Estrada de Palha é um western à portuguesa, com direito a banjo, duelos, chapéus de cowboys e longos descampados (no Alentejo e não no faroeste americano). Estamos no inÃcio do século XX, em fase pré-implantação da república, e acompanhamos um homem que, após um perÃodo fora do paÃs, regressa a Portugal para vingar a morte do irmão. Em paralelo, a acompanhar um perÃodo politicamente conturbado, vamos lendo citações do livro Desobediência Civil, de Henry David Thoreau, numa evidente metáfora com a impunidade da corrupção actual.
Para além da ideia curiosa (e seguramente difÃcil) de se fazer um western em Portugal e da mensagem polÃtica interessante, o filme conta com imagens bem bonitas e com uma belÃssima banda-sonora de Paulo Furtado e Rita Redshoes, com intensos instrumentais de cordas ancestrais a dar um toque de perfeita coerência entre imagem e som. Contudo, apesar de tudo isto, porque será que se fica com a sensação de desconsolo com Estrada de Palha? Talvez porque os planos longuÃssimos tiram todo o ritmo à história e porque a própria narrativa é muito fraca e inconsequente, não dando a devida consistência à tão estimada ideia base. Basta pensar, como exemplo, nas cenas quase risÃveis em que aparece o grande Nuno Melo, enquanto todo poderoso de uma comunidade (com algumas semelhanças com o papel em O Barão, filme que, de forma ainda mais acentuada do que este, desperdiça por completo uma mensagem interessante, no caso sobre a desertificação do interior)…
Em termos da estrutura de filmagem, enquanto western arrastado, faz lembrar um pouco O Indomável ou O AssassÃnio de Jesse James de Robert Ford. O primeiro, desprovido do genial e extravagante sentido de humor dos Cohen, é provavelmente um dos filmes mais insossos da dupla de irmãos. O segundo é uma ode ao tédio, num percurso lento de 3 horas rumo a um final já esperado, a que só a extraordinária banda-sonora de Nick Cave e Warren Ellis incute alguma alma. Quem tiver apreciado os dois filmes anteriores, não deixará de encontrar em Estrada de Palha outros ocultos motivos de interesse. Para mim, é apenas um filme com pormenores interessantes e uma oportunidade perdida de construir uma extraordinária metáfora polÃtica e uma óptima criação de um género pouco explorado em Portugal.
5/10
Já tem o vosso Google? eheh…
http://funny-google.com/?name=5_Dias
Não é “Os Cohen” mas sim “Os Cohens”.
Em português, tal como em inglês, os apelidos pluralizam-se.
Em português faz-se a concordância do apelido com o artigo usado. Mnemónica: O romance do Eça chama-se “Os Maias” e não “Os Maia”.
Se é assim, não fazia a mÃnima ideia e é um erro recorrente.
Obrigado pelo apontamento
Nós teremos incorporado o erro à conta dos franceses (que sim, lêem Les Maia assim como lêem Les Thibault).
Curiosas são as séries que trazem o tÃtulo à moda anglo-saxónica e que nós depois afrancesamos como The Tudors, The Borgias, The Sopranos.
Deve ser o único caso em que não nos deixamos contaminar pelos anglo-saxónicos. E bem podiamos.
Henry David Thorieu??
Corrigido. Obrigado pelo alerta