O estranho nesta indignação geral não é que as pessoas estejam no limite da paciência – ainda bem que estão – é forçarem-se a convencer, num jogo freudiano de medo, que se aumentássemos o consumo saÃamos da crise, ou seja, pode haver saÃda sem luta de classes, pode-se encontrar um equilÃbro menos mau entre exploradores e explorados, um retorno ao Pacto Social. Ora, no capitalismo, aumentar os salários (um custo) é aumentar a crise porque o capitalismo não produz para o consumo nem sofre com problemas de consumo mas com superprodução de capital.  Aliás, um bom capitalista sabe que, numa crise,  o melhor consumo, de preferência, é a guerra ou seja, o não-consumo, a destruição. O único keynesianismo bem sucedido no mundo, que teve resultados em sair da crise, foi o esforço de guerra de Estaline, Hitler e Roosevelt. Vale a pena lembrar de novo que a taxa de desemprego dos EUA só retornou ao pré 29 em 1941 quando a Ford passou de construir carros a material bélico e os desempregados foram empregados na guerra, enviados para morrer e matar. À parte disto não conheço historicamente outra forma bem sucedida de sair da crise – falo de economia – que não seja a revolução, ou seja, fim da propriedade privada.
tags
15O 19M bloco de esquerda Blogues CGTP Constituição da República Portuguesa cultura democracia desemprego educação eleições Esquerda EUA Europa FMI greek riot greve geral grécia Guerra-ao-terrorismo humor i intifada mundial irão israel jornalismo liberdade Lisboa luta dos trabalhadores media música NATO new kid in the blog... Palestina parque escolar pcp Portugal presidenciais 2010 presidenciais 2011 PS psd repressão policial Revolução Magrebina Sócrates VÃdeo youtubearquivo
- Julho 2013
- Janeiro 2013
- Dezembro 2012
- Novembro 2012
- Outubro 2012
- Setembro 2012
- Agosto 2012
- Julho 2012
- Junho 2012
- Maio 2012
- Abril 2012
- Março 2012
- Fevereiro 2012
- Janeiro 2012
- Dezembro 2011
- Novembro 2011
- Outubro 2011
- Setembro 2011
- Agosto 2011
- Julho 2011
- Junho 2011
- Maio 2011
- Abril 2011
- Março 2011
- Fevereiro 2011
- Janeiro 2011
- Dezembro 2010
- Novembro 2010
- Outubro 2010
- Setembro 2010
- Agosto 2010
- Julho 2010
- Junho 2010
- Maio 2010
- Abril 2010
- Março 2010
- Fevereiro 2010
- Janeiro 2010
- Dezembro 2009
- Novembro 2009
- Outubro 2009
- Setembro 2009
- Agosto 2009
- Julho 2009
- Junho 2009
- Maio 2009
- Abril 2009
- Março 2009
- Fevereiro 2009
- Janeiro 2009
- Dezembro 2008
- Novembro 2008
- Outubro 2008
- Setembro 2008
- Agosto 2008
- Julho 2008
- Junho 2008
- Maio 2008
- Abril 2008
- Março 2008
- Fevereiro 2008
- Janeiro 2008
- Dezembro 2007
- Novembro 2007
- Outubro 2007
- Setembro 2007
- Agosto 2007
- Julho 2007
- Junho 2007
- Maio 2007
- Abril 2007
- Março 2007
- Fevereiro 2007
- Janeiro 2007
- Dezembro 2006
- Novembro 2006
- Outubro 2006
- Setembro 2006
E quais são as formas de sair da crise que impliquem o fim da propriedade privada que historicamente tenham sido bem sucedidas?
Obrigado,
António Caldas
Vamos lá arriscar dois exemplos (para economia de palavras): URSS e China. Penso que seja pacÃfico reconhecer que a expropriação da propriedade privada nestes dois paÃses permitiu subtraÃ-los, pelo menos em parte, ao destino miserável de outros paÃses periféricos sob o capitalismo. Isto apesar das questões de regime polÃtico, a que já irei. Sem a revolução de 1917 e a expropriação da propriedade privada, alguma vez a URSS teria estado à altura, por exemplo, de dar um contributo decisivo para a derrota da Alemanha de Hitler? De se erguer ao estatuto de «superpotência»? Sem a revolução de 1949, alguma vez os milhões de chineses teriam conquistado esse direito democrático elementar que é o de comer todos os dias?
