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Poderia ser de outro modo?
Porquê, para quê, querer conhecer J Sócrates?
Especulou-se que Chico quereria dizer algo forte, fiz logo eu também tal suposição, a Sócrates (Chico, o autor de uma ópera com um tÃtulo deveras curioso, relembra-no-lo a jornalista). Mas até isso seria incompreensÃvel.
A CGTP organizou hoje uma memorável jornada e inesquecÃvel episódio de liberdade e emancipação. Sócrates ficará na história dos primeiros-ministros apenas por ter sido o governante mais (despudoradamente) à direita do pós-25 Abril. Para quê, então, querer conhecê-lo se, pelo que vimos hoje, desaparecerá em breve? E será que Chico Buarque aceitou o pedido do “primeiro” português?
“O governante mais (despudoradamente) à direita do pós-25 Abril”. Essa é que é essa. Mas insisto. E agora?
Agora, só há uma saÃda e seguinte passo: a Greve Geral. Sem dúvida nenhuma.
Mas, vamos lá a ver, não pode ser para 8 de Junho. Não creio que se possa anunciar uma coisa dessas com 9 dias de antecedência.
Há quanto tempo o 8 de Junho espanhol estava anunciado?(E creio que não, não é Greve Geral, julgo que é apenas greve da função pública.)
Mas há uma outra questão importante: que fazer com a UGT, dirigida por um “sindicalista” que não se sabe comportar como tal?
Pode-se comparar a UGT portuguesa com a espanhola (que apoia a greve de 8 de Junho)?
Problemas que há para resolver. E muitos (infelizmente).
a ideia de que a história cultural está inerentemente dominada por um arco de progresso é uma forma de historicismo milenarista que na realidade é uma superstição, a fé na eficácia da razão como “Engenheiro” das mudanças sociais.
O de 8 de junho é uma greve da função pública.
Na Espanha só haverá greve se fracassa a actual negociação laboral, com os patrões a pedir despido livre. Mas os doutores conseguirão que não seja visto como um fracasso e evitarão a greve.
(Obrigado por desmentir o do Chico…)
Pérola encontrada na caixa de comentários do DN, a propósito da história do Chico:
“Este tipo de notÃcias, ainda por cima com direito a capa de jornal, tendo sempre a mesma fonte (Público) é um perfeito ridiculo, e demonstra a tipo de jornalismo rasca que se pratica no paÃs, ao qual se juntou nos últimos tempos o DN.Qual interesse? O que visa ? Óbviamente que se o encontro é em casa do músico éstá tudo dito, não? Qual o problema do PM ter pedido autógrafos ? De facto, este PM vive permanentemente vigiado pela comunicação social, que procura a todo o custo descrebilizá-lo. Por isso mesmo, tornei-me num seu admirador, e deixei de comprar jornais e ver os noticiários das TV’s, porque sei que esta perseguição que a comunicação social move ao PM só terá fim com o seu derrube.”
O bold foi colocado por mim, na parte mais juicy do comentário, porque das duas uma: ou o comentário é de um Abrantes qualquer, ou então é de um amador, um verdadeiro admirador da personagem, e aà devem ser notados o seu solipsismo e os meios que ele encontra para se furtar ao encontro com o real (não lê jornais, não vê noticiários, etc.). É um processo mental interessante, com uma religiosidade inerente muito forte (que se vê também nos blogs pró-Sócrates); a mim, faz-me lembrar um pouco aqueles tipos que, quando o Vale e Azevedo é julgado pela enésima vez na Boa-Hora, pela enésima trafulhice que cometeu, vão lá para a porta, gritar a quem os quer ouvir que o coitado (prudentemente em Londres…) está inocente, e é vÃtima de uma cabala, etc.
“Allah esteja no meio de nós”, na maioria dos actos de comunicação, o nÃvel da citação está na base, funciona quase invisivelmente, tem muita qualidade, o melhor para evidenciar a mensagem especÃfica, mas quando Teocrito citava o dialecto e os metros de Safo, quando Duchamp citava a “Gioconda” com a plena certeza de que a citação fosse reconhecida, a relacção inverte-se directamente porque o facto de citar torna-se o primeiro plano.
A mim esta história lembra-me uma tira antiga da Turma da Mónica (eu tb gosto muito de ler): o Cascão encontra na rua um grande das novelas ou do futebol (não me lembro), e resolve pedir-lhe um autógrafo, mas com o conhecimento incipiente que tem da lÃngua, acaba por meter os pés pelas mãos: “Pô, não-sei-quantinhos, você é meu fã!”. O famoso corrige-o: “Não: você é que é meu fã, eu sou seu Ãdolo”. Cascão: “Jura???”. Enfim, há uma inocência no Cascão que falta a Sócrates, mas ambos ganhariam em ser mais asseados…
Quanto a J Sócrates, isso é uma impossibilidade técnica, cara Morgada.
Errata: Entretanto consultei uma fonte mais versada nas obras completas da Turma da Mônica que me garante que o famoso em causa era o Pelé, e que a réplica final do Cascão era assim: “Jura?! Quando você me viu jogar?”. A bem da verdade, e porque esta precisão pode ajudar o vasto labor hermenêutico de quem tenta acompanhar os gibis do nosso José Cascão e as jogadas em que este se mete, registe-se.
Como pode uma forma experimentar-se sem um conteúdo?