possÃvel fazê-lo. Uma esquerda corajosa deve apresentar alternativas concretas e decisivas para romper com a austeridade e sair da crise, debatidas de forma aberta e em plataformas inovadoras.
A democracia pode vencer a crise. Mas a democracia precisa de nós.
Apelamos a todos aqueles e aquelas que se cansaram de esperar – que não esperem mais.
É a nós todos que cabe construir:
UMA ESQUERDA MAIS LIVRE, com práticas democráticas efectivas, sem dogmas nem cedências sistemáticas à direita, liberta das suas rivalidades, do sectarismo e do feudalismo polÃtico que a paralisa. Uma esquerda de cidadãos dispostos a trabalhar em conjunto para que o paÃs recupere a esperança de viver numa sociedade próspera e solidária.
UM PORTUGAL MAIS IGUAL, socialmente mais justo, que respeite o direito ao trabalho condigno e combata as injustiças e desigualdades que o tornam insustentável. Um paÃs decidido a superar a crise com uma estratégia de desenvolvimento económico e social, com uma economia que respeite as pessoas e o ambiente, numa democracia mais representativa e mais participada, com um Estado liberto dos interesses particulares que o parasitam.
UMA EUROPA MAIS FRATERNA, à altura dos ideais que a fundaram, transformada pelos seus cidadãos numa verdadeira democracia. Uma Europa apoiada na solidariedade e na coesão dos paÃses que a formam. Uma Europa que ambicione um alto nÃvel de desenvolvimento económico, social e ambiental. Uma União que faça do pleno emprego um objectivo central da sua polÃtica económica, que dê um presente digno aos seus cidadãos e um futuro promissor à s suas gerações jovens.
Fofinhos.
São uma cisão do Movimento Esperança Portugal?
Tiago, vi ontem o texto e a primeira ideia que me veio à cabeça foi exactamente esta: «Piscam o olho a todos os pedreiros-livres.» Não estou sozinha…
… pois. Também me ocorre dizer que é texto de quem tem muito tempo livre.
De quem tem um claro objectivo. A ultrapassagem pela direita é clarinha! E com a Convenção do BE marcada para Novembro só me custa ver alguma malta bem intencionada a abraçar a coisa…
Nesse discurso cabe tanto o PS como o BE e não me admirava nada de também ver o MAS metido aà no meio.
Ou talvez mais um para dar mais credibilidade pluralista e unitária à CDU, quem sabe?
anarquistas? tenha tento na lingua e veja lá se não se morde…
os anarquistas são pessoas inteligentes e o anarquismo é algo que merece respeito. se não conhece, estude. vai ver que até fica convencido…
Olhe que não, camarada… Pode estar a referir-se em termos bastante deselegantes a pessoas que se consideram suas amigas. A prudência é sempre aconselhável, antes do sectarismo.
Manuel Tiago terei, certamente, muitos amigos nesta mixórdia polÃtica. Não tenho por hábito controlar as orgias em que se metem.
Entretanto participo-lhe duas novidades:
1. Tenho amigos de direita;
2. Ainda ontem à tarde disse isto mesmo a um amigo que subscreve este manifesto.
O seu “corajoso” comentário pode ir dar uma volta ao bilhar grande.
Deve ser parecido com a “Esquerda Democrática” na Grécia que em menos de uma semana já näo se importa nada com a Troyka, se lhe derem ministérios!
fuck me!!! o KKE faz muita falta
Visto assim por alto, faz-me lembrar o “Esperança Portugal” com uma pitada de Esquerda.
Mexe tanto comigo como uma intervenção do António Seguro, e não sou dos que mede a qualidade de um texto pela quantidade de revolucionarismos chapa-cinco que contém.
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