Quanto à questão do regime polÃtico, que penso subjaz à sua objecção: é verdade que não vejo nada de atraente no regime de ditadura estalinista ou maoÃsta. Mas que tipo de regimes polÃticos tem predominado historicamente em todos os paÃses periféricos dominados pelo capitalismo: excelsas democracias ou ferozes ditaduras? E se na URSS, após a derrota da vaga revolucionária dos anos 20 nos paÃses europeus mais desenvolvidos (praticamente os únicos que conheciam o significado de algum tipo de ‘democracia’) e o seu isolamento, se estabeleceu uma ditadura, e se o regime interno do Partido Comunista da China e do Estado chinês pós-1949 foram decalcados deste, que espécie de determinismo obriga a que seja sempre assim? A suposta ‘natureza’ perversa dos seres humanos, como diz um comentador mais abaixo?
“se o regime interno do Partido Comunista da China e do Estado chinês pós-1949 foram decalcados deste [da democracia], que espécie de determinismo obriga a que seja sempre assim? ”
O mesmo argumento pode ser utilizado em relação ao keynesianismo e à propriedade privada.
É também importante não esquecer que ninguém ainda implementou de forma completa a doutrina criada por Keynes que advoga gastos estatais em contra-ciclo; ou seja, quando a economia regride, o estado gasta e cria emprego, quando a economia cresce, o estado poupa e diminui a sua presença na economia. A maioria das implementações do keynesianismo são do género: a economia cresce, o estado gasta, a economia regride, o estado gasta. Todos se esquecem que a doutrina pressupõe a poupança (e criação de reservas) estatais nos tempos de vacas gordas.
A URSS tornou-se numa ditadura a partir de 1928. Para isso a derrota da revolução nos paÃses com forças produtivas desenvolvidas foi fundamental. Regime e Esatdo são coisas distintas. Podemos sonhar com outra sociedade?
O keynesianismo bem sucedido foi e é a guerra. Os «gloriosos anos de ouro» não existiam sem guerra – começar a produção do zero, ou seja, garantir a destruição máxima de capital numa economia de guerra. Os «gloriosos30» na Europa não poderiam existir sem o «tormento» que foram essas décadas para Ãfrica, Ãsia e América Latina: guerras coloniais, Vietname, Laos, Chile e uma lista infindável que é o sangue do Pacto Social Europeu.
Raquel,
Já mostrei mais do que uma vez que muito te aprecio e à tua militância, mas por vezes os teus textos deixam-me um pouco preocupado.
“…não conheço historicamente outra forma bem sucedida de sair da crise – falo de economia – que não seja a revolução, ou seja, fim da propriedade privada…”
Comentários:
1. A natureza humana sendo o que é, não me parece possÃvel conciliar o fim da propriedade privada com um sistema de liberdade e democracia. Possuir coisas está nos nossos genes e isso não vai desaparecer nem será possÃvel reprimir, sem recurso ao totalitarismo, essa ambição. O que se pode é impedir que esse instinto assuma um caracter destrutivo.
2. O caracter destrutivo da propriedade privada manifesta-se no capitalismo, mas o mesmo não aconteceria num sistema de produção cooperativa. As cooperativas são formas de posse privada – restrita, se se quiser – dos meios de produção, porque são os cooperantes que são os proprietários desses meios, e não a sociedade no seu todo. Mas no sistema cooperativo não há exploração do homem pelo homem nem haverá sobreprodução. E se houver, as consequências negativas reflectem-se sobre os próprios cooperantes – que são donos e trabalhadores, ao mesmo tempo -, pelo que haverá imediatamente uma contenção dessa patologia.
3. É possÃvel resolver as patologias do capitalismo sem ferir os instintos de propriedade das pessoas, num sistema cooperativo. Por isso parece-me desnecessário, e contraproducente, estar a insistir no fim da propriedade privada para ultrapassar as crises estruturais. Essa é uma mensagem que nunca terá o apoio da maioria dos cidadãos, pelo que insistir nela é tornar impossÃvel as mudanças estruturais que se impõem. Esta é uma das razões pelas quais tenho um verdadeiro asco à s ideologias. Os problemas resolvem-se com a cabeça, não com o coração. Sem que, para isso, se tenham de fazer compromissos inaceitáveis.
Nuno
1 – Possuir coisas está nos nossos genes? Então porque é que só começámos a «possuir» coisas quando tivemos excedente?
2 – Não sei o que é totalitarismo: sei o que é nazismo, ditadura burocrática, fascismo, bonapartismo, democracia operária, democracia burguesa.
3 – O cooperativismo de produção (não o de consumo) não sobrevive na sociedade capitalista sem se tornar em rentáveis empresas capitalistas (v. gr. Mondragón)
1. Como defines o sentimento de posse de bens tais como roupa, arcos e flechas, canoas, cabana, adornos, que todos os povos desde sempre tiveram?…
2. Totalitarismo. Até a Wikipédia dá uma definição aceitável:
“Totalitarismo (ou regime totalitário) é um sistema polÃtico no qual o Estado, normalmente sob o controle de uma única pessoa, polÃtico, facção ou classe, não reconhece limites à sua autoridade e se esforça para regulamentar todos os aspectos da vida pública e privada, sempre que possÃvel. O totalitarismo é caracterizado pela coincidência do autoritarismo (onde os cidadãos comuns não têm participação significativa na tomada de decisão do Estado) e da ideologia (um esquema generalizado de valores promulgado por meios institucionais para orientar a maioria, senão todos os aspectos da vida pública e privada).”
