Este post notável do Jorge Bateira é indispensável para perceber a espiral do disparate neoliberal:
E para dar mais força ao argumento, diziam: “ponham os olhos na Espanha que não deixou apodrecer a situação e cortou a despesa logo em Maio. Agora pagam taxas bem inferiores à s nossas.” E parecia que tinham razão.
Mas não tinham. Como temos explicado no Ladrões (mais recentemente aqui e aqui), quer a boa teoria económica – aquela que deixa a realidade questionar os seus pressupostos e as causalidades que propõe – quer a trajectória recente dos paÃses do euro que aplicaram a polÃtica económica do FMI, dizem-nos que polÃticas de austeridade em perÃodos de recessão são contraproducentes, sobretudo quando não podem ser apoiadas por desvalorizações competitivas.
Ou seja, os paÃses do euro que adoptaram a austeridade continuam a apresentar “fracas perspectivas de crescimento”, o que aliás levou a uma recente queda da notação da dÃvida irlandesa. Em consequência, a Irlanda já está outra vez a pagar juros proibitivos. Mas foi para acalmar estas agências que o governo da Irlanda tinha reduzido os salários dos funcionários públicos por duas vezes num total de mais de 20%.
Este “investimento”??????????!!! AHAHAHAH.
Leiam sff
Passos Coelho e o complexo bancário-construtor
O Dr. Pedro Passos Coelho foi eleito presidente do PSD em 27-3-2010.
Estamos em 16-5-2010. Teve, por aqui, cinquenta dias de graça.
A minha opinião sobre a sua candidatura e o que representava foi clara
no perÃodo anterior à sua eleição e no acto da sua vitória: entendia
que representava alguns interesses muito prejudiciais ao PaÃs e ao PSD
e que a sua eleição seria, por isso, muito desastrosa, ainda mais pela
época crÃtica que se atravessava. Mas o facto da sua eleição devia ser
respeitado, com a concessão de um tempo de graça, um tempo de prova em
que ele pudesse contrariar a minha análise e enfileirar uma linha
justa ou perder-se sem remédio na teia que já o envolvia.
Pedro Passos Coelho não contradisse a expectativa que eu tinha e
expressei. Pelo contrário, agravou-a. Depois de um perÃodo inicial em
que, distanciando-se da imagem de criado da profana eminência parda
Ângelo Correia, mostrou prudência e sentido de Estado, nomeadamente na
questão presidencial, e certa ousadia ideológica – em seguir a
proposta de que, com excepção de doentes e inválidos, não deve haver
prestação social sem trabalho social -, não demorou a ceder aos
interesses económicos de bancos e construtoras. Não era uma
inevitabilidade: após a eleição, Passos Coelho podia seguir um caminho
próprio, passar a representar a vontade do PSD e a interpretar o
desÃgnio nacional, renegando a imagem de testa di ferro* – de
interesses económicos e que excedem, agora, muito o universo
pardacento da Fomentinvest. A eminência parda é agora uma hidra com
várias cabeças, muito mais poderosa.
Tenho para mim, e para os leitores, que o acudir de Pedro Passos
Coelho a José Sócrates, na véspera da quarta-feira negra, de pânico na
dÃvida soberana de Portugal e de queda das bolsas, que redundou no
pré-acordo de 28 de Abril de 2010, foi um movimento ditado pelos
interesses económicos em questão. A bancarrota do Estado português, em
7-5-2010, que aqui denunciei, e a submissão de Portugal a um regime de
protectorado da UE-FMI, na cimeira europeia de 9-5-2010, consolidaram
o entendimento. E foram esses mesmos interesses que se lhe impuseram
no inédito pacto de governo da madrugada de 13-5-2010, em que, à parte
os interesses que mamam, um partido chucha e o outro chora, e o
obrigaram a «dar a mão» a José Sócrates. A maratona negocial entre os
lugares-tenentes Fernando Teixeira dos Santos e António Nogueira
Leite, que, segundo o Expresso (de 15-5-2010) foi concluÃdo à s 6:55 da
manhã, que entretanto promete uma redução adicional do défice em 2011
para 4,6% do PIB, foi motivada pela necessidade de enterrar o pacote
da austeridade (o tal segundo Programa de Estabilidade e Crescimento,
para substituir a irresponsabilidade do primeiro), debaixo da
ubiquidade noticiosa da celebração papal de Fátima, no 13 de Maio de
2010, esvanecendo a indignação imediata pela dureza das suas medidas.
