Quando chegou ao Ministério da Cultura, foi aclamado internacionalmente como o sucessor de Nana Mouskouri. Mas não deixou de fazer exigências: queria ter tempo para continuar a fazer as suas digressões e dar os seus espectáculos mundo fora. Pior: não queria “perder dinheiro” por ser ministro. Era essa a justificação oficial.
Lula mesmo assim aceitou, e o Brasil passou então a ter o “ministro cantor”.
Eu não estou em condições de julgar o seu trabalho enquanto ministro, e nem é esse o meu objectivo neste texto. É claro que era engraçado e original o Brasil ter um ministro que de dia tinha reuniões políticas e à noite actuava em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, ou em Paris, na Praça da Bastilha. Mas também era agradável para o cantor em questão ser reconhecido como “o ministro”, e seguramente tal não o tornou menos famoso. Nem as iniciativas dentro e fora do Brasil por si patrocinadas. Posso testemunhar as iniciativas associadas ao “ano do Brasil em França “ (2005): o seu nome aparecia em maiúsculas, sempre em lugar de destaque (e sem nenhuma comunicação ou outro motivo que o justificasse). Não bastava a referência às entidades em abstracto (neste caso o Ministério da Cultura): nunca faltava o “Ministro da Cultura – Gilberto Gil”.
Ficou famosa uma greve prolongada dos funcionários do seu ministério (que praticamente o parou) a exigirem melhores salários. Gil não demonstrou nenhuma solidariedade para com o ministro das Finanças, seu colega no governo: preferiu refugiar-se em mais uma digressão pelo estrangeiro e dizer que nada sabia nem tinha a ver com o assunto.
Podem ter-se visto muitos resultados desta passagem de Gil pelo Ministério da Cultura do Brasil; para além do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (que é justo destacar), já disse que não sei. Sei o que nunca se viu (pelo menos que eu tenha dado por isso): um ministro com sentido de Estado, sentido de dever, ética republicana, espírito de missão. Gil sempre se achou mais importante que o país ou o seu ministério. Por “dificuldades para conciliar as atribuições oficiais do cargo de ministro da Cultura com a sua carreira artística”, Gilberto Gil já não é ministro da Cultura do Brasil. E o Rio de Janeiro continua lindo.
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