O fortalecimento da Internet, em âmbito, capacidades e em largura de banda, está a possibilitar uma transição fulcral para as indústrias assentes na comunicação: a desmaterialização quasi-absoluta dos seus conteúdos, com o progressivo abandono de suportes fÃsicos. A pornografia foi a primeira actividade económica a perceber e a usar intensivamente as novas virtualidades: imagens primeiro, seguidas depois por vÃdeos e ciberpresenças – toda esta indústria encontrou na Internet o canal de distribuição perfeito, evitando os complexos e onerosos processo da edição clássica. Depois, a venda de aplicações informáticas, a Música, o Cinema, a TV, em breve os livros; todas estas indústrias estão neste preciso momento em plena migração para o ciberespaço. Os jornais resistem, embora a custo.
Hoje, a Televisão já entra em nossas casas “à s cavalitas†da Internet, usando a sua rede fÃsica e, muito importante, prescindindo de dispendiosos dispositivos hertzianos de difusão de sinal. Esta evolução oferece ainda aos proprietários e distribuidores de conteúdos um maior controlo sobre o acesso aos produtos audiovisuais, enquanto reduz o poder da supervisão estatal sobre as suas operações, ao dispensar o uso de um bem público licenciado e alugado como é o espectro radioeléctrico.
A desmaterialização radical é acompanhada por um sintoma cultural concomitante: os media já não promovem produtos mas sim estilos de vida. O consumo já nem implica a satisfação de necessidades reais mas sim a deglutição e exibição de signos. É de notar que, para a indústria publicitária, há décadas que a importância do produto se viu sobrepujada por essa entidade todo-poderosa que habita e domina as mentes dos consumidores: a Marca. São as marcas que importa anunciar, por vezes em detrimento absoluto das virtudes dos produtos a elas associados, como é o caso paradigmático da publicidade à Coca Cola, ou a marcas mais recentes como a Diesel ou a PlayStation: mal se distingue o produto por entre a floresta de alusões a estilos de vida e a códigos culturais de subgrupos a que supostamente todos queremos pertencer.
Quando vemos que uma cerveja pode ser comparada a um robe, em termos de facilidade de abertura e de conteúdo recompensador, valerá mesmo a pena discorrer sobre a moralidade de tal sÃmile, ou será mais proveitoso reconhecer que ali o erotismo não passa de uma moeda numa banal economia de trocas simbólicas, avatar que já não vale pela sua carne mas apenas como adjectivo sujeito a mil conotações, pronto a ser aposto a uma infinidade de mercadorias de outra forma indistintas? Já nem o grunho mais sedento ali vê mesmo uma mulher, procedendo de seguida à equação “se a gaja é boa, a cerveja idem”; trata-se apenas da sinalização histriónica da apetibilidade e da promessa de gratificação instantânea, descarnadas, mecânicas e puras. O sexo já nem surge como possibilidade remota ou sequer engodo; é dispensável.
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LuÃs,
é um post como aparecem pouquÃssimos na blogosfera. Uma razão para não desesperarmos dela? Ou a “leitura bem feita” de coisas como as que escreveste, a (auto-)interrogação livre e responsável, tende antes a perder-se no meio da velocidade a que os posts, as ilustrações, as reacções imediatas, se sucedem? Bom, houve quem dissesse dos jornais diários e dos artigos que neles se escreviam coisas semelhantes. E, de resto, que poderemos fazer se não arriscarmos a batalha contra a insignificância lá onde ela é mais maciça?
A redução da sexualidade ao supérfluo, e afinal ao supranumerário, tem sido a contrapartida da sua liberalização. Não é que a sexualidade tenha alguma vez sido sólida e muda realidade sem representação. É o regime da representação, a natureza e o princÃpio (ou sua ausência) do imaginário que a articula ou investe, que importaria analisar. Este (imaginário, regime de representação) tende a ser cada vez mais o do utilitarismo higiénico e o do “possÃvel”. Entaipando o resto, “o caos mais antigo do que os deuses”, e o confronto com ele dentro e fora parte do que somos.
Uma vez inócuo ou convertido em suplemento alimentar benéfico, a sua liberalização comercial torna-se uma via única de uma sexualidade monótona (apesar das aparências do pluralismo admitido de orientações várias, todas processadas do mesmo modo), cumulativa, calculável.
Não sei se tenho lido bem os teus posts anteriores, em que tentas desmitificar e pôr a nu o conformismo beato das “causas fracturantes” – mas vou voltar a eles, depois de lido este.
Um dia, talvez ainda continuemos em voz alta, aqui ou noutro lado, esta conversa. Para já, só queria saudar o exemplo deste teu post.
msp
És generoso de mais, Miguel. Isso ainda vai ser a tua perdição 🙂
CarÃssimo MSP, viva!!
“A redução da sexualidade ao supérfluo, e afinal ao supranumerário, tem sido a contrapartida da sua liberalização” Excelente, tirando a palavra liberalização – aparece aqui com as costas muito largas!!!
Eu, que sou um conservador inveterado (uma velha pulsão), costumo utilizar… a sobre exposição da decadencia como argumento similar, à banalização da vulgaridade.
Rainha, meu estorninho malhado, ora essa alusão ao mercado cervejeiro parece-me um exemplo à contrário….digamos que se trata de um mercado “maduro”, solidificado, consolidado, com consumidores de elevadÃssimo rigor e exigência onde tais artimanhas subliminares dificilmente funcionam, isto, claro está, excepcionando o “nicho” dos consumidores ocasionais ou iniciandos.
Justy,
Essas “artimanhas”, como lhe chamas, nada têm de “subliminar” (em termos técnicos, a publicidade subliminar nunca passou de um bluff). Mas que funcionam, comprovo eu quase todos os dias 🙂
Sim, minha crisálida! Estais certo, tendes razão, pelo menos creio que sim, mas sabe, Vcmcê, bem que não queria entrar por esses campos (pântanos), dessa sua indústria diabólica, apenas, em singelo, por uma tirada à laia de comprador diligente (pelo menos nestas coisas de comes e bebes).