Com natureza de escorpião, o primeiro-ministro fez constar que era
mais suave no plano fiscal, e mais preocupado com as pequenas e médias
empresas, do que o PSD queria, quando, segundo o Expresso de
15-5-2010, subiu, nesse acordo, a isenção de aumento do IRC para as
empresas até dois milhões de euros de lucro; e mandou criticar o
parceiro de acordo pelo facto de Passos Coelho ter pedido desculpa aos
portugueses pelo apoio à austeridade e aumento dos impostos do Governo
Sócrates!…
A reunião de pré-acordo PS-PSD entre Sócrates e Passos Coelho, no
fatÃdico 28-4-2010, quando o Estado se encontrava à beira da
bancarrota (que aconteceu em 7-5-2010), decorreu na mesma manhã em em
que o Governo socialista celebrou o contrato de concessão rodoviária
do Pinhal Interior (variante do Troviscal e outras obras absolutamente
urgentes e imprecindÃveis) no valor de 1,244 mil milhões de euros (que
fez crescer a dÃvida portuguesa em mais de cerca de 1% face ao Produto
Interno Bruto-PIB) ao consórcio Mota-Engil/BES. Não acredito que essa
concessão, que faz crescer a dÃvida portuguesa face ao PIB em cerca de
1%, não tenha sido discutida, nem que Passos Coelho se tenha oposto
veementemente a que tal sucedesse – se assim fosse, o lÃder do PSD
expressaria a sua indignação especÃfica com tal procedimento de má-fé
negocial e denunciaria o pré-acordo logo nessa noite ou nos dias
seguintes. Porém, nada li da indignação do lÃder do PSD com esse
absurdo despesismo do Pinhal Interior na pré-eminência da bancarrota
nacional, o que me leva a supor ter sido consentida essa concessão.
Mais ainda, o Governo socialista celebrou o contrato de adjudicação do
patético troço do TGV Caia-Poceirão em 8-5-2010, no valor de 1,494 mil
milhões de euros ao consórcio liderado pela Brisa e Soares da Costa,
que representa mais de 1% da dÃvida pública portuguesa face ao PIB, na
mesma altura em que decorria em Bruxelas a reunião crÃtica em Bruxelas
para impor a José Sócrates as medidas de austeridade a tomar por
Portugal face à bancarrota do Estado português, que tinha ocorrido na
véspera, medidas essas em contrapartida de uma linha caritativa de
crédito adicional e do compromisso dos bancos centrais em comprar
dÃvida portuguesa para evitar a subida exponencial dois juros… E
também neste caso não vi o PSD a denunciar o acordo por má-fé
socratina, o que me leva a crer que esta concessão tenha sido
consentida, por mais que se disfarce. Como se vê, cerca de dois por
cento de aumento de dÃvida face ao PIB consignados a obras públicas
não urgentes e de escassa utilidade imediata, mais ou menos o que se
pretende poupar no défice em dois anos à custa do bem-estar do povo,
nos salários, pensões, subsÃdios e impostos – e não se diga que essa
questão não se põe por causa da diluição dos encargos ao longo de
dezenas de anos, pois a dÃvida aumenta, o serviço da dÃvida aumenta,
os juros aumentam e a credibilidade financeira da República Portuguesa
diminui. Em conclusão deste assunto, verifica-se também um pacto de
grandes obras públicas entre Sócrates e Passos Coelho, em que metade
desta despesa de cerca de 2% da dÃvida pública face ao PIB, é para a
Mota-Engil/BES e outra metade para a Brisa, do Grupo José de Mello, e
a Soares da Costa, da Investifino, que aumentam o endividamento do
PaÃs e diminuem o bem-estar dos portugueses, sem que o povo se
tranquilize quanto à solvência do Estado. E, estranhamente, Bloco de
Esquerda e PC alinham nesse despesismo absurdo das grandes obras
públicas, realizadas á custa do bem-estar do povo.
Para os interesses económicos predominantes no PaÃs, Pedro Passos
Coelho significa uma emulação fresca de José Sócrates e mais
defensável. Não, por acaso, as sondagens começam a fazer um caminho
inverso, numa tentativa sistémica de reciclagem ambiental do
primeiro-ministro que tem o consenso geral, mesmo no PS – com a
excepção do próprio Sócrates… Sócrates, que veio da Cova da Beira para
a capital ainda agarrado aos conhecimentos regionais, evoluÃu, depois
de chegar ao Governo, para um entendimento trinitário, sem perder a
tutela profana omnipresente, que se junta nas alturas mais crÃticas
quando teme que o poder possa cair… no povo. A mesma tutela, e os
interesses do mesmo género, têm confiança de que Passos Coelho seguirá
a mesma polÃtica promÃscua e de submissão áquilo que posso chamar, na
acepção do general Eisenhower, o complexo bancário-construtor. O
desperdÃcio do dinheiro do Estado em investimentos faraónicos absurdos
tornou-se um problema tão grave quanto o ócio socialista da
subsidio-dependência.
