A 23 Fevereiro de 1975, num comÃcio em Coimbra,  o secretário geral do PCP* dirigiu-se à s forças social-democratas da seguinte forma:
Entretanto, se a social-democracia portuguesa (e quando falo da social-democracia falo no sentido mais amplo, englobando portanto também o PS) se não se lançar em alianças com a direita reaccionária numa tentativa de isolar as forças revolucionárias impulsionadoras e garantes do sucesso da democracia no nosso paÃs e das transformações profundas que a sociedade portuguesa exige, se houver uma modificação dessa polÃtica de divisão e a sua substituição por uma polÃtica de cooperação, ainda que limitada e condicional, é possÃvel, e a nossa ver seria necessário, desanuviar a tensão existente actualmente, melhorar as relações entre partidos, ainda que incertas e condicionais.
Pela sua parte, o PCP, está pronto a considerar em comum todos os problemas de interesse comum e as formas possÃveis de cooperar.
CUNHAL, Ãlvaro “Discursos PolÃticos IV″, edições Avante (1975), pp. 288
Como tenho vindo a referir, penso que o tempo histórico que se vive na Grécia é semelhante ao que se vivia, em Portugal, em 1975. Não porque tenha havido um processo revolucionário, mas porque a democracia está em causa – importa não esquecer que nos últimos meses a Grécia teve um governo não eleito presidido por um antigo quadro da Goldman Sachs.
Esta intervenção de Ãlvaro Cunhal, escolhida entre muitas no mesmo sentido, é um bom registo sob a forma como o PCP encarava e procurava trabalhar com as forças social-democratas naquele contexto histórico – por mais que essas mesmas forças social-democratas encarassem o PCP como o seu principal inimigo.
O Syriza pode contar com os apoios mais duvidosos e até pode titubear nos termos em que critica o capitalismo,  mas se hoje vencer as eleições (possibilidade que vejo como muito difÃcil), isso traduzir-se-á numa pesada derrota para as forças reaccionárias que dominam a Europa e numa vitória para a luta do povo grego.
Mas isto não quer dizer que, se votasse na Grécia, o meu voto fosse parar ao Syriza. O Syriza é uma coligação que balança entre partidos que não têm necessariamente  identidades e ideologias compatÃveis. Caso saia vencedor das eleições, quanto mais esquerda (e, sobretudo, comunistas) houver no Parlamento, mais útil será para a luta do seu povo que não se esgota no dia das eleições. Por isso é decisivo que o KKE também saia reforçado. Que o bom resultado de uns, não implique um mau resultado dos outros.
Aos comunistas gregos (e portugueses**) compete fazer a luta com o KKE e com todos aqueles que estejam disponÃveis para enfrentar a escalada das forças reaccionárias na Grécia e na Europa.
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* A declaração de Ãlvaro Cunhal é feita na qualidade de secretário geral do PCP. A invocação desta frase não implica que, hoje, Ãlvaro Cunhal, se ainda estivesse vivo, subscrevesse a minha opinião. Não sou guardião do seu legado, nem pretendo ser interpretador oficial do seu pensamento.
** Noto, com agrado, os termos com que o PCP prestou solidariedade ao KKE, bem diferentes dos termos deste outro manifesto.
Enfim, alguma clareza…
Um vÃdeo de 2010 para comemorar o afastamento do KKE da actual situação grega.
quando cair a mascara do embuste social democratizante que é o syriza quero ver quem vai ter os tomates para admitir que andou enganado
Tenho muitas discordâncias contigo Tiago neste teu texto, inclusive com esta citação do Ãlvaro que creio ultrapassada e equivocada, mas creio que a tua conclusão final merece a minha concordância: se o Syriza for o mais votado e romper com o poder imperial da União Europeia é uma importante derrota das forças reaccionárias.
Eu considero a situação grega como de natureza muito diferente de Portugal em 1975, mas também considero que não há menos potencial revolucionário na Grécia de hoje.
A situação grega, quer queira a social-democracia (e seus acólitos) quer não, é uma situação de conflito entre a Grécia e a União Europeia, com muitÃssimo potencial se alargar nos próximos a uma situação de conflito entre toda a periferia e todo o centro da Europa. Nada disto aconteceu em 1974 em Portugal ou no Maio de 68 em França. Isto é uma completa novidade.
No entanto eu considero isto uma boa novidade. A Europa nunca será nem solidária, nem de esquerda, nem sequer democrática enquanto não enfrentar o carácter imperialista que continuam a ter, com uma tradição ininterrupta, os seus paÃses centrais (até a Espanha periférica é imperialista no tratamento de bascos, catalães e galegos). O carácter imperialista da Europa tem hoje nome e estrutura, está corporizado até à ponta dos seus tratados pela União Europeia.