3. As cooperativas de produção, ao distribuirem aos cooperantes – mediata ou imediatamente – todas as mais valias do seu trabalho, não podem ser confundidas com empresas capitalistas.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Totalitarismo
Raquel, pode indicar-me aonde poderei perceber melhor o seu 3 ponto? A ideia (quiça leviana) que tenho é que esse tipo de experiências desvirtua-se acima de tudo por estar isolada, i.e. não ter interlocutores sufs em modelo idêntico. Que outro tipo de questões estão em jogo?
Dá-lhe Raquel! Muito bem lembrado. Contudo, há quem aposte nessa receita, uma vez que, por um momento, cria-se a ilusão de estar imune à crise, a exemplo do Brasil. Pagaremos muito caro por esse engodo, que Estado e capital nos imputam.
Quer a guerra quer o consumo em tempos de paz provocam a destruição dos bens produzidos. A única diferença é que o consumo em tempos de paz traz algum benefÃcio pessoal, enquanto que o consumo numa guerra apenas provoca destruição. Uma couve, depois de consumida é perfeitamente inútil e sem valor, da mesma forma que uma bala, depois de disparada é perfeitamente inútil e sem valor. Do ponto de vista da produção, o consumo de guerra é exactamente igual ao consumo de paz.
A grande vantagem da guerra face ao consumo de paz, é que a guerra gera muito rapidamente um consumo muito maior do que o consumo normal das populações em tempos de paz. Uma pessoa pode ter couves a mais, mas um exército em guerra nunca terá balas a mais. O consumo em guerra é contÃnuo, estável e muito elevado, o que é sempre benéfico para a economia, tenha ela a forma que tiver.
Toda a produção está desenvolvida para o consumo, quer o sistema seja capitalista ou não. Sem consumo, a produção não gera valor, i.e. não aumenta o capital do capitalista. Os capitalistas estão muito interessados em aumentar o consumo (embora prefiram que tal aconteça sem aumentar os seus custos individuais). Só assim podem aumentar o seu capital. Tendo em conta que cada unidade produzida diminui o capital do capitalista (porque tem de pagar os seus custos), o capitalista está particularmente vulnerável ao consumo (i.e. tem de vender aquilo que produz para pelo manter o mesmo nÃvel de capital. Se não conseguir vender (porque não há consumo) começa a perder capital).
Mesmo num sistema de produção socializada (vulgo comunismo) o problema do consumo mantém-se. Produzir mais do que o que é consumido é um desperdÃcio de recursos, o que leva inevitavelmente a menos necessidades laborais e menos empregos. Se por outro lado se aumentar o consumo, aumentam as necessidades de trabalho e os empregos. Em qualquer dos cenários (capitalismo e comunismo), mais consumo é sempre melhor para a economia (já para o ambiente não é bem assim).
P.S. Para que não se fique com a ideia de que a guerra é a melhor das soluções para a crise, fica só mais uma nota final:
A guerra não produz apenas o aumento do consumo, também destrói vidas humanas e meios de produção (sobretudo fabril, mas não só). Essa destruição da capacidade produtiva (quer pela perda de meios, quer pela perda de trabalhadores) também é prejudicial para a economia. Para além disso ajustar indústrias para produção de guerra ou de paz é demorado e tem custos, o que também é prejudicial para economia. Do ponto de vista económico, a guerra ideal é aquela que é travada muito longe e onde não morre ninguém. O problema é que toda a gente sabe como começam as guerras, mas ninguém sabe como acabam, por isso uma guerra um instrumento demasiado imprevisÃvel (e imoral) para ser usado na recuperação económica.
Bem… afirmar que na URSS, nos anos 30, se aplicou uma polÃtica keynesiana, é de antologia!
Portanto… a expropriação das terras aos kulaks, a completa nacionalização da indústria, banca e comércio (incluindo o comércio externo) e planificação económica (mesmo com as trampas burocráticas)… tudo isso era capitalismo keynesiano?!?
Oh Camarada! Desculpa lá a boca… mas que tal ires reler a “revolução traÃda” do guru Leon Trotsky?
Para além de anónimo você está de má fé, tÃpico aliás dos tipos «anónimos».
Ninguém afirmou o que diz aqui.
Raquel:
Se uso da condição de “anonimato” é por razões da minha própria segurança pessoal. Se quiseres saber quem sou, podes perguntar ao Carlos guedes que ele diz-te.
