Num artigo recentemente publicado no DN, Luciano Amaral regressou à tormentosa questão do atraso económico português. Embora muito já tenha sido escrito sobre o assunto (em particular os trabalhos de referência de Jaime Reis), é natural que se volte sempre a ele como a um incontornável locus criminis, onde a nossa auto-estima colectiva é sujeita a severas ameaças e a eterna dúvida sobre a viabilidade do Estado-nação português se renova em permanência. Esperava-se era mais e melhor de um historiador económico que acumula com opinion maker, porque o artigo parece pobre e até algo incómodo do ponto de vista político. De facto, não parece excessivamente difícil explicar porque é que o desempenho económico da Irlanda no último quarto de século é tão evidentemente superior ao das outras zonas com atrasos estruturais da periferia da Europa Ocidental, Portugal incluído, nem porque é que nos anos 60, numa conjuntura internacional favorável, sob o efeito conjugado da adesão à EFTA e da guerra colonial, e, sobretudo, partindo de um muito baixo nível de desenvolvimento, em termos absolutos, foi possível que o nosso país crescesse de forma a encurtar o fosso que o separava do resto da Europa. O que me escapa é o sentido das considerações subsequentes de Luciano Amaral: que, sem temer acusações de “branqueamento” ou de “reabilitação” do fascismo, é preciso afirmar este facto (mas alguém o negou?) e que o regime saído do 25 de Abril de 1974, não estando à altura das promessas de desenvolvimento económico que foram feitas ao país, permite que a democracia seja confundida com o empobrecimento relativo do país. Parece-me evidente que os diferentes desempenhos da economia portuguesa, desde o início dos anos 60 até à crise do início dos anos 70, por um lado, e nas três décadas de democracia, por outro, não podem ser vistos simplisticamente como um puro reflexo dos méritos relativos das políticas económicas dos regimes em que ocorreram (nem, para esse efeito, os anos pós 25 de Abril podem ser vistos como um todo único e coerente). Mas mais do que isso, julgo despropositada a forma como Luciano Amaral relaciona aqui a natureza do regime político e o seu desempenho económico. Aonde é que ele quer chegar? Não se percebe, mas em todo o caso uma coisa é clara: se Luciano Amaral entende que o desempenho económico é o principal factor de legitimação de um regime político, então deve emigrar para a China.
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