A vida sentimental do Primeiro-Ministro interessa-me tanto como a minha própria vida sentimental lhe deve interessar a ele: zero, nada. Não obstante, e de forma involuntária, fui vendo e ouvindo muita coisa sobre o assunto ao longo da semana que passou. Confesso que me entrou por um ouvido e saiu pelo outro e não cheguei a formar uma opinião sobre se ele estava com a pessoa com quem uma revista dizia que estava ou se afinal não se falava com essa mesma pessoa conforme outra revista (numa capa que vi num quiosque de jornais, esclareço) dizia que não falava. Problema deles, pensei eu, e de quem não tem mais nada que fazer do que seguir os altos e baixos da vida sentimental do Eng.º Sócrates. Engano meu: o problema é também do Dr. Pacheco Pereira (que tem uma vasta página de opinião a produzir todas as semanas para o “Público” e nem todas as semanas, como é sabido, se passam entre nós coisas novas e interessantes que permitam preenchê-la sem recurso aos faits divers), que por sua vez acha que o problema é da pátria e da imprensa que a pátria tem, nomeadamente do “Expresso”, que, segundo o nosso moralista de serviço, não foi digno do seu estatuto de jornal “de referência” e antes pelo contrário, referindo-se indevidamente ao tema, abriu o precedente por onde se precipitou depois toda a canalha. Mas ou o Dr. Pacheco Pereira vive noutro mundo ou o que se passa com o Eng.º Sócrates é um problema universal – e, à escala universal também, sem solução. O público (ou, para ser mais preciso, uma secção significativa do dito) interessa-se pela vida dos famosos, sejam eles actores de telenovela, jogadores da bola ou primeiros-ministros bem-apessoados, e seja porque os admiram, os copiam ou simplesmente os invejam; essas pessoas estão na vida pública porque querem, deixam-se fotografar na via pública porque lá andam e a imprensa fala delas porque o disparate é livre; so what? O que propõe o Dr. Pacheco Pereira que se faça, para debelar o problema? Voltar aos bons velhos tempos da imprensa paternalista e do “Exame Prévio”? Isso era antes de as massas aprenderem a ler e consumirem jornais: a imprensa cor-de-rosa (incluindo, neste caso, o insuspeito “Expresso”) é simplesmente um custo da democracia (ou, como diz Fredric Jameson, por pudor vocabular, uma consequência da “plebeização” das nossas sociedades, um processo que se distingue da sua efectiva democratização por não implicar uma soberania política das massas, mas que ainda assim deve ser valorado positivamente, pelas qualidades emancipatórias que contém, contra todos os nostálgicos do respeitinho hierárquico de antigamente do género do Dr. Pacheco Pereira). Se o Eng.º Sócrates não quer que falem dele, tem bom remédio: deixe de ser Primeiro-Ministro, porque “quem anda à chuva, molha-se”; e se o Dr. Pacheco Pereira quer arranjar uma solução para este problema que o aflige tanto, eu conto-lhe como é que, à minha modesta escala, consegui resolvê-lo, desde há já algum tempo, e de forma radical: não leio a jornalada intriguista e bisbilhoteira que se ocupa da vida dos outros, nem leio as crónicas dos jornais “de referência” sobre a jornalada intriguista e bisbilhoteira.
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