
O controlo da força de trabalho – a suprema violência no capitalismo. Pena que a generalidade da esquerda continue a achar que os governos é que mandam e que a luta primordial deve ser nas ruas. Entretanto, a exploração continua a todo o vapor nos locais de trabalho…
Ora, a verdadeira (e perene) violência do capitalismo sobre os trabalhadores não decorre da violência propriamente dita. Se é intrÃnseca ao sistema a existência de actos de repressão estatal contra os trabalhadores, estes não são quotidianos e muito menos são estes que fundam o capitalismo. Portanto, a verdadeira e permanente violência do capitalismo ocorre no plano das relações sociais que o constituem de alto a baixo: o trabalho assalariado ou, se se preferir, a exploração económica capitalista. Esta é uma violência muito mais profunda e tão inócua aos olhos da esmagadora maioria dos trabalhadores que consegue passar-se como se de uma libertação se tratasse. Aliás, os apelos ao empreendedorismo muito em voga a partir das últimas governações PS/Sócrates e PSD/CDS de Passos Coelho e Portas não são mero sound-byte. Em sectores da classe trabalhadora (sobretudo nos paÃses desenvolvidos) existe inclusivamente um forte comprometimento pessoal e identitário com os intentos das empresas em criar novas mercadorias e novos serviços. Nas tarefas mais criativas e onde o recurso intelectual tem uma componente mais marcada, é muito fácil encontrar jovens trabalhadores que literalmente adoram trabalhar em regimes de free lance, a projecto ou com uma grande flexibilidade no trabalho e nos horários. E neste ponto o capitalismo tem sido extremamente eficaz em conseguir que boa parte dos sectores mais jovens, mais dinâmicos e mais qualificados da classe trabalhadora se identifique com a dinâmica organizacional capitalista. Há quem lance logo o epÃteto da “pequena-burguesia†sobre estes trabalhadores, o que só demonstra que nada entendem das relações sociais de exploração capitalista e preferem atribuir considerações morais ao que não querem compreender racional e cientificamente: a simultânea recomposição técnica e ideológica da classe trabalhadora operada pelo toyotismo.
A exploração capitalista é, acima de tudo, a expropriação e desapossamento dos meios e recursos sociais de produção e resulta, por um lado, na criação de um maioritário contingente populacional disponÃvel para ser empregue segundo os ditames do patronato e da valorização do capital e, por outro lado, na vulnerabilidade absoluta do trabalhador perante os processos de contratação e despedimento de força de trabalho. (Excertos – Versão completa e original do artigo aqui).
João, não vale a pena separar o inseparável: as forças repressivas do Estado burguês e a própria violência da exploração no local de trabalho são duas faces da mesma moeda.
Os próprios ritmos da violência da burguesia ora pelo Estado que comanda ora pelas empresas são semelhantes. Desde a segunda guerra mundial existe a ilusão que os paÃses europeus não se envolvem em guerras. Na verdade os paÃses europeus estão envolvidos em guerras ininterruptamente desde 1945, a Jugoslávia não foi uma excepção mas uma regra.
Da mesma forma o aumento da exploração e a precarização das condições de trabalho desenrola-se-se sem retorno há muitas décadas. Quando foi a última vez que o desemprego real diminuiu em Portugal? Quando foi a última vez que os salários reais cresceram claramente acima da inflação? E no entanto os horários de trabalho estendem-se cada vez mais.
A questão da violência é um tema fundamental do marxismo ou de qualquer forma de pensamento crÃtica no mundo actual, razão porque devo saudar esta reflexão. Para lá do simplismo de definirmos formas de luta por vias “pacÃficas” ou “violentas”, é preciso entender a violência contemporânea da sociedade capitalista se é que queremos entender minimamente a sociedade em que vivemos.
Ora aà está uma questão que deveria merecer muito mais debate à esquerda do que tem tido.
Eu não digo que há uma separação da violência do Estado e, digamos, das relações de exploração. O que digo é que o Estado é uma caixa de ressonância da mais profunda violência no capitalismo: a exploração da força de trabalho e que se expressa na precariedade, no desemprego, etc. Não estou a desvalorizar a repressão do estado (que existe), mas ela é inseparável do centro de poder no capitalismo: as empresas. Estas sim, violentam todos os dias os trabalhadores, ao passo que o Estado geralmente só actua em situações de “emergência”, para reprimir a luta dos trabalhadores e voltar a colocar a violência da exploração nos carris.
