O baronete Karl-Theodor zu Guttenberg (zu ou von em nome alemão lembra em português coisas como, digamos, de Vasconcellos ou AthaÃde), ministro da defesa alemão, jovem, belo (!), nobre (literalmente), empreendedor, pró-activo – em suma, a corporização de tudo o que este tempo deseja para um polÃtico de futuro, e mais genericamente um jovem de futuro (gente do último Prós e Contras, atentai!) – demitiu-se ontem de todas as suas funções, após a descoberta de que plagiou partes da sua tese de doutoramento na Universidade de Bayreuth. (Bayreuth, a Sintra alemã, santuário da fina-flor da aristocracia, do mÃtico festival que ali a reúne para apreciar grandiosas encenações de Wagner, certamente excelentes tanto quanto exclusivas, mas isso são contas para outros especialistas da tasca, como Vidal).
Diz-se nos media alemães que se trata de uma vitória da decência, da honestidade, da ciência, face a um jovem arrivista que teve a soberba de se julgar superior, e tentar ofuscar com pompa e fotogenia bastantes, valores que tocam no núcleo mais sagrado da moralidade burguesa (o alemão tem a peculiar honestidade de equivaler “civil†e “burguês†na mesma palavra, bürgerlich).
Ocorre dizer: a burguesia alemã anda atrás do espÃrito do tempo! A nossa em particular há muito descobriu a arte de falsificação de tÃtulos e – não menos importante – a arte da relativização que impõe a divisa “Havia escândalos, mas já não háâ€. Eis um préstimo que poderia prestar a estes anacrónicos alemães – que ainda fingem acreditar nessa coisa de honestidade na academia, ou seja onde for – a troco, quiçá, de umas concessões económicas bem urgentes nos dias que correm.
Será que a ida à Alemanha tem a ver com os exames, ao Domingo e por fax?
Bug informático deixa Guttenberg sem aspas
Um bug informático provocou o desaparecimento de centenas de aspas e notas de rodapé da tese de doutoramento de Karl-Theodor zu Guttenberg, o ministro alemão acusado de plágio. “Também há um ou outro trema que desapareceu”, acrescentou Guttenberg. (…)
(são uns meninos, têm muito que aprender)
🙂
Acredito piamente, a mim desapareceram-me referências bibliográficas no mestrado. Felizmente ficaram as aspas, porque não há bicho que as remova!
Na ja, alles klar aber… em alemão von ou zu é “de” AthaÃde, “de” Vasconcellos. (ok, sim, é bem.)
Bem visto, blondewithaphd, embora o “lembra” justamente não seja “é” . Corrigido.
Duplo 😀 😀
os polÃticos já estão falsificados há que tempos. coisas da sociedade de massas. é assim tipo como na “literatura” sec. XXI , depois de semanas a ler páginas ao calhas na livraria dos autores de agora , lá encontramos um assim assim , o resto é tudo porcaria promovida pelo marketing.
Tem razão qb, m. Dessa literatura do séc. XXI que fala, como da música e artes em geral, o nada que se retira é um gozo negativo, aquele limiar em que a coisa dá a volta, que de tão má se torna boa. A literatura do empreendedorismo não costuma falhar nisso. Eu, por exemplo, ando com uma vontade de ler o livro recente de António Carrapatoso que nem lhe digo.
bem , desde que não ande em pulgas para ler o josé rodrigues dos santos ou similar nacional ou estrangeiro , tudo bem :)). esse do António não sei o que dirá , deve falar de bancos e empresas xpto opus dei . mas é de senso comum que bancos só para guardar as poupanças , que os tipos são uns ladrões. recomendo-lhe antes ” economista acidental” de um tal Miguel Szymanski . Não sei quem é , mas ouvi-o na Antena 3 e fiquei fã. small is beautiful !
Excelente, a fotografia!!
A litrada e o azul de fundo! Verdadeiramente claro!!
Gostei bastante da “a burguesia alemã anda atrás do espÃrito do tempo”. Mas poderia também dizer-se que a mesma “burguesia alemã” produz o espÃrito do tempo.
É evidente que creem e não desesperam!!
O menino Zé Reis anda muito debordiano… Os leitores agradecem.
Mas permita-me discordar num ponto importante: ao contrário do bife, da cerveja ou da música (por ex. propagandeada pelo seu coleguinha de tasca), os ‘polÃticos’ não se falsificam; porque eles são já os falsos mediadores a que os habitantes da pólis recorrem para solucionar os seus problemas. Digo que são os ‘falsos mediadores’ na medida em que não colocam nenhuma das questões que permitiriam abordar e resolver esses problemas: a escravatura assalariada (trabalha-se de dia e na flor da vida; ‘vive-se’ à noite e depois dos 70; nota: a palavra ‘vida’ está hoje fora do discurso ‘polÃtico’; ela é monopólio do discurso publicitário; outra nota: estivemos 10000 anos a construir a civilização SEMPRE com a ilusão de que assim estarÃamos a reduzir o tempo dedicado ao trabalho e hoje trabalhamos mais horas do que os caçadores recolectores do PaleolÃtico; e fodemos, cantamos e jogamos bem menos do que eles), a falsificação/poluição da comida (e do resto), a configuração milimétrica do quotidiano à medida dos bens (automóveis, telemóveis…) criados pela indústria, etc, etc.
(Enfim, são todas as questões que este blog, no seu reaccionarismo tão caracterÃstico deste tempo, tão pouco costuma colocar.)