Nenhum lÃder da oposição ignora que a co-responsabilização por um
programa de austeridade, de um governo mortalmente afectado pela
corrupção, lhe é prejudicial e ao seu partido: o consolo dos eleitores
socialistas pela atitude de Passos Coelho não traz um voto ao PSD.
Pedro Passos Coelho poderia ter feito como Mariano Rajoy, que
responsabilizou o Governo Zapatero pela situação dramática de Espanha
e apresentou um plano alternativo ao plano de austeridade do Governo
socialista, deixando ao Governo de José Sócrates a responsabilidade
pela tragédia das finanças públicas e da economia nacional e pela
decisão de um pacote de austeridade que aumenta a receita à custa do
bem-estar do povo em vez de diminuir a despesa das obras públicas
socraónicas. Não é do seu interesse eleitoral arrostar com a culpa e o
contágio do socratismo.
Nem é do interesse do PaÃs a aliança com José Sócrates. A decisão de
Passos Coelho apoiar o pacote de austeridade de José Sócrates não se
pode justificar com o patriotismo. A linha patriótica não consente
qualquer aliança com este PS ou co-responsabilização do PSD pelo
pacote de austeridade do Governo Sócrates. Por dois motivos: porque a
substituição do Governo socialista e a sua responsabilização é uma
necessidade da recuperação nacional e porque o pacote de austeridade,
mais o que tem escondido, é nefasto para as finanças e a economia do
PaÃs. A constituição do novo bloco central de Sócrates-Coelho prolonga
a agonia do povo e penhora ainda mais o Estado à satisfação dos
interesses de grupos bancários e de obras públicas.
Por tudo isto, julgo que a liderança de Passos Coelho, e da sua
direcção, está a ser um desastre para o PSD e o PaÃs. Portanto, deve
ser criada no PSD uma alternativa justa, moderada, reformista e sem
qualquer compromisso com o socratismo que se prepare, durante esta
inevitável erosão do governo socialista e as elições presidenciais,
para servir o PaÃs em representação do povo.
Pós-Texto (23:45 de 17-5-2010): Beijos de Judas e o tango de Sócrates
com Passos Coelho
A alegada posição de Miguel Frasquilho, o economista do grupo EspÃrito
Santo que faz parte da entourage de Passos Coelho, expressa no
relatório «A Economia Portuguesa – Maio de 2010» da EspÃrito Santo
Research, de elogio da «consolidação das contas públicas do Governo de
José Sócrates» e onde, de acordo com o jornal, «assegura que Portugal
não enfrenta riscos de liquidez, evoca o PEC para realçar os esforços
do Governo para reduzir o défice das contas e reafirma a sua confiança
no crescimento económico impulsionado pelas reformas estruturais» é
mais outro ferroada de Sócrates a Passos Coelho, por intermédio da
central governamental de informação, produtora dos tais conteúdos e
veiculada pelos meios de confiança, neste caso o DN, de 17-5-2010.
Beijos de Judas que culminam na frase assassina, e de muito mau gosto,
de Sócrates que, hoje, no Foro ABC, em Madrid , revelou Passos Coelho
como seu parceiro de… tango (i, de 17-5-2010):
«Como se diz em espanhol [sic] para dançar o tango são precisos dois.
Durante muitos meses não tinha parceiro para dançar. Felizmente houve
uma mudança na oposição. Tem agora um lÃder que olha para a situação
com responsabilidade e patriotismo».
Sócrates é um dançarino que morde depois de beijar. E Passos Coelho
não recuperará desta ferida.
Agradecia ao Nuno Ramos de Almeida que apagasse do m/ comentário isto:
“tembro 30, 2010 at 2:34 pm
A ler:
http://desmitos.blogspot.com/2010/09/o-preco-da-irresponsabilidade.html
anahenriques Diz:
Setembro 30, 2010 at 2:48 pm”
… que nada tem a ver com o artigo do autor Do Portugal Profundo que transcrevi por demonstrar um “tipo de investimento” de lobbi de interesses e que nada tem a ver com o desenvolvimento do paÃs e o bem estar dos portugueses.
Obrigada.