Tal como já tinha ocorrido no Brasil, em Angola e na China, nesta visita oficial de Sócrates à Rússia, lá circulou o jogging. Ontem, a segurança moscovita encerrou a Praça Vermelha para que o Primeiro-ministro português performasse a sua joggada. Face aos acontecimentos relativos à s medidas de segurança, que se verificaram desde o primeior dia desta deslocação, a polÃcia russa foi especialmente arregimentada. Mas para Sócrates foram só 30 minutos de produção das glândulas sudorÃparas.
Um velho cauto e manso médico, volta e meia cruzava-se com um familiar meu no regresso do ténis. Observa-o fardado, com bandas no pulso a prevenir lesões, afogueado e estafado. Um dia o senhor doutor pigarreou: “Ah….vejo que faz muito desporto. Deve ter muita saúde, para andar por aà a desbaratá-laâ€. Mal sabia o antigo (ou talvez não) que o corpo passou a ser estatuto e o principal sugadouro narcÃsico. Que vivemos na era da somatização. Não, Sócrates não é o único governante a utilizar a contemporânea obsessão pela forma como (é triste, mas aqui vai) propaganda polÃtica. Bush e Sarkozy (nem mencionando o famoso mergulho de Marcelo no Tejo), por exemplo, também praticam o “pernas para que vos queroâ€. Escusado será dizer que esta coisa, de espontâneo, tem raspas. Caso contrário, a comunicação social podia ficar a esticar as pernas.
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Na China a grande marcha tornou-se num espectáculo ainda mais burlesco porque o senhor-quase-engenheiro-quase-desportista (portanto, quase Ãdolo), depois de se ter apressado em Pequim abaixo de zero (qual demonstração suplementar da capacidade sacrificial da carne), envergou em Macau uma camisola com a marca de um pronto-a-vestir-pronto-a-despir. Bem escarrapachada nos peitorais. Na altura, alguns “especialistas†no artifÃcio consideraram esta situação como uma falha dos assessores, já que uma pessoa com este cargo nunca não pode vender marcas. Errado. Alguém que é PM deverá ter cabeça suficiente (e não só gâmbias) para concluir sozinho que não é uma sublime ideia feirar ferretes. À borla (dou de barato que não houve patrocÃnio). Como dizia um desses senhores “O que choca é que entra no limite do bom senso porque estamos a falar de uma viagem oficialâ€. E aproveitava para indagar: “Por que é que o Papa não pode usar sapatos X se são bons, confortáveis e ainda por cima italianos?â€. (Boa pergunta até porque, como é do conhecimento geral, o Papa tem milhares de indumentárias faustosamente ornamentadas, algumas concebidas, para gáudio tacanho de alguns, por uma estilista de origem portuguesa. Adiante. Isso agora é outra história que só concorre em comicidade com aquele memorável cortejo de trajes para padres, bispos e quejandos no Roma de Fellini.)
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Claro que a marca garrida por Sócrates regozijou-se com esse momento de democracia musculada. A responsável da dita defendeu até que “o acaso†é sinal de que José Sócrates tem uma vida saudável. Ora bem.
Houve uma outra parte desta história menos badalada, ainda quem muito linda: o aquecimento (certamente menos necessário que em Pequim), acompanhado por um forte dispositivo policial, esteve sob as ordens de um professor que também coordenava os estudantes da Escola Portuguesa (como se pode lêr no site oficial).  No final do treino, o primeiro-ministro pediu desculpas por lhes ter “estragado a manhã de sábado” já que, para compor a comitiva, os alunos foram convocados para as sete da manhã. Pimpão. Os joggers, habitualmente, andam sozinhos e até isolados com auscultadores. Alguns escolhem marginais e ruas muitÃssimo poluÃdas, e não “ar puroâ€, como seria de esperar se o motivo fosse a saúde. Mas é de ostentação que se trata. Logo é necessário público, muita gente como a que passa nas grandes avenidas. Contudo, Sócrates não corre sozinho. E, como ilustra a história dos colegiais (fora os ministros que lá colaboram conforme o cardÃaco lhes consente), não é apenas a polÃcia que o acompanha. Sócrates vai em jeito de treino militar porque a imagem de um homem sozinho, não passará. Mas essa é a única diferença. O PM também dá show como os joggers-do-tubo-de-escape. Os cenários são bem escolhidos (Calçadão do Rio, Marginal de Luanda, Parque de Beihai), a televisão regista e o público multiplica-se. Tudo tão maravilhosamente orquestrado que nem se percebe como foi possÃvel o lapso da marca da camisola.
