Nesta quentura que nos cerca, parecem só chegar notÃcias de fogos e de mortes que não querÃamos ouvir.
Faleceu Ruy Duarte de Carvalho, um desses homens que tiveram a felicidade de ser muita coisa (poeta, artista plástico, cineasta, escritor…), entre elas antropólogo.
É essa a faceta que mais recordo, agora. Sobretudo, aquele livro quase tão sensÃvel como o seu tÃtulo – Vou Lá Visitar Pastores.
Saberão eles?
“Gupuglu”?
Não faço ideia, e perguntava.
O mais perto daà que realmente conheço é Moçambique, a uns bons milhares de quilómetros e lÃnguas bem diferentes.
Mas é certamente alguma coisa que sentirão os tais pastores que ele “visitava”, quando souberem da notÃcia.
Realmente, uma pena.
Toda a obra publicada pelo Ruy vale a pena.
O estudo que fez aos pastores, sua paixão de várias décadas, é um legado para a história de Ãfrica, e de Portugal, inestimável.
A lucidez e a universalidade com que o Ruy olhava para aqueles homens e mulheres, povo antigo, habitante dum dos mais belos territórios do nosso mundo, dá a quem quiser perder-se pelas páginas e páginas do seu Namibe, razões de sobra para pensar o mundo de forma mais completa.
A mim ajuda-me.
Por exemplo e lendo muito do que pelo 5dias se escreve, seja em forma de “post” ou comentário, lendo as certezas duns, os horizontes tolhidos doutros, percebendo à s vezes como nos podemos perder numa irrelevante discussão, lembro-me que o Ruy poucas certezas tinha, mas via nos Kuvale a força de acabar com bastantes dúvidas.
Morreu um homem bom.
Morreu um pastor.
Eis-me aqui
eu sou Koumen.
O céu sorri sobre a minha cabeça
a terra freme sob os meus pés
o meu sopro estremece os ramos.
Estou diante do curral.
Esta é a primeira clareira
tecida das ramagens da maravilhosa bétula
e do virtuoso diospiro.
As suas flores sorriem para o meu gado.
in Ondula, Savana Branca
Belo.