Nestes dias de revoluções aconselho-vos a leitura de dois artigos publicados em França:
- De Alain Badiou Tunisie, Egypte : quand un vent d’est balaie l’arrogance de l’Occident que analisa de forma muito pertinente a postura arrogante dos dirigentes e comentadores ocidentais face às revoluções árabes. Espero que as desilusões que forçosamente virão não desmintam a visão optimista de Badiou.
- De Francois Hien En Irak aussi, la population se soulève pour la démocratie uma interessante análise sobre o Iraque e uma interrogação a propósito da ausência de notícias sobre as manifestações pró-democracia no Iraque.
Para complementar estas reflexões deixo a minha interrogação sobre a ausência de informações a propósito das manifestações pela democracia nos Camarões. A informação da existência de manifestações contra Paul Biya, presidente desde 1975 e grande aliado da França, chegou-me através de um colega camaronês. A imprensa ocidental quase nada tem dito sobre este assunto as poucas informações chegam-nos directamente através do net africano: aquí, aquí e aquí.
Obrigado, Pedro.
Este também vale a pena: http://www.lemonde.fr/idees/article/2011/02/24/paris-texas-une-proposition-politique-des-mis-en-examen-de-tarnac_1484538_3232.html
Merci monsieur !
🙂
Renato,
Adorei (fosga-se!) o seu “muito pertinente” Badiou, e ficquei com a impressão de que você não tem lido os jornais ou não tem tido dinheiro para os comprar ou desliga a TV quando as notícias não lhe agradam.
Estes Philosophes de esquerda (a França tem produzido centenas deles, mas Esquerda Realité no governo, tal como o povo exigente a entende, está quieto ó mau) metem-me nojo pela facilidade com que mudam de camisa nas arengas postulatórias para impingirem as suas novas reformulações da luta de classe ideal em tempo de vigarice. Agora já não é “mouvement communiste”, temos melhor e virado do avesso: “mouvement de communisme”, que é o mesmo que dizer que já não se atravessa o deserto a camelo, porque isso seria tirar o valor aos jeeps de tracção às quatros rodas.
E depois mentem, exactamente como o grande Badiou fez, puxando a sardinha à brasa que lhe convinha, “Le mot “démocratie” n’est pratiquement pas prononcé en Egypte”.
E fala a verdade quando diz: “Oui, nous devons être les écoliers de ces mouvements, et non leurs stupides professeurs”. Seguindo isto com uma descarada série de conselhos do alto da cadeira, criando nas pessoas que o leram a sensação que estavam na escola primária. Granda gajo.
Bom, o outro, o Hien que você nos apresentou, especialista muito espertalhão, diz isto, como que a convidar-nos a jogar no loto ou a ir à bruxa: “Au fond, la violence en Irak est devenue tristement coutumière. On NE SAIS PLUS qui en rendre responsable : les forces d’occupations, leurs supplétifs privés (mercenaires employés par le gouvernement américain…), le fantoche pouvoir irakien, ses différentes factions (milices sectaires), la résistance intérieure patriote…”.
Se não sabe é porque anda muito confuso da cabecinha, digo eu. Será que o gajo também é filósofo? Esclareça isso urgentemente, Ó Renato.
O autor deste post não é Renato, é Pedro, e o senhor Kalimatanos não sabe ler.
O texto de Badiou é absolutamente notável, e muito mais constatativo do que parece: diz o óbvio (e que deve residir nas nossas cabeças): uma comunidade minimamente unida e determinada pode derrubar o poder de estado, tome ele a forma que tomar. E mais, esse derrube pode e deve ser realizado sem se estar indefinidamente à espera do “voto”.
O acontecimento popular sobrepõe-se sempre à democracia que conhecemos.
As minhas desculpas ao Pedro e ao Renato, sem dúvida, evidentemente devidas. Quanto ao “óbvio … que deve residir nas nossas cabeças”, isto é, “que uma comunidade minimamente unida e determinada pode derrubar o poder de estado, tome ele a forma que tomar” a mim parece-me mais uma promessa no ar que, para ser amável, concedo se possa chamar uma “teoria com sepultura prometida” para breve. Mas se estiver enganado, há sempre essa possibilidade, tenho que rever isso, possivelmente adaptá-la a xarope para umas quantas ideias extravagantes que tenciono pôr a residir nas cabeças dalguns dos meus correlegionários. Nada mau, e ainda por cima talvez fiquemos amigos, talvez vá começar a aprender Arte para ter debates consigo, já para não falar nas óbvias vantagens mútuas para ambos numa comercialização da coisa doce.
Isto é no que dá chegar a casa e ligar a TiVú na AlJazeera…
Acabei de ver o meu antigo profe de Electromagnetismo /Fisica III, Técnico, a dar umas opiniões sobre os assuntos “quentes”.
Nome : António Guterres.
Coitado, está tão velho…
🙁
Caro Pedro,
Quanto à ausência de notícias acerca dos Camarões, há duas coisas muito chatas com as manifestações, revoltas, massacres e genocídios na África sub-sariana:
Primeiro, as pessoas que lá vivem são muito escuras, pelo que só dão uma notícia fixe quando os filhos deles estão com o ventre inchado e a pele colada às costelas.
Depois, os tiramos que por lá há ou são libertadores do jugo colonial, ou os descendentes dos tais libertadores, ou libertadores que libertaram o povo dos libertadores originais (normalmente, fazendo ainda pior), pelo que o racismo é sublimado em culpa pós-colonial, ou em solidariedades com o que os tais tiranos fizeram de bom há 35 ou 45 anos atrás. E em silêncio. Que, na maior parte dos casos, nem chega a ser envergonhado.