Depois das músicas, aqui vai a minha lista de discos do ano:
20. Filho da Mãe – Palácio
Proveniente de bandas hardcore, Filho da Mãe oferece a solo algo bastante diferente: um trabalho notável de guitarra acústica, com alguma samplagem e com tanto de virtuosismo, como de emotividade.
19 – Anna Calvi – Anna Calvi
As comparações com PJ Harvey fazem sentido, mas Anna Calvi vale por si, pela garra da sua voz, pelo poder imenso das guitarra, seja nos temas mais bluesy, rock ou pop, e pela piada de ter um órgão algo religioso em música notoriamente profana.
18 – The Black Keys – El Camiño
Com a notável produção de Danger Mouse, os Black Keys conseguiram tornar o seu retro-blues mais acessível e até próximo de uma certa dimensão épica de banda rock de estádio. E fizeram-no mantendo totalmente intacta a sua identidade… é obra.
17 – Mogwai – Hardcore Will Never Die But You Will
Entre o post-rock mais melódico ou (pouco) agressivo, as explorações de ruído, as breves e melhor ou pior conseguidas incursões pela electrónica, é um disco muito eclético. Mas, acima de tudo, é mais um trabalho dos Mogwai recheado de música de grande qualidade.
16 – Fool’s Gold – Leave No Trace
Nas primeiras audições, causa estranheza ver os Fool’s Gold menos étnicos e mais próximos de uns The Drums ou The Smiths. Depois, apercebemo-nos que, quando existem, as tonalidades africanas e orientais continuam vibrantes e que o lado pop mais veraneante ou melancólico resulta em grandes canções.
15 – Lykke Li – Wounded Rhymes
A voz e o lado excessivamente frágil do primeiro disco está aqui posto de parte. Em vez disso, surge uma inesperada e imensa garra vocal e óptimos temas divididos entre a beleza das baladas ao piano e o ritmo das malhas electro-pop de cariz tão caracteristicamente sueco.
14 – Bjork – Biophilia
O lado mais etéreo dos xilofones, a fusão sempre requintada de melodia e ruído, a alternância entre a candura e a maior potência electrónica e, claro, a exploração notável da inconfundível voz… já ouvimos isto em inúmeros discos da islandesa, mas Bjork parece que consegue sempre ter o toque de magia de um primeiro álbum.
13 – EMA – Past Life Martyred Saints
O glamour negro revivalista dos 80’s não anda muito longe do que faz Zola Jesus ou Planningtorock, mas há uma maior diversidade, seja em terrenos vocais mais fortes, qual autêntica riot girl, seja numa aproximação à folk. Um belo disco de estreia.
12 – Dead Combo – Lisboa Mulata
Entre a aproximação às linguagens africanas, o blues, o fado e restante portugalidade (o grande Camané no primeiro tema cantado /declamado da carreira) e o imaginário western, os Dead Combo fazem um disco muito diverso. Mas é essencialmente um álbum que consegue ser simultaneamente cru e emotivo.
11 – Metronomy – The English Riviera
A fusão entre a electrónica deliciosa do disco anterior (tão diferente era a minha opinião há uns meses) com a pop mais solarenga e orgânica, com o baixo em franco destaque, foi uma delícia no Verão. O seu impacto prolonga-se desde aí.
10 – Kronos Quartet, Kimmo Pohjonen & Samuli Kosminen – Uniko
Brutalíssima a fusão entre o lado erudito do Kronos Quartet e a esquizofrenia criativa de Kimmo e do seu colaborador electrónico. Transformado em disco em 2011, numa previsível obra-prima.