Em relação ao que você agora vem dedizer o que efectivamente disse, nada como citá-la em primeira mão:
“O único keynesianismo bem sucedido no mundo, que teve resultados em sair da crise, foi o esforço de guerra de Estaline, Hitler e Roosevelt.”
Creio que estamos conversados.
E desde quando é que o comunismo foi bem-sucedido em qualquer paÃs que teve a infelicidade de o tentar?
A propriedade privada não é um roubo. No entanto, certos bens públicos (como a água) não deveriam estar nas mãos de privados.
A solução para a crise capitalista do século XXI não passa pelas desacreditadas teorias marxistas do século XX, mas sim por novas teorias económicas. O sistema de produção cooperativa referido anteriormente parece-me um sistema bem melhor do que o totalitarismo estatal arcaico do século XX.
Talvez a Raquel não goste de viver em liberdade. Eu gosto, e não faço sequer tenção de viver sob uma ditadura. Seja ela de que cor seja. AÃ, tenho o direito de recorrer a qualquer meio à minha disposição. E isso implica luta armada.
concordo: “no sistema cooperativo não há exploração do homem pelo homem”, pelo contrário, há formas de solidariedade e repartição da riqueza criada pelo trabalho, há gestão democrática dos meios de produção, dentro de uma sociedade “mercantil” auto-regulada. E se em vez de falar das revoluções russa e chinesa, olhámos para a nossa bela revolução de 74? Estão lá todos os exemplos que hoje fazem falta…
Não há economia sem propriedade privada.
http://redplenty.com/Front_page.html
“O único keynesianismo bem sucedido no mundo, que teve resultados em sair da crise, foi o esforço de guerra de Estaline, Hitler e Roosevelt. ”
Raquel quem foi que lhe impingiu essa peta que foi o esforço de guerra que fez com que Estaline (URSS) saisse da crise?
Realmente tanta ingenuidade comove.
Ignora que na decada de 30 quando o capitalismo estava mergulhado numa crise profunda a economia Soviética crescia anualmente entre os 12 e os 15 % ?
Keynesianismo na economia Soviética? A quem pretende vender essa patranha monstruosa? O mais grave é sair da parte de um especialista em história.
Por esse facto minha Senhora tenha ao menos um pouco de piedade por aqueles que desconhecem o modelo social e economico da URSS no tempo que faz referencia, praticava um acto de coerência e dignidade moral não faltar à verdade a quem a lê.
Por mim como conhecedor dessa realidade aconselho-a a ter um pouco mais de respeito por a sua profissão.
Para para que não lhe restem dúvidas e que constate que não estou a exceder-me nas palavras , aconselho-a que consulte estes artigos da Constituição da URSS de 1936.
Artigo 4.º — A base económica da URSS consiste no sistema económico da posse socialista dos utensÃlios e meios de produção, firmemente estabelecidos em substituição do sistema económico capitalista, com abolição da propriedade privada dos meios de produção e com a eliminação da exploração do homem pelo homem.
Artigo 5.º — A propriedade socialista na URSS tem, ou a forma de propriedade do Estado (bem de todo o Povo), ou a de propriedade cooperativa colectiva (propriedade de fazendas coletivas, propriedade de associações cooperativistas).
Artigo 6.º — A terra e suas riquezas, as águas, as florestas, os transportes aéreos, maritimos e terrestres, bancos, meios de comunicação, todos os meios de produção industrial, as grandes empresas agrÃcolas organizadas pelo Estado (fazendas do Estado, depósitos de máqunas, etc.) e também os serviços públicos domésticos (aquecimento, esgotos, água, etc.) das residências nas cidades e zonas industriais são propriedade do Estado, isto é, bem de todo o povo.
Artigo 7.º — As empresas públicas nas propriedades colectivas e nas organizações cooperativas, com todos os seeus efectivos pecuários e equipamento, produtos cultivados e manufaturados em propriedades colectivas e em empresas cooperativas, assim como as suas organizações, constituem a propriedade pública socialista das fazendas coletivas e organizações cooperativas.
Alem do rendimento básico das fazendas socializadas colectivas, cada famÃlia nas fazendas coletivas deve ter para uso pessoal uma porção de terra anexo à casa e como propriedade particular uma lavoura subsidiária, a casa de moradia, a criação (aves e animais domésticos) e alguns instrumentos de trabalho — de acordo com os estatutos das fazendas colectivas.
Cara Raquel Varela, este é, sem dúvida, o melhor texto já que lhe li!!
Há aqui um premente apontar de verdade, não sem mais mas, todavia, de verdade! Há, ali, um cansaço irónico tremendamente pertinente!! Um desprendimento para além da moral!!
Em 41, o desemprego nos EUA ainda era o triplo do de 29. E por acaso a Ford até teve papel escasso e renitente no esforço de guerra, mantendo também sempre fábricas a laborar na Alemanha.