Sim, caro JVA, a dinamica, mercantilista, capitalista, é, por natureza mecanica, violenta!! A eficiencia económica é violenta, a estrutura produtiva comprime o tempo, a organização formal e informal é, por natureza, opressora!! Mas, sim, a dinamica capitalista autoalimentada pela lógica diabólica da máxima eficiencia é muito mais violenta. A todos oprime!! A todos que servem a máquina e a sua lógica diabólica! Oprime-os de diferentes modos, mas, todavia, oprime, violentamente!!
Sim, parece-me evidente e consabido!! Sim!
E o que é que nos pode dizer, o caro JVA, sobre como escapar desta mecanica desalmada!!!??
(Naquele seu post anterior (aquele da Grécia e do Euro) deixou-me sem resposta! É evidente que não tem de responder, mas como lhe ofereci um comentário que procurava responder à s inquietações do seu texto, e como se lamentou de outros comentários que entendeu deslocados daquele, entendi que….)
Sobre a Grécia: http://passapalavra.info/?p=59652, http://passapalavra.info/?p=60016, http://passapalavra.info/?p=60577, http://passapalavra.info/?p=60891
Sobre a superação do capitalismo: não tenho fórmulas nem cada indivÃduo tem de as ter. Mas relacionando com o texto acho que sem uma transformação das relações de trabalho, isto é, sem um controlo dos meios de produção e das decisões da produção pelo colectivo de trabalhadores, sem a eleição e revogabilidade constante dos seus delegados (eleitos pela base), não haverá superação da exploração. Como isso sucederá e quando, ninguém o pode responder em detalhe, até porque quem alavanca esses movimentos de (tentativa) de superação são sempre os trabalhadores em luta que com isso desenvolvem novas relações sociais comunitárias e não-hierárquicas.
O meu comentário, aquele que referi sem resposta, era, precisamente, um comentário àqueles seus textos, em especial ao último aà mencionado, e seus comentários, caro JVA!! O textos precedem aquele!!
Fui procurar o que escreveu. Aqui está parte do que escreveu: «Eu posso garantir-lhe que a Grécia mais facilmente conseguiria créditos, em euros, para “requalificar” o seu aparelho produtivo tendo uma moeda própria com que pudesse assegurar salários e outras obrigações doque, estando no euro, encontrar créditos, em euros, para cumprir salários, outras obrigações e ainda “requalificar” o seu aparelho produtivo!! Isto, parece-me evidente!! Estar na zona euro não implica, como já se deve ter apercebido, ter garantias de ter euros!!». Todos os textos que eu cito acima são escritos precisamente a demonstrar o contrário disso. Se você emitir moeda nas condições de uma saÃda do euro vai ter uma inflação enorme, vai ter uma massiva fuga de capitais, vai ter um proteccionismo e tarifas altÃssimas dos outros paÃses da zona euro (para onde Portugal ainda exporta cerca de 70% do seu volume de exportações – como você reconverte isso em três tempos?) sobre os produtos portugueses, etc. Com a introdução de uma moeda nacional seria, em teoria, mais barato exportar (só um parentesis, a UE mandou uma posta aà há uns tempos de que se um paÃs saÃsse do euro, toda a restante zona euro cobraria uma taxa alfandegária aos produtos desse paÃs no valor percentual da desvalorização da moeda desse paÃs – por exemplo, se o dracma ou o escudo desvalorizassem 40%, então a restante UE cobraria um imposto de 40%), mas como estava a dizer se a moeda desvalorizada facilita as exportações, ela dificulta imensamente as importações. E já nem falo na inflação avassaladora que ocorreria no caso disso. Ora Portugal não tem chances de ter um aparelho produtivo capaz de concorrer isoladamente no plano internacional. A não ser que aceitassemos receber menos do que os chineses… E porque Portugal não tem chances? Basta um exemplo. O sector alimentar. Aqui Portugal tem um défice externo à volta de 4 mil milhões de euros em alimentos e bens agrÃcolas por ano. Agora pense nisto em escudos e com o isolamento económico que o paÃs sofreria, e tudo isto seria muito mais do que 4 mil milhões… Mas vocês podem dizer: “cultivamos nós”. Pois e com quê e com quem? Ou seja, com uma produção agrÃcola destruÃda, com uma ausência de mão-de-obra com formação na área (e não falo apenas de formação académica mas de algo óbvio como o saber utilizar maquinaria, tractores, etc.) e sem capitais para reconverter a estrutura fundiária como um paÃs pequeninÃssimo pode responder a uma saÃda unilateral do euro? A não ser que ache que cultivar couves na varanda de cada um seja solução… Duvido é que houvesse comida para todos…
Mas como você disse no seu comentário de então «Eu posso garantir-lhe que a Grécia mais facilmente conseguiria créditos». Se você diz é porque é…
Caro JVA, vamos lá ver o seguinte.
