1. Prezada Constança Cunha e Sá: havia sempre uns coleguinhas na sala de aula tão bem-comportados que só atiravam bolas de papel quando o professor estava de costas. Isto na minha turma apenas, é claro.
Mas lembrei-me desses colegas quando li a sua crónica de passada sexta-feira. Nela pega em excertos de texto meu, faz o que tem a fazer (e eu não me queixo) mas sempre com o cuidado de não dizer a proveniência. Entrar em diálogo franco, isso é que não nem nunca! — não vá o leitor à fonte para entender. Não dizer nomes é que fica bem e é mais português.
Falta-me essa diplomacia. Presumo que as pessoas lêem jornais para saber coisas. Coisas por vezes simples, como “de quem se está a falar”. Outras pessoas — como a Constança — preferem deixar o leitor numa neblina de dissimulações. Na minha opinião, é um desagradável tique de outro tempo e de outro país.
2. Prezado Bispo Carlos Azevedo: em Outubro do ano passado pedi-lhe que explicasse porque induzira deliberadamente em erro o público no caso da assistência religiosa hospitalar. Desde então não houve direito a esse esclarecimento.
Passámos uns meses sem notícias suas, mas agora a imprensa faz eco do seu pedido ao Primeiro-ministro para que controle o laicismo de alguns membros do PS, sugerindo-lhe “uma vigilância coordenadora” por causa de uns zunzuns sobre acabar com o divórcio litigioso (a que, sejamos justos, o PS chegou com um ano de atraso sobre o BE).
Estamos — deixa lá ver o calendário — em 2008 e eu também não esperava de ainda ter de dizer isto: duas pessoas só devem continuar casadas se as duas o quiserem. Menos esperava ter de discutir o casamento civil com um bispo da Igreja Católica, cujos casamentos têm as suas leis próprias para quem as deseje seguir. Mas o que não me passa mesmo pela cabeça é pedir ao Cardeal que exerça uma “vigilância coordenadora” sobre o catolicismo do Bispo para eu não ser forçado a ter de debater isto com ele.
3. Prezado José Pacheco Pereira: a primeira parte da sua revisitação ao Iraque, com tantas queixas acerca da turba anti-guerra, gerou curiosidade pelo que na segunda parte se diria sobre as “mentiras” (entre aspas) da Guerra do Iraque.
Afinal o que veio foi uma teorização sobre a “mentira”, e qual é a importância disso uma vez que todos mentem, e a conclusão de que “a convicção de que havia armas de destruição maciça não era mentira”.
Não pergunto, se a convicção era tão grande, por que o memorando de Downing Street revela que “os factos iam ser amanhados para justificar a política” quase um ano antes da invasão. Nem para que foram então os cépticos acusados de apoiarem Saddam, isto para não falar dos que foram chantageados, como descreve o embaixador do Chile à ONU num novo livro, ou que sofreram retaliações e pressões como nos casos Valerie Plame e David Kelly — tudo de forma pouco turbulenta, suponho eu.
Pergunto-me apenas se a convicção não era mesmo mentira, ou se esta é apenas a sua convicção sobre a convicção dos outros. Adicionalmente: a sua teoria é absurda ou deixa de ser absurda por nos querer convencer dela?
Assina-se, com o devido respeitinho, um elemento da turba.
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