Estes dois momentos são determinantes para a história do séc. XX. Contudo, desde sempre, diferentes correntes historiográficas e/ou políticas procuram classificar o segundo momento como o símbolo da derrota do primeiro. Ora esta análise é inconcebível para quem, como eu, entende estes dois momentos como parte da história da luta dos povos.
Já por aqui escrevi que entendo que a Revolução de Outubro desempenhou um papel fulcral na evolução do mundo para uma sociedade mais justa, livre e democrática. As lutas internacionalistas pelo salário mínimo, diminuição do número de horas de trabalho ou pela emancipação da mulher, a crescente força dos sindicatos, o acesso universal à educação, desporto, saúde e habitação foram/são batalhas globais para as quais a União Soviética deu um contributo efectivo e determinante que não pode ser esquecido. Por outro lado, a União Soviética teve um papel fundamental no desenho do mundo que hoje conhecemos, no apoio à defesa pela autodeterminação dos povos, de Cuba a Timor, passando por Angola, Moçambique ou Portugal. O que teria sido feito do 25 de Abril, se a NATO e os EUA, estivessem sozinhos no mundo. Será que não teriam optado por defender a estrutura de poder existente, sempre pronta a insuflar a economia americana com as suas grandes obras (ver o exemplo da ponte “Salazar”)?
Claro que houve inúmeros erros no chamado “socialismo real” e, sobretudo aos comunistas, importa estudá-los e analisá-los. Nunca um país socialista ruiria da noite para o dia com a demolição de um muro. O socialismo da Revolução de Outubro já estava bem morto e enterrado à sombra de um PCUS onde pontificava Ieltsin e todas as mafias que hoje governam a Rússia.
A queda do muro também foi um importante momento da história da luta dos povos sem que, contudo, se tenha traduzido num desejado avanço. Só assim se pode compreender os estudos de opinião que revelam que a maioria dos habitantes da ex-RDA declaram que viviam melhor antes do que depois da queda do muro. Mas desengane-se quem interpreta esta tendência maioritária numa qualquer forma de apoio ao que anteriormente existia. A anexação e a gula capitalista são bem mais ferozes na sua estratégia imperial.
Mas o que importa perguntar, especialmente hoje no dia em que se dá todas as atenções à queda do muro, é se o mundo está melhor desde então? Julgo que não.
Ao contrário dos inúmeros ecos positivos que a Revolução de Outubro teve pelo mundo fora, as consequências que decorreram da queda do muro de Berlim provocaram que o mundo ficasse mais inseguro, que novas guerras florescessem, que a ideia de uma estrutura imperial única se assumisse de uma forma avassaladora e que se desencadeasse a contra-ciclo uma enorme ofensiva contra os direitos dos trabalhadores (desde o salário às condições de trabalho).
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A LIBERDADE não se constrói com muros.
O Socialismo não se proteje com muros.
O Comunismo , a cada um segundo as suas necessidades, de cada um segundo a suas possibilidades, só se construirá com cidadãos LIVRES.
Mas gostei especialmente, da parte em que diz que a União Soviética do Brejnev, defendeu a revolução portuguesa.
E eu que pensava , que o nosso golpe militar do 25 de Abril, tinha sido feito por militares portugueses, e que a luta de massas que se lhe seguiu , e que impõs modificações radicais, na sociedade portuguesa, tinha sido obra do povo português.
Afinal estavamos todos enganados , foi tudo obra do Brejnev, e se calhar da sua brigada….
Como é óbvio discordo completamente. Em primeiro lugar em nome daquele valor que para todos devia ser sagrado e que se chama liberdade.
Segundo, porque não foi por influência de regimes como os que imperavam na união soviética que a sociedade mudou – há aí uma lei da sobrevivencia – o capitalismo para se aguentar, precisamente, porque, apesar de tudo, fornece bases para uma sociedade mais dinâmica, teve constantemente que se adaptar a modificações e novas aspirações.
Acerca da emancipação das mulheres, por exemplo, lembro-me de José Rodrigues Migueis, que, “in illo tempore”, como estrangeirado que era, comparava as mulheres nos Estados Unidos com as mulheres em Portugal – estava fascinado pelo modo como viviam as mulheres na América, livres, trabalhadoras, etc…
E isso há muito tempo, antes de um longo caminho ter sido percorrido.
Não nego que Marx e Engels possam ter tido um papel importante, sobretudo no século XIX, mas por ironia do destino, foi o capitalismo que acabou por promover uma sociedade mais justa.
Não vale a pena criticar as grandes obras públicas promovidas no tempo do salazar, quando todos nós sabemos que o nosso país sofre de um atraso quase atávico desde que em vez de aderir ao plano Marshal (como pretenderia, por exemplo, Humberto Delgado), se virou para dentro e para ideias mégalomanas acerca de um passado colonial que já não tinha lugar nos tempos que corriam.