É evidente que o Primeiro-Ministro pretende passar uma imagem “cá dentro†e outra “lá foraâ€. Trata-se de um exercÃcio de força, de uma mostra de vigor, concreta e metaforicamente. Num paÃs que, quando comparado com os EUA, é cordeiro no que toca à obcecação pelo ginásio, existir um Sócrates que pompeia a sua capacidade fÃsica não é dar o exemplo. É de fazer inveja. Especialmente à imensa maioria que se inscreve nestes pavilhões do suor (que crescem como cogumelos na tal humidade) e desistem ao fim dos três primeiros meses (infelizmente não sem um leve travo a culpa mas, na verdade, numa restituição da sua sanidade mental). Já para não falar do luso pÃcnico para o qual o deslumbramento pelos gémeos de Sócrates pode dar uma sensação parecida à do dopping.
Não chegaria ao ponto de afirmar que é a correria matutina que explica a misteriosa divergência descontentamento/boas sondagens. Mas pode ser muleta (não, não pretendo recordar nenhum antigo entorse). Outros dos supra-citados “peritos†consideram que ” jogging em Angola foi mais eficaz do que 30 discursos ou 20 conversas institucionais“. Confesso que a parte que mais gosto desta escultural análise é quando se diz que â€o governante também transmite a imagem de que não engordou no primeiro ano de poder”. Gordos é que não. Tudo menos isso. Ainda por cima dá direito a discriminação.
Lá fora, o PM tenta combater, qual ALLgarve, o postal do portugalzinho atardado e patego.
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Só tenta. Para quem tem dois de testa, mais do um palminho de cara e não necessariamente perna longa, o provincianismo deste adestramento é pé-chato. E Sócrates consegue ainda um outro efeito. Esta sua maratona do em-grande-forma obriga os Estados calcorreados a trancar ruas, aferrolhar praças, avisar as populações (ora aà está uma boa maneira dos russos ouvirem falar de Portugal), mobilizar forças policiais e dinheiro. O anfitrião vê-se no dever de atender à s cismas do seu hóspede. Um capricho é um capricho e muitos banqueteadores cedem, solicitamente, à s madames castafiores deste mundo. O paÃs visitado obedece e subjuga-se. Para uma nação com uma polÃtica externa tão tÃsica como a nossa, afinal, Sócrates tem razão. É o máximo de exibição de músculo que Portugal pode dar. E ainda bem.
Boas tardes. Imaginemos que o presidente da Rússia vinha a Portugal e desejava dar umas voltitas na Praça do Comércio. Seria bonito de ver a Praça esvaziada e os popularuchos à espera que S. Exa. suasse a camisola.
Já não há pachorra para tanta baboseira. Fiquem bem.
“Não, Sócrates não é o único governante a utilizar a contemporânea obsessão pela forma como (é triste, mas aqui vai) propaganda polÃtica. Bush e Sarkozy (nem mencionando o famoso mergulho de Marcelo no Tejo), por exemplo, também praticam o “pernas para que vos queroâ€.”
Cara Joana,
Nao digo que nao haja politicos que utilizem certos meios, nomeadamente algo da sua vida privada, com intuitos publicos. Confesso que tenho alguma dificuldade em dai extrapolar que *qualquer* politico que faca exercicio – privada ou publicamente – o faca necessariamente por motivos politicos. Por exemplo, nao creio que Bush faca mais ou menos exercicio por causa de motivos politicos. Segundo cosnta, e’ um fanatico do exercicio fisico e do jogging. Como e’ Haider (nao sei se esta’ bem escrito), o tipo da extrema-direita austriaca, ou ainda o senhor que esta’ ‘a frente do Irao. Alias, repare que ha’ uma certa contradicao em acusar alguem de narcisismo e depois imputar necessariamente determinado comportamento a uma jogada politica.
