Há dias, na Buchholz, encontrei um livro sobre as contribuições do inglês para as lÃnguas europeias no último meio-século. Estava lá tudo: albanês, croata, dinamarquês, espanhol, finlandês, italiano… todas as lÃnguas do Continente, ou quase: faltava o português, porque aparentemente a Oxford University Press não terá conseguido encontrar um linguÃsta português que desse conta dos anglicismos que a nossa lÃngua incorporou desde o final da Guerra até aos dias de hoje. Esta história lembrou-me outra, passada há anos, em viagem: eu estava a ouvir um programa da Radio France Internationale sobre as contribuições do francês para as outras lÃnguas europeias, e fico a saber que em russo todas as palavras que têm que ver com ballet são de origem francesa, e que maquilhagem também se diz maquillage, e que em polaco isto, e em romeno aquilo, e quando chega a vez do português oiço um patrÃcio nosso (responsável da secção portuguesa da própria RFI) dizer que a principal expressão francesa que tinha passado para o português nos últimos anos, e era repetida de manhã à noite, do Minho ao Algarve, era – em homenagem ao pitoresco casser la croûte – “cassar a crosta”: mal sentia um buraquinho no estômago, e tinha vontade de pôr o dente em qualquer coisa, logo um português dizia para outro: “-Vamos lá cassar a crosta!” Eu a compatriotas nossos em França já ouvi muitas: há gente que “sona” à porta e depois sobe as “marchas” das escadas, e houve mesmo um poeta malgré lui, que fazia chaves e punha meias-solas na Gare de Lyon, que um dia me disse que “tinha subido muito na vida” (sendo que aquele “subir” era o francês “sofrer” e não o sinónimo português de “monter“…), agora “cassar a crosta” nunca – de maneira que a partir desse dia, de cada vez que vejo um francês de férias em Portugal a entrar por um café adentro, só fico à espera que seja um cuja cultura geral linguÃstica tenha sido façonnée pelo sábio português da RFI, para o ouvir perguntar ao empregado o que é que há para “cassar a crosta”… Se os portugueses contam coisas destas de si próprios, o que hão-de os outros pensar de nós? Há de facto uma crosta bruta que nos soterra…
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“Vais até ao carrefur, e tornas à goucha nos fogos!”…
Olá António
Eu teria uma lista enorme para juntar ao que diz o nosso jornalista da RFI, a mais cómica que ouvi nos últimos tempos foi, a propósito de uma polÃcia portuguêsa que costumava guardar a passagem de peões ao pé da escola do meu filho: “A Maria foi transferida porque papotava muito”…
um abraço
Nos Açores, a emigração em massa para os EUA e o Canadá também fez com que o nosso “dialecto” mudasse…
Trouxeste uns candiis (candys)?
Bela suera! (sweater de sweatshirt)
Grande calafona! (emigrante radicado na califórnia que regressa aos açores)
eheh. muito bom.
De um emigrante na Bélgica ouvi dizer, referindo-se a umas instalações, que eram de qualidade e próprias. Ou seja: limpas (“propres”).