Para finalizar – a democracia continua a ser o melhor de todos os sistemas.
Por acaso até estive em Berlim em 89. As pessoas estavam fartas daquilo.
Ó Augusto, claro que foi! Quem, senao os comunistas, queriam instalar a democracia?
Já agora, para todos os que aqui escrevem, deixo uma questão. No fundo, a questao que tem sido referida vezes sem conta nos blogs deste país: porque é que havia gente a saltar o muro para fugir da RDA, mas nao havia gente a saltar o muro para entrar na RDA?
As pessoas serão assim tão estúpidas?
Ou a culpa também é da América?
Porque é que há gente a fugir do capitalismo no México para o capitalismo nos Estados Unidos? Se o capitalismo resolve os problemas da humanidade não faz qualquer sentido que as pessoas tenham de emigrar para melhorar as suas condições de vida.
Se podia não haver muro. É certo: ninguém gosta de muros. Mas alguma coisa teria de ser feita para impedir abusos por parte de alemães do Ocidente e por parte de alemães do Oriente. Em primeiro lugar, para impedir o consumo de produtos muito mais baratos na RDA por parte de habitantes com salários mais elevados da RFA. Em segundo lugar, para impedir o trabalho de habitantes da RDA na RFA que assim aufeririam salários mais elevados e obteriam os direitos sociais e económicos de viverem num sistema socialista: educação, saúde, transportes, desporto, cultura, etc. Em terceiro lugar, para impedir a infiltração da inteligência imperialista na RDA.
Eu vi-o na Venezuela. Gente com elevados salários e empresários da restauração a comprarem produtos alimentares nos mercados estatais de baixo custo. Ou em Cuba, gente que trabalha nos hotéis, que recebe melhor e que tem direito a cadernetas de bens de primeira necessidade na mesma. Há que estudar formas de combater esse tipo de abusos.
um pormenor:
o povo de que falas e que tão mal tem sido tratado pelo capitalismo selvagem desde a queda do muro é o mesmo povo que legitima democraticamente os seus governos.
isso faz toda a diferença.
enquanto não houver uma maioria de pessoas livres que opte por um novo modelo, o que resta é lutar. não pela via da imposição armada mas sim pela via democrática, pela transformação de mentalidades,
e não é com esses discursos a varrer o lixo para debaixo do tapete como se não existissem crimes contra a humanidade a condenar veemente, tal como condenamos os crimes fascistas ou imperialistas, que lá chegaremos
“Raramente tão poucas palavras disseram tanto ou, pelo menos, propiciam tantas reflexões sobre quem diz e porque o diz e que, sendo quem é e vindo de onde veio, é capaz afrontar neste termos um dominante mundo de clichés, caricaturas e simplificações. Essas palavras estão hoje no final de uma peça na página 6 do Público e foram ditas pela actual Chanceler da República da Alemanha, Angela Merkel, cuja família – segundo biografia no mesmo jornal SE MUDOU em 1954 da República Federal Alemã para a República Democrática Alemã.
«No entanto, se era uma ditadura do proletariado,
“não era tudo preto ou branco”, concluiu Merkel.
“Eu era feliz, e não quero esquecer
esses 35 anos da minha vida”
(Tirado do “Tempo das Cerejas”)
ali la pointe
sim, mas porque é que as pessoas fugiam? arriscando a vida? e os soldados nas torres, matavam-nas para não irem comprar produtos mais caros com os seus baixos salários?
Pedro Penilo
Só agora soube das palavras da Merkl. Retiro tudo o que disse ou pensei. A Angela Merkl foi para a RDA e gostou? Espectáculo! Então está tudo bem, pronto. Nao se fala mais nisso.
(mas nao resisto a dizer que a família dela fê-lo antes de ser proibido sair da RDA, de volta à RFA. Eu também aprecio ir de férias ao Egipto, mas não gostava de lá viver).
A questao que o Tiago levanta aqui parece-me de alguma importância e nao me parece que alguns comentários reflictam as questoes colocadas como centrais.
De facto, depois de ler alguns textos em vários sitios, parece que se está a construir uma espécie de cassete anti-comunista que se mete sempre que se fala de comunismo, pcp, muro de berlim, urss ou gulag.
Começo a suspeitar que seja spam…
Voltando ao centro da questao, a necessidade ou nao de haver algo, algum pensamento estruturado que possa dar resposta, funcionar como alternativa ao regime capitalista e à “democracia” representativa.
