Convive connosco e aguarda reconhecimento um dos grandes teóricos do nosso tempo. Chama-se Valentim Loureiro e é, enquanto a glória académica não chega, Presidente da Câmara Municipal de Gondomar e acusado no caso “Apito Dourado”. Foi neste último contexto que ele proferiu uma frase que terá passado desapercebida a muitos, mas que os mais atentos (eu) registaram como um sinal seguro da sua perspicácia intelectual e da sua larga visão. Agora que ele vai finalmente a tribunal e sobre ele impendem suspeitas várias de crime de falsificação da verdade desportiva, Valentim Loureiro terá afirmado que não se importava nada de ser julgado, mas queria era que fosse na televisão. Desta forma sagaz, Valentim ter-se-á proposto deslocalizar a prática da justiça do terreno dos tribunais (que adivinha, não sem razão, ser-lhe hostil) para esse outro dos media em geral e do audiovisual em particular, onde a sua presença e o seu verbo se impõem dominadores. Valentim revela-se assim, mais do que um fino táctico, um homem de coerência: pois se é acusado de deslocalizar os resultados desportivos dos terrenos de futebol, onde alguns ainda insistem que hão-de ser encontrados, com os inerentes riscos de lesões nos jogadores e síncopes na assistência, para o bas-fond político-desportivo, onde mais facilmente se previnem as surpresas e desmotivam eventuais engraçadinhos, porque não deslocalizar em paralelo o exercício da justiça dos tribunais para as pantalhas televisivas? Poupava-se em testemunhas e ganhava-se certamente em espectáculo. Mas mais do que a sua perspicácia ou a sua coerência, Valentim comprova aqui a sua formidável intuição e solidez conceptual: pois se Lyotard inventou esse bullshit todo do fim das meta-narrativas para explicar o nihilismo contemporâneo e Jameson descreveu o analfabetismo pós-moderno como a lógica cultural do capitalismo tardio, o autarca de Gondomar responde-lhes com esta sua original e certeira “teoria da deslocalização”, que transporta para o vasto plano das práticas sociais o fenómeno das deslocalizações que assola Portugal e a Europa neste início de milénio e tão fundas marcas ameaça deixar no nosso inconsciente colectivo. Palavras para quê? É um teórico do nosso tempo.
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Chorei de rir. Uma sátira fantástica. 🙂