O meu comentário destina-se à sua referencia, obstáculo, em relação à dificuldade que a Grécia, foram do Euro, teria em se financiar em Euros para financiar os seus investimentos em infraestrutura produtiva industrial que seriam essenciais para superar os seus déficits de produção (os mesmos que sustentam, e bem, a sua conclusão de que mergulhariam aqueles num poço inflaccionário). A isto respondi-lhe – Eu posso garantir-lhe que a Grécia mais facilmente conseguiria créditos, em euros, para “requalificar†o seu aparelho produtivo tendo uma moeda própria com que pudesse assegurar salários e outras obrigações doque, estando no euro, encontrar créditos, em euros, para cumprir salários, outras obrigações e ainda “requalificar†o seu aparelho produtivo! – E parece-me evidente por uma simples razão aritmética, de comparação de ordens de grandeza!! O que o JVA nos diz é que será mais fácil (recomendável, oportuno, vantajoso) para a Grécia conseguir financiar esses mesmos investimentos, em Euros (em relação aos equipamentos importados da restante europa), mantendo o Euro como moeda com curso legal, solicitando empréstimos, em Euros, para aqueles investimentos e para cumprir salários!! Parece-me simples de compreender!
O meu caro JVA, insiste no erro (pensava, eu, que já se havia apercebido) !!
O facto de “estar no euro” não o isenta de correcção, não lhe permite, eternamente, financiar os seus defices externos (a não ser que o meu caro veja aquilo que comunmente se designa por “crise da zona euro” como uma espécie de birra entre sócios).
O meu caro JVA elabora com base num erro de concepção sobre a natureza do problema (a economia portuguesa é, ainda, para o bem e para o mal, economia portuguesa e isto nada tem que ver com nacionalismo).
E, caro JVA, se o seu problema é o valor cambial e a inflação olhe que é relativamente simples de desenhar uma polÃtica monetária e fiscal que observe um apreciável valor cambial da moeda e consequentemente reduzida erosão inflacionária (um euro sem euro, que tal!?)!!
Você acha que Portugal é uma economia nacional?? Portugal só existe enquanto uma cultura e enquanto uma certa realidade polÃtico-administrativa, muito pouco enquanto economia nacional. Claro que há uma componente nacional, mas ela é uma parte da economia da zona euro. Por isso é que basta um espirro em Atenas para colocar todas as bolsas de Frankfurt a Nova Iorque a tremer… E se o problema da crisa da zona euro fosse nacional então porque a burguesia europeia fica aterrada com as possibilidades de contágio da crise das dÃvidas soberanas grega e portuguesa à restante zona euro? A própria Espanha tinha (e ainda vai tendo) uma dÃvida pública relativamente baixa e a possibilidade de cair e pode levar consigo o resto da zona euro. Se o problema fosse estritamente nacional os riscos e consequências de contágio seriam baixÃssimos. A supremacia do nÃvel transnacional é esmagador sobre o nÃvel nacional. Não sei onde está a dúvida.
E suspirar pelo regresso dos estados nacionais é esquecer precisamente o ponto deste post (este da exploração, não o da Grécia): a dominação das empresas e das instâncias supranacionais de regulação do capitalismo. PaÃses como o Brasil, a China ou os EUA ainda podem dizer que o seu estado nacional ainda tem bastante poder na concorrência com outras instâncias supranacionais (FMI, BCE, BIS, etc.), mas Portugal ou a Grécia não. Enquanto a esquerda andar a suspirar que o poder polÃtico nacional controle o que é imanentemente transnacional só vamos a andar a dar cabeçadas na parede.
Sobre a simplicidade desse “desenhar uma polÃtica monetária e fiscal” com uma “reduzida erosão inflacionária”. Bom, fico satisfeito que as coisas para si sejam assim simples. De facto, é espantoso como toda a classe dominante ainda não conseguiu perceber essa simplicidade…
muito interessante
Entender mal para crer melhor!!?? É que nem consigo perceber o que é que Vcmcê não entendeu (ou o que entendeu) dos meus comentários!!