A contabilidade das manifestações é uma matéria demasiado sujeita a impressionismos de circunstância. Daqui a pouco podemos ser quinhentos como podemos ser cinco mil que o balanço mais importante das Manifestações Pelo Direito ao Trabalho já pode ser feito. Independentemente da maior ou menor amplitude deste protesto, estão lançadas as bases de um movimento do qual não nos podÃamos dar ao luxo de continuar a prescindir.
Durante várias semanas, dezenas de desempregados souberam organizar-se para levar para as ruas as primeiras manifestações que pretendem resgatar para a agenda polÃtica a urgência do pleno emprego e lançar o debate sobre a necessidade de redistribuir os afazeres sociais de forma mais justa, universalizando em paralelo o direito ao trabalho e o dever da preguiça. Um milhão e trezentos mil desempregados tornaram-se o mel e o fel deste regime. Se por um lado o seu aumento garante a moeda de troca que o governo usa para empenhar na boda da troika, por outro são um exército de reserva que não tendo nada a perder, está disposto levar a luta até à s últimas consequências.
A esquerda que insista em manter-se à margem e a direita que persista em continuar no caminho que se cuidem. O grito de revolta de hoje é apenas o principio.
Comunicado de Imprensa do MSE:
Isto são mentiras. Mentiras comprovadas pelo valor real de 1 milhão e 300.000 desempregados, com 800 novos a surgir todos os dias. Mentiras comprovadas por centros de emprego que todos os dias se enchem – não para oferecer empregos, mas para tratar os desempregados como criminosos que precisam de ser controlados.
Mentiras de bancos que engoliram e continuam a engolir milhares de milhões dos nossos impostos mas que depois não se dignam a dar crédito à s empresas nem pensam duas vezes antes de meter famÃlias no olho da rua porque não há trabalho com que pagar o empréstimo imobiliário. Mentiras de governantes que endividaram os trabalhadores, os seus filhos e os seus netos para construÃrem estradas que ninguém usa para poderem passear por Paris e Bruxelas, de bolsos cheios.
Com números destes, o que quer que saia da boca de Passos Coelho, VÃtor Gaspar ou do Ministro do Coiso sobre o desemprego, não tem outro nome senão histórias da carochinha. Este desemprego não é um acidente nem é culpa dos portugueses. É uma polÃtica. É a polÃtica de quem serve os bancos, de quem beija a mão das grandes fortunas, de quem faz vénias aos desmandos das Merkels deste mundo.
Porque ama esta gente o desemprego?
Porque o desemprego é a ferramenta que o sistema neoliberal usa para destruir o emprego com direitos e salários dignos. São a ameaça que pesa sobre a cabeça daqueles que ainda têm um emprego, para os obrigar a aceitar mais um corte, mais uma hora de trabalho, mais uma indignidade, mais um abuso de poder.
E nisto tudo os portugueses aprenderam a sofrer em silêncio. Sofreram a injustiça, sofreram as mentiras, sofreram o medo do amanhã sem saber como dar de comer aos filhos e a quem amam. Sofreram uma vida de pesadas responsabilidades e magros direitos – e agora até esses poucos nos querem arrancar – “Apesar de tudo o que trabalhas e sofres por este paÃs, se adoeceres não trataremos de ti. Se envelheceres, morrerás à fome. Se tiveres filhos, não os poderás visitar quando tiveres saudades porque eles terão partido para uma terra distanteâ€.
E neste sofrimento, os portugueses ganharam uma força que desconhecem. Enquanto governantes e gananciosos se engordaram à nossa conta, nós aprendemos a fazer o impossÃvel com uma mão cheia de coisa nenhuma. E este sofrimento que carregamos ao peito, está na hora de sair como um grito que diz BASTA! Um grito que diz que somos muitos, que não temos medo porque já não temos nada a perder, que somos um milhão e 300.000 com o apoio de muitos mais. Um grito de promessa aos governos do desemprego: vão arrepender-se do dia em que fizeram do emprego, exploração.
Unidos pelo Direito ao Trabalho e à Dignidade!
Parabéns Renato pela tua tenacidade. Independentemente da não coincidência total de pontos de vista polÃtico contigo, estou absolutamente seguro que este paÃs seria outro se mais jovens tivessem a tua força anÃmica e persistência na procura de soluções. Seja qual for o resultado de mais logo foi já um êxito o Movimento de que foste um dos principais animadores. Movimentei-me também como resposta a uma dinâmica que não podia deixar de a ter, porque não queria ver desperdiçado o esforço de gente que estava a tentar “fazer†e recusa a deixar-se anestesiar. Ganharam os Sem Emprego já, pela visibilidade que acabaram por conseguir. Agora mesmo tenho estado a ver e a ouvir as notÃcias na TV que anunciam a manifestação de mais logo. Parabéns a todos.
Bonita ilustração do cartaz, com uma sugestiva imagem da classe operária.
Fica como um bom testemunho, numa época em que tanta gente insiste em negar que continue a existir “classe operária”, isto é, a classe de produtores que se opõe e deverá governar contra todos aqueles que nada produzem mas se apropriam indevidamente do que é produzido
Até já!
Com o control do pcp não vão a lado nenhum mas tambem é isso que o pcp quer.
Toda a minha solidariedade!
“Este desemprego não é um acidente …”.
Ora aà está uma grande verdade! o bem estar de que se usufruia, e que mantinha tantos empregos, era financiado com dÃvida.
“…nem é culpa dos portugueses.”
Ora aà está uma grande mentira! Os polÃticos e os banqueiros ganharam votos e chorudas gratificações na presunção de que alguém haveria de ‘pagar o pato’! E a toda a acomodação do povo à crise não é mais do que o reconhecimento de que todos consentiram no que era, a toda a evidência, uma grande burla!
E vamos continuar na merda enquanto não acabarmos com as regalias desse povão dos ‘bens não transaccionáveis’ que continuam a mamar à custa dos poucos que ainda têm empregos que efectivamente criam valor para o paÃs.
Pingback: “Que venham ventos virar-nos as quilhas” | cinco dias
Lavrov, falando pela URSS, perdão, Rússia, em Genebra (Suiça), em Conferência Internacional, afirma que NENHUM DIRIGENTE actual da SÃria, deverá ser excluÃdo de candidatar-se . . .
FOI COMO Cà em 1976, M. Caetano, também não foi impedido, pois não?
ATENÇÃO, CUIDADINHO : a minha posição sobre o estado novo está aqui profusamente documentada: Para que os cães não continuem a ladrar.
Mas porque será que “licas” continua a carpir as suas mágoas em estilo canino?
Quando sentem a necessidade de repetir constantemente que não são fascistas…
No discurso, M Caetano transformou Portugal numa democracia “organica” e acabou com a Pide. No dia seguinte o paÃs estava igual
O licas não é fascista eheheheh.
A gente já sabe, licas. Nem precisavas afirmar essa evidencia
(eu sou o Sto Antonio, ando aqui disfarçado com o nome de criança)
Pingback: O que levou a esquerda parlamentar e a CGTP a ficar à margem do protesto pelo direito ao trabalho? | cinco dias