A velha social-democracia referida no discurso do Ãlvaro (dos PSs e SPDs e da Internacional Socialista) é na questão imperialista, decisiva para o futuro da Grécia, Portugal e Europa, um elemento totalmente inseparável da classe capitalista e da sua natureza imperialista. Toda a Internacional Socialista (excepto um ou outro partido de Terceiro Mundo que está lá quase por indigência a pedir esmolas aos ricos) é de direita inequivocamente e uma parte da burguesia mundial que toma parte da dominação imperialista planetária, como dizem no movimento Occupy “são os 1%”.
O Syriza faz parte da nova social-democracia, tem uma natureza de classe pequeno-burguesa, e distingue-se claramente da velha social-democracia quer em termos polÃticos quer em termos de classe. Mas naturalmente toda a social-democracia tende a ser absorvida/cooptada pela burguesia, pois é esse o desenlace final de um processo de conciliação de classes.
Voltando ao discurso do Ãlvaro, se o PCP em 75 fosse muito longe em cooperar com o PS acabaria por liquidar o seu próprio carácter marxista-leninista – isto é liquidar-se a si próprio – como aconteceu com o PCF que foi atrás de Miterrand e com o PCE que foi atrás do PSOE, já para não em Carrillos e Berlingers. Ainda hoje o PCE está a implementar polÃticas de austeridade com um brutal corte de salários dos funcionários públicos no governo autonómico da Andaluzia. É vergonhoso!!!
Este tipo de partidos já não são comunistas. Deixaram de sê-lo quando deixaram de ser marxistas-leninistas.
No entanto a situação actual da Grécia é diferente. O que o KKE deve fazer está claro (para os camaradas gregos) que não é entrar numa dúbia e nebulosa “cooperação” com o Syriza mas sim apoiar e pressionar o Syriza em todas as medidas que cumpram as suas promessas de rasgar o memorando e nacionalizar a banca – as medidas que efectivamente vão no sentido anti-imperialista e revolucionário de golpear o capitalismo europeu. O KKE deveria estar disponÃvel para dar apoio parlamentar (sempre que for justo) e também creio que devia aceitar convites para reuniões transparentes (e não à socapa) com o Syriza. Mas faz muito bem em não aceitar ficar “debaixo da asa” do Syriza e ser o partido independente da classe trabalhadora que sempre foi.
Tretas, o KKE o o Financial Times estão neste momento, do mesmo lado da barricada, o resto é conversa para entreter papalvos.
Sim claro, e mais nada?
A um bom texto (torno-o a repetir e faço minhas as palavras de João Pais), responde este “papalvo” desta forma, com o rancor próprio de quem se preocupa mais com o umbigo pessoal e partidário do que outra coisa.
A um bom e esclarecedor texto,responde este, com o financial times debaixo dos braços.
Esclarecedor
E eu não o escreveria melhor, caro Tiago. Apesar de alguém pensar que a crÃtica e a dúvida embotam necessariamente a análise polÃtica justa, no sentido comunista que ela no nosso caso tem.
E um vÃdeo a lembrar a incontornável participação do KKE na luta contra o garrote financeiro e a democracia-fantoche.
Um bom texto!
É engraçado é que como um blog do uptodate,NINGUÉM falou dos mÃsseis disparados pelos Russos no Mediterrâneo e na Noruega-foi só para inglês(americano e israelita) ver…
Anda tudo adormecido e embrutecido-se a organização terrorista do atlantico norte invadir a SÃria,vai ser o bom e o bonito….A III guerra Mundial está ao virar da esquina,face à politica Imperialista dos ‘democratas’…depioius queixem-se,pq desta vez pode cair na massa merdosa dos votantes europeus..
Uma (pequena) lição de História . . .
De onde vêm os *amores dos Stalinistas* de cá e de lá e a pelos Estados Ãrabes e a *sanha* por Israel podem perguntar os mais novos?
Lá vai um apontamento Histórico . . .
A coisa começou quando o Canal do Suez (Egito), internacional, mas sob domÃnio da Grã-Bretanha, de importância vital para a livre circulação das mercadorias provenientes do Oriente, foi subitamente tomada (1956) pelas tropas do presidente Gamal Abdel Nasser. Foi o inÃcio da chamada Crise do Canal. Israel, Reino Unido e França reagiram pelo que, na ótica da Guerra Fria, levou a União Soviética a declarar-se então (ou já tinha sido estabelecido antes) ao lado do Egito na pretensão de nacionalizar o Canal. Recorde-se que este, no século XIX, foi construÃdo (Lesseps) e pago pela França. Israel invade o Egipto que vencido pede tréguas; depois a paz é restabelecida. Não foi a primeira vez que as nações africanas utilizaram as tensões, o terror nuclear, URSS-EUA, para em proveito próprio se libertarem da situação colonial: nós, portugueses sofremo-lo na pele . . .
“A declaração de Ãlvaro Cunhal é feita na qualidade de secretário geral do PCP. A invocação desta frase não implica que, hoje, Ãlvaro Cunhal, se ainda estivesse vivo, subscrevesse a minha opinião. Não sou guardião do seu legado, nem pretendo ser interpretador oficial do seu pensamento.”
LOL… tu deves ser grande tótó, não Tiago?
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