Assunção Cristas anunciou que quer privatizar as praias. Há uns anos fui com uns companheiros da Rubra em reportagem pela costa portuguesa. Ãamos fazer um filme sobre a resistência dos pescadores de auto subsistência – filme pelo qual fomos premiados – e descobrimos que estes pescadores estavam de facto a resistir a um cenário dantesco de um plano de privatização da costa, elaborado pelo defunto Ernâni Lopes, que agora Assunção Cristas quer pôr em prática. Para os pescadores tratava-se de ter o direito de apanhar dois quilos de peixe e vendê-los, sem pagar impostos, num restaurante – isso era um complemento de reforma ou como se diz por aà a “economia informal” dos pobres. Para o Governo PS tratava-se de limpar a costa daqueles empecilhos para aplicar o Hipercluster da Economia do Mar.
Termino citando uma parte do estudo, que lembra que só há um perigo para a concretização deste plano de rapina: que aqueles que valorizam o passado e a economia tradicional possam «resistir à mudança» (p. 35).
A reportagem completa da Rubra aqui.
Vi a reportagem para o qual o post remete e, salvo erro, a ministra nunca refere a privatização de praias, mas apenas a sua interdição quando não existam razões de segurança. Agradecia que indicasse, para minha referência, qual a fonte da referência à privatização das praias.
Caro António,
Não, a ministra não refere. Como a proibição de pescar na costa também não refere a privatização. O que Assunção Cristas refere é a segurança das pessoas, o que referem no caso da proibição da pesca é a protecção dos peixes! (nota: a pesca lúdica é responsável por 1% da pesca total). Não conheço nenhuma privatização de serviços públicos que se chame assim – chama-se sempre segurança, ecologia, eficiência, moderação, melhorias de serviços e outros eufemismos para evitar a resistência.
O que está em causa de facto é interditar o acesso da população a terrenos públicos, e isso chama-se privatização. E fá-lo em nome de fazer do mar um gigantesco território de acumulação de capital, como se lê nas páginas do Hipercluster.
Saudações
Raquel
Ela que interdite a puta que a pariu! Se eu me quiser suicidar numa praia que não tenha ‘segurança’, não tenho nada que estar a saltar cancelas, vedações ou outra merda qualquer.
Não interdita nada!
A terra, a praia são das gentes e estão aà para respectivo usufruto.
Vamos deixar privatizar as praias como, infelizmente, deixámos privatizar as dunas e as falésias e estamos a deixar privatizar o paÃs todo…
Calma caro JM! A única luta perdida de certeza é a que não se faz. Há 8 anos que o Governo recua sucessivamente nas leis da pesca lúdica por causa da resistência dos pescadores.
A história não é um menir que nos cai na cabeça, é relação de forças.
Saudações
Raquel
De facto, a ministra não fala esplicita ou implicitamente na privatização das praias, pelo a que é abusivo dizer o contrário relativamente a esta notÃcia .
Belo e impressionante vÃdeo, Raquel! A tocante indignação dos entrevistados, aparentemente contida, fala por si!
Obrigado! Vou partilhar no Facebook.