
Uma das melhores das que se leram em Lisboa
O Pacheco Pereira deu a linha: “É O PREC! É O PREC! Façamos algo em consonância!” Desanimado, pagou a pelo menos um fotógrafo para lhe fazer um arquivo de todos os grupos organizados e respectivas palavras de ordem, substituindo-se aos serviços secretos e à polÃcia judiciária que, meio perdidas no mural da Geração à Rasca e com alegados terroristas, não perceberam o que ele pressentiu e, zeloso, queria alertar os seus comparsas: “estão todos juntos nisto! Nem pensem em apadrinhar aquilo que a rua neste paÃs é da esquerda.” Como que brandia. A Helena Matos marchou obediente mas disparatada e desatou aos gritos contra os filhos do Boaventura que face à fixação deixa transparecer um mÃnimo de fascÃnio: “Ele é o diabo! O diabo!!!”. Qual adolescente, parece deixar-se seduzir pela estética, do discurso claro, agitprop, que em tempos a levava à s nuvens: “e…llee é um dia-a-abo …gunf”, parece ouvir-se ao ler-se o nervosismo. José Manuel Fernandes, mais prudente, prefere enfiar a cabeça debaixo da terra e repetir até ele próprio acreditar: “Por Deus, eram todos grandes democratas! Por Deus, eram todos grandes democratas!”.
Surpreendentemente, é José Manuel Fernandes quem se revela mais inteligente e percebe por que lado pode esta manifestação ser recuperada para a sua agenda: sendo contra o actual estado de coisas, mas a favor de nada em concreto, este protesto requer apenas um mÃnimo de inteligência táctica para se tornar num argumento a favor da liberalizalização do mercado de trabalho. Vamos ouvir falar cada vez mais de palavras como “mérito” e “justiça” quando se discutir a precariedade. Em polÃtica, todos os espaços vazios acabam por ser preenchidos. E que Pacheco Pereira e Helena Matos não tenham a capacidade de entender isso nada altera nesta situação. O «Professor Marcelo» percebeu bem de mais.
Ora nem mais. É esse vazio que é preciso preencher.
Ainda comecei a ler porque pensei que era o sermão imaginário de Pacheco Pereira aos Pixies mas só depois percebi que não era. E não é que o senhor não tivesse a capacidade suficiente para o fazer porque ele, à semelhança do Couceiro, tanto pode tripular uma nave espacial como escrever sobre a melhor época de plantar mirtilos, ou sobre a obra do Yo Yo Ma ou sobre “o” dinamite. E sempre sem resultados porque nós não os compreendemos.