9 – Mogwai – Earth Division
Descobri em 2011 que fazer EP’s que rompem radicalmente com a sonoridade tipo da banda (isto existe?) não é propriamente uma novidade dos Mogwai, mas talvez nunca tenham ido tão longe. Erudição extremamente melancólica, ruído e até uma balada folk em apenas 4 temas. Mas é tudo, tudo tão bom…
8 – James Blake – James Blake
Quem ouviu os primeiros EP’s de Blake, dificilmente poderia imaginar que um ano depois estaria a criar uma cover ao piano de “A Case of You” de Joni Mitchell. Pelo meio, um belíssimo disco, verdadeiramente surpreendente, entre o dub, a soul melancólica e alguma linhagem pop.
7 – PJ Harvey – Let England Shake
Depois das baladas ao piano de White Chalk, a senhora Polly Jean continuou a surpreender, com um disco folk peculiar, marcado por uma suavidade vocal maravilhosa, pelo som curioso de uma auto-harpa e pela exaltação irónica dos feitos da Grã-Bretanha natal.
6 – Bon Iver – Bon Iver
Nem a maior frieza de Volcano Choir, nem o autotune imposto pelo Kanye West, nem o lado mais soft dos Gayngs (enfim, ainda há “Beth Rest”), a evolução de Bon Iver para o formato banda tornou a música mais complexa, mas manteve toda a beleza vocal e a deliciosa melancolia invernal.
5 – Toro y Moi – Underneath The Pine
Quem viu Chaz Bundick e quem o vê… a electrónica fria e monocórdica de Causers of This foi substituída aqui por uma linguagem muito mais orgânica, com um baixo notoriamente e deliciosamente funky. E as diferenças sentem-se não só em disco, mas também ao vivo.
4 – Julianna Barwick – The Magic Place
Quase impossível não ficar encantado com os loops de voz de Julianna Barwick, manipulados de forma etérea e maravilhosa. E então quando é acrescentado um minimal, mas delicioso piano, o resultado é verdadeiramente transcendente.
3 – Real Estate – Days
Os dias dos Real Estate estão um pouquinho mais tristes, mais outonais ou pelo menos com aquela sensação de final de Verão de quem já tem saudades da estação estival. Mas, acima de tudo, com guitarras divinais, este é um disco constituído por verdadeiras elegias pop.
2 – Nicolas Jaar – Space Is Only Noise
Uma grande surpresa e um dos mais fabulosos discos de electrónica dos últimos anos… para quem não gosta de electrónica (pelo menos da minimal). Temas requintados, com instrumentos como guitarra, piano e violino e que alternam deliciosamente entre a melancolia, um lado mais ambiental ou um carácter dançável. E que consegue, ao mesmo tempo, ser notoriamente coeso, um verdadeiro statement musical.
1 – M83 – Hurry Up We’re Dreaming
O grande single “Midnight City” deixou a pista, o resto do disco compôs a cena: entre o lado mais estratosférico e muito, muito bonito (ex: “Splendor”), os sintetizadores mais eufóricos (ex: “New Map”), algumas experiências mais deliciosamente inqualificáveis (“Raconte-Moi Une Histoire”) ou os incríveis interlúdios, que ajudam a dar corpo ao disco. Um álbum duplo, muito arrojado, marcado pela produção imaculada do Sr. Gonzalez… é o disco do ano.
Para além deste top-20, fica também um conjunto de 20 menções honrosas, apresentadas por ordem alfabética:
Active Child – You Are All I See
Atlas Sound – Parallax
Battles – Gross Drop
Bill Wells & Aidan Moffat – Everything’s Getting Older
Cass McCombs – Wit’s End
Fleet Foxes – Helplessness Blues
Jonathan Wilson – Gentle Spirit
Kurt Vile – Smoke Ring For My Halo
Panda Bear – Tomboy
Robag Whrume – Thora Vukk
Sérgio Godinho – Mútuo Consentimento
The Horrors – Skying
The Rapture – In The Grace of Your Love
The Sea and Cake – The Moonlight Butterfly
The War On Drugs – Slave Ambient
Trio Joubran – Asfar
Veronica Falls – Veronica Falls
Vieux Farka Toure – The Secret
Yann Tiersen – Skyline
You Can’t Win Charlie Brown – Chromatic
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