O «nosso» Nuno Ramos de Almeida escrevia na Focus da passada quinta-feira sobre a saída de Paulo Teixeira Pinto da presidência executiva do BCP, designando a vitoriosa investida de Jardim Gonçalves e seus pares como demonstração de que «grande parte das elites nacionais tem a síndroma da Rainha Vitória: a governante inglesa durou tanto tempo no poder que o trono ia só passando para o neto». E colocou a questão – tal como feito por Francisco Sarsfield Cabral, na Visão – de saber até que ponto esta síndrome não deixará «apeada da área de decisão toda uma geração de gestores». Eis a questão: o universo empresarial também precisa de «renovação»? Ou a «renovação» será apenas essencial e essência dos partidos políticos, dos cargos políticos, das instituições políticas? Ou, pelo menos, apanágio discursivo desta «classe»?
Do lado dos gestores deste «Banco de gestores» – na medida em que foram estes profissionais os seus pais fundadores – a geração «Compromisso Portugal» saiu perdedora. Este «embrião de Think tank» (a expressão é dos próprios, no site respectivo), conta com Filipe de Botton, Diogo Vaz Guedes, João Pereira Coutinho e João Vieira da Silva na Comissão Promotora. Os três primeiros são accionistas do BCP, tendo integrado o grupo dos «Sete Magníficos» apoiantes de Paulo Teixeira Pinto (juntamente com Manuel Fino, Bernardo Moniz da Maia, Vasco Pessanha e Joe Berardo). O último teve um papel de destaque no processo de Assembleias-Gerais e recriadas Assembleias-Gerais, enquanto advogado e representante de accionistas. No próprio Conselho de Administração Executivo do BCP, António Castro Henriques e Francisco Lacerda, vogais que se posicionaram no lado da «barricada» de Teixeira Pinto e que agora viram os seus pelouros esvaziados por Filipe Pinhal, têm o perfil etário, académico e profissional da geração «Compromisso Portugal».
Mas que geração é esta? O que quero eu dizer com «Geração Compromisso Portugal»? A expressão não traduz qualquer sentimento pejorativo. Estes gestores estão na casa dos quarenta, têm uma formação académica de excelência – tipicamente, licenciatura em Organização e Gestão de Empresas na Universidade Católica, com formação pós-graduada em instituições estrangeiras de prestígio, para conclusão de MBA –, viveram e vivem experiências profissionais e empresariais de sucesso. Têm experiência e êxito e «juventude empresarial». Da gestão devem passar – a maioria passou, já – à decisão. E da decisão à «grande área de decisão».
Ora, a geração de Jardim Gonçalves passou uma rasteira a esta geração «Compromisso Portugal». A perpetuação na liderança do maior banco privado português, após uma guerrilha que cedo se tornou sonora e depois de uma vitória que quis expressiva – o anúncio público da sucessão de Filipe Pinhal a Teixeira Pinto aconteceu no Tagus Park, noutro concelho que não o da sede e casa do Conselho de Administração Executivo; Filipe Pinhal é dos seus – são sintomáticos da tal «síndrome de Vitória».
Na verdade, é traço de personalidade lusitana esta falta de propensão para a descentralização etária. Ou mesmo para a descentralização. Apesar de simbolizarem na perfeição a ideia de que no governo do país (politica e economicamente) se perpetuam as mesmas famílias de sempre, ou talvez por isso, o afastamento compulsivo da «grande área de decisão», ou o seu adiamento «sine die», foi um golpe consistente nas aspirações desta geração seguinte. Legítimas, a meu ver. Pecar por sucesso e meia idade é muito distinto do pecado habitualmente imputado às gerações mais recentes, da inexperiência e juventude.
Vitória, Rainha do Reino Unido, perpetuou-se no trono por longos – os mais longos da história do Reino – sessenta e três anos. Mas ao menos foi notícia pela real inovação de casar por amor. Da nossa elite gestionária, vitimada pela síndrome vitoriana, nem bom vento, nem bom casamento, como a Espanha – aquela de quem temos de preservar os centros de decisão nacionais… Assim deve estar a pensar a geração «Compromisso Portugal», que já desenvolveu contactos para continuar o seu caminho. É justo. Porque, escreveu o Nuno e bem (já que comecei com as palavras do Nuno, com elas termino), «as nossas elites são competentíssimas a garantir a sua permanência, mas ineficientes a promoverem a mudança».
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