Com a mesma maturidade e radicalidade com que o movimento ocupou o Rossio, decidiu hoje retirar-se, mas só parcialmente. Tivessem sido todas as discussões como aquelas que tomaram qualquer uma destas decisões e estariam hoje milhares de pessoas na principal praça do paÃs. Mas a hora é de sublinhar as conquistas, mais do que fazer balanços crÃticos. A seu tempo lá iremos. Como disse o Youri, a luta continua nos diferentes grupos de trabalho e na actividade das Assembleias Populares que vão continuar a realizar-se até Sábado, à mesma hora, no Rossio, sendo que muitos vêem com bons olhos a possibilidade de as vir a realizar noutros bairros de Lisboa.
O que se passou no Rossio foi antes de tudo uma vitória. Em primeiro lugar colocou em rede centenas de pessoas e dezenas de organizações, que ficaram mais capazes de continuar a luta a partir de agora. Em segundo lugar mostrou que a ocupação do espaço público pode e deve continuar, como forma de resistência e de protesto. Em terceiro, recuperou-se a boa tradição de reunir em Assembleia, debater e decidir polÃtica, e levá-la a cabo com o máximo de unidade possÃvel, garantindo a vontade suficiente para que elas continuem a existir. Em quarto, os grupos de trabalho continuarão o seu trabalho, sendo que já hoje está marcado o lançamento da campanha contra o Bloqueio e o Muro da Palestina (à s 18h30, na Embaixada de Israel), na quarta-feira um protesto contra dÃvida à porta do Banco de Portugal sendo que como foi dito todos os dias continuará a haver Assembleias Populares. O grande balanço e o momento para decidir como vai continuar a caminhar o movimento será no Sábado, dia de reflexão nacional, onde contra o silêncio imposto pela lei eleitoral se irá debater a partir das 15h da tarde.
PodÃamos, claro, ter feito mais, mas já não faremos pouco se nos atirarmos de corpo e alma para as portas que se abriram. As contradições vão continuar a aparecer, mas é importante aprender a fazer delas uma arma e a saber amar o que nos une. Continuemos.
Concordo. Foi um flop total! Meia dúzia de pessoas que pariram zero! Nenhuma utilidade na acção desenvolvida, discussões que culminaram em zero resultados. Nem sequer tiveram impacto na comunicação social. Atrevo-me a dizer que os principais efeitos do M19 foi a erecção que provocaram aos membros (masculinos diga-se) do 5dias!
Vários grupos de trabalho e de debate continuam, assim como as Assembleias Populares. Realizou-se uma manifestação em perÃodo pré-eleitoral e vai-se violar o dia de reflexão. Se não fica com tesão com isto, o que o deixa galvanizado?
Ó(p)timo (procuro concenso no acordo ortográfico 😉
Só discordo de uma parte: “podÃamos, claro, ter feito mais”. PodÃamos também ter feito menos, ou não ter feito nada!
Porra, foi pior que no Gênesis, porque, pelo menos alà (no princÃpio) já tinha um Deus pra garantir um céu e uma terra. Tudo que tÃnhamos eram redes sociais, amizades, telemóveis, um consulado espanhol, uma DÃvida que não é nossa e umas revoluções acontecendo no mediterrâneo.
Fizémos com o que tÃnhamos. Surgiu primeiro um movimento e, com o que tÃnhamos, montamos uma organização (ainda coxa, ainda bem). Não só foi fantástico, está a ser fantástico. Do caos, surgiu uma desorganização cacofónicamente organizada, incubadora de acções, reflexões, contradições, autocrÃticas, idiotices, neuroses, cantos, amizades, aprendizagens e fadigas. Daquà há de surgir boa ordem (contra outra Ordem, a vigente), quiçá sem pastores nem rebanhos, pelo menos no querer.
O movimento continua, só parte dele entrou em suspensão e pelo melhor dos motivos, numa luta de pessoas que merecem respeito, como tantas outras: os acampados não quiseram perder a Dignidade! Quando chegar devida hora, este acampamento será maior e melhor. Mas como disseste, vamos com calma, ainda é cedo para balanço e há acções a fazer (aà sim!) e agendadas. Tudo será feito por gente de bem. Ab!
PS: quanto ao 5 de Junho; não sou máquina de sondagem, mas minhas antenas samsianas apontam para que larga maioria do movimento do Rossio está-se nas tintas com as eleições. Porém, não creio que seja por abstenção (a)polÃtica. Assunto pra conversa de rua, falou..
Elogio da Dialéctica B. Brecht
A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro. Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem
falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domÃnio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caÃdos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o “hoje” nascerá do “jamais”.
Só uma dúvida…vão continuar a amar o que vos une? É que isto parece-me uma continuação da lógica implementada nos orgãos polÃticos que é fecharem-se num nós distante dos outros. Isto é que me faz confusão e me afasta de vocês que nem sei bem quem são. Para mim nós deviamos ser todos, sem excepção.
E amarás tu alguma diferença ou alguma coisa em comum Rita? Do 12 de Março ao 19 de Maio, das lutas dos estudantes às dos trabalhadores, não me lembro de te ver amar o que quer que seja no campo da resistência. Estarei com falta de memória?
amo a diferença e amo o que é comum. com a simples permissa de que seja honesto.
A ver se percebo, camarada Renato!
Pelo que leio do teu post, a tua grande “vitória” foi a possibilidade única de poder discutir, trabalhar unitariamente e “ocupar o espaço público” com aqueles que tornaram impossÃvel a presença de milhares de pessoas na principal praça do paÃs. É isso, não é? Devias fazer como eu: prestar muuuita atenção áquilo que escreves. Um dia chegarás a malhores conclusões.
Abraço fraterno de quem tem muita pena que tenha terminado a mais divertida acção polÃtica dos últimos 30 anos.