Marcelo e’ um mau exemplo, creio, porque o mergulho no Tejo foi dado como “prova de amor” ao rio, que muitos acusavam de estar extremamente poluido. Nao foi propriamente para mostrar que era um atleta. Um mergulho qualquer um da’. De resto, e’ conhecido (ou pelo menos largamente publicitado) que Marcelo nada muito no Guincho (o que, de longe, nao faz dele propriamente um atleta, mas isso era outra conversa).
Quanto a Socrates, nao duvido que o homem goste mesmo de correr, e que nao tenha muito tempo em Portugal para o fazer. Tambem nao digo que a mania de ir correr quando vai ao estrangeiro nao tenha alguma motivacao politica. Seguro e’ que nao e’ de grande bom senso ir correr na Praca Vermelha quando isso leva ‘as medidas de seguranca que tiveram de ser tomadas. E’ uma demonstracao de forca – e de sentido de que ha’ um direito a ser privilegiado – um pouco ridicula e sinal da nossa pequenez.
Quanto ‘a estetica, convenhamos que nenhuma imagem de Jose Socrates a correr o favorece. O homem e’ raquitico, tem um corpo desproporcional e uma barriga enorme. Fica bem de fato, por acaso da natureza (quer por ser homem, quer por ser um tipo de homem capaz de acumular gordura na zona abdominal, que nao se reflecte muito na cara e no pescoco) e porque “veste bem”. Quanto a qualidades atleticas do nosso PM, sao pouco mais que uma nulidade (embora maiores que a media portuguesa, e’ certo). Correr 20 ou 30 minutos de vez em quando nao da’ direito a muito neste campo, mas claro que isso e’ irrelevante como comentario ao seu post.
O porque de gaudio tacanho ser uma estilista portuguesa a desenhar certas indumentarias do papa? porque?
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Não sei por que, mas cheiro uma ponta de inveja pela forma fÃsica do sr. PM. Quanto a barriga do “engenheiro”, já as tenho visto muito, muitÃssimo, maiores.
Joana, este post foi escrito sobre o joelho, está cheio de gralhas e palavras em falta e frases mal escritas. Tens que ter mais cuidado, mulher, isto aqui o Cinco Dias tem serviços mÃnimos a cumprir, mesmo em dia de Greve Geral.
ABJECÇÃO…
Quando, na prosa, se fala do “senhor-quase-engenheiro-quase desportista” – o mÃnimo que o leitor pode pensar é que a autora, visto isso professora universitária e assim educadora de élites, resolveu discorrer ao nÃvel da fossa!
Não será possÃvel elevar o nÃvel?
Não será possÃvel discordar, rebater ou criticar sem recurso ao acinte?
É isto a intelectualidade nacional do presente e do futuro?…
Exma. desculpe o despropósito…mas…Não se importa de me ajudar neste dilema?
http://absolutamenteninguem.blogspot.com/2007/05/as-damas-1.html
Que PM pindérico! Recomendar-lhe-ia a estafeta Gulag com 50 kilos de pedregulho dos balcãs à s costas. Só para lhe dar uma corzinha, um cor de rosa acinzentado. Ou então a maratona trans-siberiana (até Vladivostock) para ver se ele&comitiva (ena, cosmopolita e tudo) se ausentam por um perÃodo prolongado. Sr Mendes, em média os polÃticos e futuros politiqueiros são medianamente mediocres. Mas só “em média.” Atenção!!! Gostei muito dos seus comentários acerca do atleticismo do vosso PM. Detalhe. Meticuloso: barriga, proporcionalidade, cores, a dicotomia do com-fato/sem fato, uma pérola!…e que tal todos a joggarem NÚS…na taiga siberiana, entre tigres, ursos, trutas e muita Wodka. O Marcelo no tejo. Agora percebi, finalmente, o que está a fazer mal á peixeirada. Sr Lavoura, que falta de educação, sinceramente. Chega aqui e começa a corrigir os erros da Joana. Vai levar tau-tau das meninas. Eu, sendo da velha direita autoritária (pela força do mérito, este é o nosso leitmotiv), defendo um feminismo musculado: castrava-lhe já! Cuidado senão entra-lhe um homem-toupeira pelo autoclismo (podia ser o Jean Reno) e dá-se um cataclismo Baudrillardienne…dá-se um sequestro, o sequestro da realidade!(não tarda muito e pensa que está na sibéria, vestido com uns tutus cor de rosa, JOGGING) Não diga asneiras Sr. Lavoura. Greve geral? Pois, pois, era tudo para a rua…Trabalham pouco, mal e ainda por cima GREVES…onde é que já se viu uma monstrosidade destas?