1) as democracias e a social democracia, em particular, a europeia foram reformistas e definiram na sua matriz genética uma série de medidas que consubstanciam o estado de providencia forçadas a dar resposta à gratuiticidade de todos os serviços publicos nos paises de leste.
2) com a caída do muro e dos regimes de leste, desaparecem as “contra-referencias” ao capitalismo; os socialismos europeus com o passar dos anos começam a adoptar a “outra” via, a do liberalismo economico, a defesa de menos estado, o capitalismo aprofundou-se.
3) a China, como gigante consumidor e produtor, assume o seu papel central na economia global. Embora sem ter uma percepçao clara do q lá se passa, o caminho chinês do capitalismo de estado -sem as conquistas dos antigos regimes de leste (sim, conquistas)- parece indicar apenas o reforço da exploraçao dos trabalhadores de todo o mundo e mais uma vez o reforço do capitalismo.
4) a américa latina tem visto, nos ultimos anos, chegar ao poder vários dirigentes de esquerda pela via democratica e estes têm realizado um conjunto de acçoes legislativas de caracter quase revolucionario, tentando alterar a logica de dominaçao oligarquica e de capitalismo criminoso (explicitamente, pq na minha opiniao um sistema que deixa funcionar o mercado e deixa pessoas morrerem à fome é sempre criminoso).
Na América Latina, devido provavelmente à sua grande pobreza e às decadas de ditaduras e corrupçao que teve que suportar (sem planos marshal, com fmis e amigos a dizer “corta no gasto publico”), têm-se desenvolvido fenomenos muito interessantes de aproximaçao ao socialismo e creio que deviamos por os olhos de forma atenta nestes novos governos de esquerda.
e pelo caminho, falemos dos regimes puros, daqueles que nao têm mortos às suas costas, todos aqueles tipos de pensamento politico consolidado em modelos de organizaçao do estado que nao provocaram nem morte, nem sofrimento, nem injustiças…
nao existem, pois nao? dir-me-ao que sao sistemas democraticos por isso imbuidos de uma legitimidade maior…fraco argumento parece me a mim.
Se nao, recordemos:
– em 1945, em hiroshima e nagasaki, os EUA detonam as unicas bombas nuclereares até hoje usadas como forma de enviar um sinal claro de poderio militar à URSS, matando 240. 000 japoneses inocentes de forma cruel e bárbara. Os que tiveram sorte morreram de seguida, os outros foram morrendo com dor ao longo dos dias seguintes pelos efeitos da radiaçao. 240 000 pessoas em poucas horas. 240 000 pessoas por uma questao estratégica. dá q pensar nao dá?
– até inicio dos anos 70, uma verdadeira caça às bruxas assolou os EUA, todo aquele que tivesse um perfil menos conservador – esquerdista, liberal, homossexual, etc- era escorraçado da administraçao publica, era impedido de conseguir emprego, era humilhado publicamente, nos mesmos EUA que até há pouco mantinham no seu território um regime de apartheid nos seus estados do sul.
-quantos os mortos e desaparecidos pelas incursoes norte americanas em todos os países do mundo: américa latina, coreia, vietname, afeganistao, iraque,… – eu sei, é por uma causa maior, pela democracia. pela democracia também morreram 5 000 panamenhos para depôr um ditador que tinha sido apoiado em anos anteriores pelos EUA…pela democracia, está claro.
-pela democracia também levantam-se vozes contra os países da opep pela repressao aos direitos das mulheres, pela perseguiçao politica,….nao? ah, OPEP, pois, pela democracia…
-e que dizer do projecto echelon? essa grande arma de espionagem capaz de ser mais eficaz no conhecimento da vida pessoal de cada um do que o kgb, a stasi, a kds, a sp e todas as suas congéneres juntas. Claro está, pela democracia e contra o terrorismo…
e por falar em terrorismo, quantos cidadaos de todo o mundo foram presos injustamente, quantos foram privados dos seus direitos basicos de ter uma opiniao diferente pelo Patriotic Act, nos EUA ou pela Lei do Terrorismo, em Espanha?
Por pensarem de forma diferente!
Nao por cometerem crimes…a isso, se fosse nos países de Leste, chamar-se-iam “delitos de opiniao”, os presos seriam politicos, o estado uma ditadura… Mas nao, estamos em democracia, se prendermos alguem de forma injusta asseguramo-nos que a pele é mais escura, ou que a religao dele nao é maioritária, que culturalmente é inferior e que está mal integrado.
Redes de espionagem de uma complexidade inimaginável, delitos de opiniao, policias politicas, desprotecçao laboral e social, fome, participaçao e fomento de vários conflitos internacionais…acham mesmo que é um mundo mais justo, mais seguro, mais fraterno?
Mas alguém acredita nisso? Sinceramente?