Por breves momentos, ignoremos os motivos do tão súbito quanto efémero interesse de Papandreou em devolver a palavra ao povo e a vergonhosa retaliação dos donos da Europa.
Uma das coisas mais impressionantes dos últimos dias foram as reacções dos principais actores polÃticos gregos perante a hipótese de referendo. Boa parte dos deputados da maioria governamental não hesitaram em retirar o tapete ao seu lÃder, deixando claro que a sua acção polÃtica não se enraÃza no desejo de representação do povo, nem mesmo, na solidariedade partidária. Ao mÃnimo espirro dos mercados, os seus zelosos representantes, procuraram evitar a constipação dos interesses financeiros, ainda que sobre o cadáver do povo. Liderados pela sinistra figura do actual ministro das finanças – indivÃduo com um historial polÃtico pouco recomendável no que toca a defesa do interesse público – promoveram um autêntico levantamento de rancho contra a auscultação popular.
No momento em que o PS anuncia o seu apoio ao OE2012, cobardemente encavalitado numa abstenção, há que perceber que esta decisão também não é motivada pelo “superior interesse nacional” ou pelo desejo de representação do povo. Não é demais repetir que todos os estudos de opinião realizados revelam que uma esmagadora maioria da população está contra a operação de sangramento da economia em curso. É bom que não nos esqueçamos desta abstenção quando ouvirmos discursos vagos sobre a aproximação do eleito ao eleitor ou quando pulularem, em ambiente pré-eleitoral, discursos indignados contra a referida terapia medieval.
Isto, claro, se os mercados ainda não tiverem proibido toda e qualquer eleição em paÃses sob intervenção externa.
Ontem no i
Estão contra, mas continuam a dizer que votam no Governo actual.
Há aqui algo que falha e não é apenas a acção das oposições de esquerda, que nem se vêem, tirando nos blogues.
parlamentarismo burguês?
A perigosa concepção do Estado acima das classes!
Enquanto por cá, em 2009 — ano em que a crise estava instaladÃssima — o PS irresponsavelmente distribuÃa aumentos de 3% aos funcionários públicos, o governo irlandês punha em prática uma polÃtica de austeridade que em nada fica atrás da que, 2 anos depois, o nosso governo PSD tem anunciado.
Algumas medidas que foram tomadas na Irlanda em 2009:
– Redução até 10% no salário dos funcionários públicos
– Corte em 16400 funcionários públicos (estima-se que até 21 mil mais postos de trabalho no Estado sejam eliminados até 2014)
Brutal.
O crescimento económico ressentiu-se:
– 2008: -1.7%
– 2009: -7.1%
– 2010: -1.0%
Porém, com base nos dados mensais até Setembro, a previsão para este ano, 2011, será de 3%. Um recorde na zona euro.
Ou seja, quando todos dizem que a austeridade leva a uma recessão duradoura, convém também mostrar o contra-exemplo irlandês.