🙂
“Tens que ter mais cuidado, MULHER…”
Joana, cuidado com estes lobinhos disfarçados de pc´s…
Venho a este blog com gosto.
E com mais gosto saio depois de ler os coments de Julia W
Julia w n tem um blog? porque n cria um seu?
De alguém que não a grama, nem à lei da bala, digo:
Texto sublime! Os mais sinceros Parabéns.
Caro/a JPF
My, my, miauuuuu… nunca fui elogiada (assim) na minha vida (modéstia é o meu forte).
nunca tive, ou vou ter, um blog…mas gosto destes (vide in clausura)…não tenho porque a vida cibermediática é irremediavelmente monotónica, assim como Schubert num dia de chuva, cão atropelado, velhota a chorar, psp barrigudo e sorvete de tiramisu desliza entre os dedos enquanto observo, estupefacta, o que se passa à minha frente…uma chatice, enfim! (o enfim deveria vir antes da chatice, mas a vida tem destas merdas imponderáveis)
http://www.icanseejapan.blogspot.com
http://www.instanteum.blogspot.com
Cara Joana:
Não gostar de adversários politicos é uma coisa.
Publicar um post extenso como este só porque lhe “irrita” que o homem corra, fazendo disso um problema de grandes dimensões,é outra.
Eu não simpatizo com ele nem com algumas das suas decisões politicas, que fique já esclarecido.
Mas, permita-me a sinceridade e frontalidade, tambem não simpatizo muito consigo e não é por isso que passo a vida a dizer mal de si, pelo menos obsessivamente, porque mais tarde ou mais cedo acabaria por cair no ridiculo, e até procuro ouvir a sua opinião nos comentários que faz na TSF ou nos programas em que participa, que mesmo não concordando com muito dos seus conteudos e opiniões, respeito.
A Joana tem que compreender que muitas vezes diz disparates, nomeadamente quando fala de assuntos que , na minha modesta opinião e até porque não tenho formação académica, demonstra estar pouco á vontade, mostrando desconhecimento sobre os vários assuntos e cenários internacionais.
A imagem que deixa transparecer é de que faz este tipo de observações com puro objectivo politÃco e nada mais, não faz sentido nenhum fazer combate politico com os temas que aborda neste texto… todos sabemos que os politicos jogam com a imagem e com a demagogia, voçê enquanto deputada que foi e activista politica que é tambem o fez, e faz… é demais evidente!
Se o Primeiro Ministro tivesse uma imagem de comportamentos e habitos desregrados, sendo obeso, fumador compulsivo, alcoolico, eu tenho a certeza que voçê tambem faria um texto com o mesmo objectivo deste… e gostava de saber como relacionaria isso com as estratégias portuguesas para a politica internacional… nomeadamente a pouco tempo da presidencia do conselho da união europeia passar por nós?!?!?!
Olhe, faço-lhe um desafio:
Gostava de ouvir a sua opinião relativamente á crise no DARFUR.
Nestes ultimos 2 anos morreram 200.000 seres humanos.
Onde anda a comunidade internacional, nomeadamente a União Europeia? Está á espera dos EUA para agir, tal e qual como foi com Timor?
Só corre quem tem medo de algo…
Branding… marketing. O homem torna-se escravo da imagem de marca, mesmo que seja rÃdicula. O nosso primeiro ainda por cima é todo pata choca a correr.
DaÃ, muito bem, que o “genre” de facto seja o burlesco. Depois de um ministro das defesa”Belle de jour”, agora temos um primeiro m. cantiflas.
Ora aà está uma boa ideia: por o nosso 1º a correr para Darfur. Para Bagdad, para Burma, para o Kazaquistão. Dar-lhe corda e deixá-lo ir.
só uma pequena questão.
as fotos com que ilustra os seus textos, são de quem?
autores desconhecidos?
obrigado