Já repararam nas amplas avenidas escoltadas por palmeiras que irromperam algures em Xabregas? Já deram pelo Silicon Valley que medra florescente pelo Alentejo afora? E já temos direito a um líder hollywoodesco e musculoso, assim tipo o Arnie dos californianos? Não? Estranho. Então se a grandiosa campanha “Portugal: Europe’s West Coast” já está no ar… os efeitos deviam estar bem à mostra, omnipresentes, esmagadores, rutilantes.
Esta campanha espelha às mil maravilhas um estilo de governar bem nosso conhecido: urge é inventar siglas, acrónimos, frases que encerrem um propósito de dinamismo, que nos dêem a ideia de que as coisas mexem, mesmo que a pasmaceira real teime em permanecer. Portugal é a pátria de acolhimento de uma horda de miríficos animais exóticos, do calibre de um “Plano Tecnológico”, de uma “e-escola” e muitos outros. Entes mitológicos desenhados para projectar espectaculares sombras nos fundos da nossa caverna esquálida, animando o palonço, deslumbrando o tonto e banhando o decisor numa aura de taumaturgo imparável.
Aliás, o nosso Primeiro parece ter por fim encontrado um guru mesmo à sua imagem.
O publicitário Pedro Bidarra andava há anos a tentar vender uma suposta “grande ideia” que teve um dia: fazer Portugal “sair do Sul” e emigrar para o West. O imaginário do Orange County, dos Cowboys, das donzelas patinadoras ziguezagueando entre as palmeiras… tudo isto vai agora trabalhar em nosso favor. Criando, segundo o guru, “uma poderosíssima rede de associações que induzirá o estrangeiro a reavaliar o país”. Mas como é que um pensador assim ainda não tem um ou dois ministérios a seu cargo? Sul é pobre, West é showbizz, lantejoulas, o “Pugresso”, enfim. Basta associarmo-nos a uma ideia supostamente residente na cabeça de todos — que “West Coast” é coisa fixe — para que todos nos vejam através de rosados óculos de Sol DKNY.
Conseguimos passar para a cauda do pelotão sulista? Não faz mal, pois vamos berrar que agora somos a Califórnia da Europa. O país continua a mesma choldra exótica dos últimos 20 anos? No problemo: fazemos de conta que somos uma espécie de Disneylândia peninsular.
A campanha está aí, estranhamente veiculada para que o portuga também dê pela inopinada mudança: umas fotos de artista estrangeiro misturando paisagens, caras mais ou menos (nossas) conhecidas e gajas boas, anunciando a fuga do famélico Sul para o deslumbrante West.
Em breve, devemos começar a discutir uma outra iluminação do guru: mudar a bandeira portuguesa. A que temos parece, de acordo com o guru, coisa “africana”; mudá-la para um design mais cosmopolita será meio caminho andado para chegarmos ao Futuro.
Eis o pensamento publicitário em todo o seu duvidoso esplendor: para ter um grande e vendável produto, não é mesmo preciso torná-lo melhor, pois isso são coisas complicadas e fora do alcance de mentes formatadas pelos templates do Power Point. Basta fazer um novo logótipo, um slogan “impactante” para o acompanhar e voilá: a realidade não tardará em seguir o desígnio dos “criativos”. Música para os exigentes ouvidos do nosso Primeiro, claro.
Um dia, vamos é acordar a viver numa espécie de Second Life dos pobres; lindos de morrer nos anúncios, burros e feios como sempre no implacável espelho da vida a sério.
novo cinco dias
acesso ao novo 5dias.net.- COLA O TEU CARTAZ, ACTIVISTA! 1. Imprime o cartaz. 2. Cola-o no local de trabalho, na escola, na mercearia, no café, na rua, onde te apetecer. 3. Fotografa-te, com os vizinhos, os amigos, o teu cão, junto do teu cartaz. 4. Envia-nos a foto para a página do Manifesto em Defesa da Cultura no Facebook e será publicada.
-
Comentários
- Raquel Varela em Bloco de Esquerda, os cães e as crianças
- Raquel Varela em O Cão de Hitler
- coronel tata em O Cão de Hitler
- Raquel Varela em O Cão de Hitler
Autores
- André Levy
- António Figueira
- António Mira
- António Paço
- bicyclemark
- Bruno Carvalho
- Bruno Peixe
- Carlos Guedes
- Carlos Vidal
- Cláudia Silva
- Eugénio Rosa
- o engenheiro
- Francisco Furtado
- Helena Borges
- João Labrincha
- Jorge Mateus
- José Borges Reis
- João Torgal
- João Valente de Aguiar
- Joana Manuel
- Manuel Gusmão
- Margarida Santos
- Miguel Carranca
- Morgada de V.
- Nuno Ramos de Almeida
- Paulo Granjo
- Paulo Jorge Vieira
- Pedro Ferreira
- Pedro Penilo
- Rafael Fortes
- Raquel Freire
- Raquel Varela
- Renato Teixeira
- Ricardo Santos Pinto
- Sérgio Vitorino
- Tiago Mota Saraiva
- zenuno
tags
15O 19M bloco de esquerda Blogues CGTP Constituição da República Portuguesa cultura democracia desemprego educação eleições Esquerda EUA Europa FMI greek riot greve geral grécia Guerra-ao-terrorismo humor i intifada mundial irão israel jornalismo liberdade Lisboa luta dos trabalhadores media música NATO new kid in the blog... Palestina parque escolar pcp Portugal presidenciais 2010 presidenciais 2011 PS psd repressão policial Revolução Magrebina Sócrates Vídeo youtubearquivo
- Julho 2013
- Janeiro 2013
- Dezembro 2012
- Novembro 2012
- Outubro 2012
- Setembro 2012
- Agosto 2012
- Julho 2012
- Junho 2012
- Maio 2012
- Abril 2012
- Março 2012
- Fevereiro 2012
- Janeiro 2012
- Dezembro 2011
- Novembro 2011
- Outubro 2011
- Setembro 2011
- Agosto 2011
- Julho 2011
- Junho 2011
- Maio 2011
- Abril 2011
- Março 2011
- Fevereiro 2011
- Janeiro 2011
- Dezembro 2010
- Novembro 2010
- Outubro 2010
- Setembro 2010
- Agosto 2010
- Julho 2010
- Junho 2010
- Maio 2010
- Abril 2010
- Março 2010
- Fevereiro 2010
- Janeiro 2010
- Dezembro 2009
- Novembro 2009
- Outubro 2009
- Setembro 2009
- Agosto 2009
- Julho 2009
- Junho 2009
- Maio 2009
- Abril 2009
- Março 2009
- Fevereiro 2009
- Janeiro 2009
- Dezembro 2008
- Novembro 2008
- Outubro 2008
- Setembro 2008
- Agosto 2008
- Julho 2008
- Junho 2008
- Maio 2008
- Abril 2008
- Março 2008
- Fevereiro 2008
- Janeiro 2008
- Dezembro 2007
- Novembro 2007
- Outubro 2007
- Setembro 2007
- Agosto 2007
- Julho 2007
- Junho 2007
- Maio 2007
- Abril 2007
- Março 2007
- Fevereiro 2007
- Janeiro 2007
- Dezembro 2006
- Novembro 2006
- Outubro 2006
- Setembro 2006
8 Responses to Luís Rainha: A bússola dourada do engenheiro