Verão de 2007, almoço tardio nas pizzas junto ao rio com o J., antigo colega de trabalho que eu não via há um ano. Questão de saber o quoi de neuf da vida dele, perguntei-lhe pela “sócia” – uma que ele me tinha dito que vivia com ele na última vez que o vi. Mas em coisas de mulherio, o J. é um tipo perigoso (this man is dangerous, faz lembrar o Lemmy Caution) e parecia que a dita sócia já era passado. Fez queixas várias dela, as mais até razoáveis, mas sobretudo disse-me isto: que a gaja, que objectivamente vistas as coisas estava, como diria um nosso ex-colega, o horrível P., na sua sociologia aproximativa, “abaixo” dele na escala social, era – paradoxo aparente – extremamente rigorosa com a observância dos preceitos sociais mais insignificantes ou de pura forma, to a point where he was totally fed up with her tiring rustic manners. – Se eu me apetecer agora tirar o tomate que está aí no teu prato com a mão (NB: um pequeno e gracioso tomatinho-cereja), eu tiro e tu estás-te nas tintas, mas ela não, começava logo a dizer que isso não se faz, e o caraças. – Pois é, disse-lhe eu, partindo do particular para o geral: é característica do arrivismo social uma observância puramente dogmática das boas-maneiras, os parvenus têm consabidamente o zelo dos neófitos, respeitam a forma sem nunca perceberem o fundo; porque no fundo, é um privilégio de grand seigneur tirar os tomates todos dos pratos que lhe apetecer, e como lhe apetecer, e ninguém com isso; dizer um bonito palavrão pode ser uma elegância (os lordes ingleses que o digam, com a sua proverbial inclinação pela escatologia) e até un joli petit pet bem soltado pode, em casos limite, assinalar um luxo ou uma distinção, mas os saloios nunca sabem dar a volta ao texto. O nosso P., por exemplo (lembras-te do animal?), julgava que era très féodale (é, é da “Cartilha do Marialva”…) mas nunca há-de passar de um valete de paus: queres ouvir uma dele? Como a pergunta era só retórica, contei-lhe, acto contínuo, que, quando uma vez o nosso Director-Geral de Londres tinha vindo visitar-nos, o Director de Operações em Portugal me perguntou se a “Directora-Geral” também vinha, e eu respondi-lhe que a Secretária do DG me tinha informado que a “esposa” não viria; então não é que o pobre P. me tenta explicar, todo contente com ele próprio, que era “mulher” e não “esposa” que se dizia, que isso era “possidónio”?!… E eu acho que se tivesse dito a “patroa” ainda assim a besta havia de se ter posto aos coices e julgado que eu tinha dito aquilo sans bien peser mes mots! Como dizia uma pessoa que eu conheço, aquele menino parecia desconhecer que “possidónio”, às vezes, pode ser uma das palavras mais “possidónias” da língua portuguesa, se assim me posso exprimir.
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