Prossegue no jugular a série “Coisas que me fazem feliz” já saudada pela crÃtica, agora em posts multimédia. Nela, Fernanda Câncio revela um fetiche por sandálias que lhe valeu alguns enxovalhos, e imerecidos, porque não há desonra em gostar de sapatos nem nenhum mistério na relação entre o calçado e a felicidade. Já Machado de Assis observara o fenómeno nos homens do seu tempo, dedicando-lhe mesmo um capÃtulo inteiro nas Memórias Póstumas, chamado “A propósito de botas”. Recuperado em tempo recorde do desgosto de amor que infligiu a Eugénia, a bonita mas coxa Eugénia, conclui Brás Cubas que a vida oscila entre o desconforto dos sapatos apertados e o alÃvio de os descalçar – o que tem como corolário lógico que andamos todos mortos por descalçar a bota, forma afinal de “felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro“. A observação é reforçada por uma personagem de um conto de Assis, de uma antologia que reli este fim-de-semana. O filantropo deixa dito em testamento que a felicidade é um par de botas, e ordena que o seu legado seja gasto nas ditas, a distribuir pelos mais necessitados. A espantosa disposição testamentária tem explicação: incapaz de alcançar uma felicidade que o iludiu, vÃtima de azares sucessivos, o benemérito vê um dia um transeunte ir risonho e absorto na contemplação das botas novas. “Esse homem, tão esbofeteado pela vida, achou finalmente um riso de fortuna. Nada vale nada. Nenhuma preocupação deste século, nenhum problema social ou moral, nem as alegrias da geração que começa, nem as tristezas da que termina, miséria ou guerra de classes, crises da arte e da polÃtica, nada vale, para ele, um par de botas. Ele fita-as, ele respira-as, ele reluz com elas, ele calca com elas o chão de um globo que lhe pertence. Daà o orgulho das atitudes, a rigidez dos passos, e um certo ar de tranquilidade olÃmpica… Sim, a felicidade é um par de botas…“. De botas, ou sandálias: Machado de Assis, que emendou Séneca, não levaria a mal a interpretação extensiva; e eu, como ele, digo-vos: “Boa noite, e calçai-vos!“.
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As minhas sandálias deixam-me apenas vagamente feliz…
Ao contrário da Câncio e do seu ego, prefiro sempre mirar as sandálias dos outros e, principalmente, das outras: podem aumentar decisivamente a beleza de qualquer cenário (paragem de autocarro, mercearia, jardim, esplanada).
quando li isto desatei a rir.
talvez aches piada. 🙂
http://www.timesonline.co.uk/tol/comment/columnists/ben_macintyre/article7129129.ece
Very funny (funny ha-ha, not funny-peculiar). Gostei em particular desta frase: “Cameron eats fish and chips and enjoys reading cheap paperbacks, which is itself a mark of extreme poshness. Only the very grand are instinctively frugal”.
+ LOL
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/politics/parliamentary_sketch/article7124607.ece
Reason why I’ll never be a very grand.
Graaand you are, Antóónio. 😉