Hoje lembrei-me de UxÃo, poeta galego.
A UxÃo Novoneyra (não digam que não adoram o nome, pronunciem o -x- como o Sh- de Shakespeare num lascivo perder o ar) foi-lhe dedicado o dia das letras galegas deste ano (já falaremos noutra ocasião dessa celebração-litúrgica de enaltecimento de autores mortos).
Hoje, ainda ecoando o acontecido em águas internacionais por piratas israelitas e vendo como há quem tenha a pouca vergonha de negar o gueto e fazer piadas sobre o assunto, lembrei-me de UxÃo, homem da esquerda.
Lembrei-me, dizia, de um dos seus poemas mais conhecidos, filho estético e temático doutra época. Doutra época?
UxÃo foi vendido historicamente como poeta da contemplação, telúrico. Resiste-se bem a isso. A Unamuno doÃa-lhe Espanha, a UxÃo o Vietnam e com certeza a Palestina.
Manuel Rivas tem um artigo no que fala disso (também de UxÃo, curiosamente), da famosa dor de Espanha de Unamuno. Numa ocasião perguntou-lhe um jornalista: “Ao senhor doi-lhe Galiza?”. “A mim? A mim doi-me tudo!”. A UxÃo também lhe doÃa tudo.
Encontrei um pequeno discurso de UxÃo, no 25 aniversário da primeira vez que José Afonso (não sei se conhecem, o mais português dos cantores galegos) cantou em palco o Grândola Vila Morena. Fora no 10 de maio de 1972, em Compostela, quando o Zeca, depois de participar no concerto feito para os estudantes, decidiu acabar com essa música e acompanhado dos seus camaradas galegos.
UxÃo fala daquele concerto, daquela revolta que, no curso de 67/68, enfrentara aos estudantes galegos contra o franquismo e também da alegria de saber da revolução em 74. Depois recita, coa sua voz de poeta velho, o Grândola. Todo um luxo.
Hoje lembrei-me de UxÃo e da LETANÃA DE GALICIA na que di:
“GALICIA da dor chora á forza
GALICIA da tristura triste á forza
GALICIA do silencia calada á forza
GALICIA da fame emigrante á forza
GALICIA vendada cega á forza
GALICIA tapeada xorda á forza
GALICIA atrelada queda á forza.”
E remata com:
“sabemos que ti podes ser outra cousa
sabemos que o home pode ser outra cousa.”
Saúde, UxÃo!
Muito boa posta e melhor ainda a dica. Mas diria que quer o poeta quer a posta serão algo nacionalistas, não? 😉
Interessante, muito interessante e muito obrigado.
Um destes dias, tenatarei contribuir para o tema.
A.
Renato: Nacionalista e marxista convencido, por se fosse pouco. Essas coisas esquisitas que temos na Galiza, afortunadamente. Ainda tenho pendente ler o tal artigo do João Bernardo e ter uma conversa com ele. Suponho que não somos inter-nacionalistas apesar de sermos nacionalistas galegos e mais bem por ser-mos nacionalistas galegos é que somos inter-nacionalistas. Mas de alterações do Subcomandante Marcos não vive ninguém.
Antonio: Agora já ficou escrito, essa contribuição terá que aparecer!
“A mim dói-me tudo!”. Muito bom.
“Anque as nosas palabras sexan distintas e ti negro e eu branco, entendo semelhantes as feridas. Como a un irmao che falo”.
(Celso Emilio Ferreiro, outro inter-nacionalista(galego) e marxista).
http://www.youtube.com/watch?v=EBFZxhCjgyo
letra:
http://gl.musikazblai.com/fuxan-os-ventos/irmaus/
Ai Morgana! Doicheme tudo!!!
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