Respondendo ao desafio implÃcito do Vasco Barreto, lembrei-me de escrever uma ou duas coisas sobre o primeiro cartaz de Sócrates. Para começo de conversa, acho que é uma peça bem pensada. Não do ponto de vista estético – é algo desagradável à retina, com aquelas manchas de cores pastosas – mas por se atrever a introduzir um novo protagonista na comunicação polÃtica nacional: o corpo.
Neste cartaz, Sócrates recusa a esterilidade hierática habitual: o candidato recortado contra um fundo abstracto, isolado do resto do universo, vogando acima do contacto com o destinatário da mensagem. O polÃtico como prÃncipe, dominando a peanha que os outdoors naturalmente são, elidindo qualquer menção à sua corporalidade, inscrevendo-se antes na constelação dos signos – imagem e conceito puros, um só relacionamento simbólico ao alcance do cidadão: o voto.
Aqui, temos um polÃtico que se assume enquanto corpo. Que se mostra no meio de outros corpos, que adopta o lugar-comum “juntos†como sinónimo de real proximidade, daquela com cheiros, massa, toques na pele. Sócrates está entre a multidão; mas uma multidão especial, quase exclusivamente feminina, que sussurra uma ligação também erótica aos eleitores: o olhar maroto da menina esverdeada da esquerda encontra uma correspondência imediata no sorriso ambÃguo do polÃtico.
Há ali muito do Sócrates 1.0 – na expressão decidida e no olhar concentrado – mas também algo da versão 2.0. Ele olha-nos de um lugar surpreendentemente modesto: de baixo, no espaço dos mansos que se vêem como apenas “mais umâ€. O grande plano que inflaciona os rostos até deles fazer monumentos impositivos, subjugando pela escala e postura o olhar do transeunte, desapareceu. Ganhámos um lÃder que é corpo entre os corpos de Portugal (como assinala o pavoroso simbolismo cromático). Um lÃder que é músculo e pele, que se sabe atraente, que até no slogan escolhido insinua força, suor, corporalidade: “Avançar Portugal†não quer dizer grande coisa em Português, para lá de uma vaga noção de progresso difÃcil, a exigir pulso firme.
E para que serve este Sócrates 2.5? A resposta é óbvia: para esmagar Manuela Ferreira Leite.
A candidata laranja não pode combater neste território. Nem sequer a ele pode aceder – a figura de avozinha seca mas humana terá o seu público, mas nunca se atreverá a pedir meças ao novo herói do PS. Ferreira Leite surgirá cada vez mais como o passado, a forma tradicional de fazer as coisas. E Sócrates arrisca-se mesmo a conseguir afirmar uma mensagem de mudança (quem diria!), nem que seja somente através do subtil poder das imagens.
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Puro “wishfull thinking”… Quem diria, num lugar destes? Da-se!!!
Bom texto.
Boa análise,
discordo do LuÃs Rainha quanto à pretensa impossibilidade de Manuela Ferreira Leite combater, no plano da imagem, com o engenheiro Socrátes. Podia, tão simplesmente pelo motivo de ser uma mulher. Não pode, é óbvio, pela figura de “avozinha seca mas humana” que o LuÃs refere (e que a senhora e os acessores de imagem – que finge não existirem – não se cansam de promover), mas que, em abstracto, poderia ser alterada. Isto é, seria possÃvel -num partido menos conservador (acho que o psd jamais apresentará uma Mulher Real, um corpo de mulher, em campanha) e menos preocupado em montar um espectáculo em redor de uma pretensa seriedade anti-espectacular- materializar com um corpo como o de MFL não uma idosa seca e grave, mas uma imagem de Mulher madura, emancipada, com um misto de fragilidade e experiência marcada nas rugas: Uma Manuela 3.0 (outra manuela que não aquela…) uma mulher completa, capaz de dizer “aqui estou eu”, este é o meu corpo, feio ou belo pouco importa, de mulher feita, um ser completo e, portanto, também sexual. Como é evidente, isto é uma hipótese meramente académica, mas possÃvel. Pessoalmente, ainda bem que Ferreira Leite é o que é e não o que podia ser, senão mais votos descaÃriam para a direita ps(“d”), a somar aos que já vão direitinhos para a direita p”s”(sem “d”) apenas pelo que ela diz ser (e parecer ser de esquerda): bloco central na engorda via cartaz, Já basta o que basta!
Sócrates safa-se neste cartaz com a aura do grande polÃtico progressista; homem real, fisiológica e fisionomicamente, ser dotado dum corpo (corpo real de defeitos, forças e fragilidades): um homem da multidão, capaz de mobilizar a população jovem feminina, uma geração de mulheres emancipadas que o rodeiam sorrindo seguras.
Tudo isto é, claro, não um piscar de olho mas um piscar dos dois olhos da cara mais o do cú ao eleitorado de esquerda. Um cartaz brilhante em termos de marketing, propositadamente fraco em propaganda (para se demarcar da “esquerda radical”). Fico à espera para ver como a esquerda real reaje a este cartaz, infelizmente não será fácil batê-lo com agitprop e sendo que não há, nem deve haver, campanha de esquerda sem agitprop…
Um pormenor, para o LuÃs (e para outros comentadores interessados analisarem): o que dizer, em termos iconológicos, do rosto de José Sócrates enquanto esfera armilar?
É todo um programa…
Penso que a batalha das imagens já o p”s” ganhou e ainda a procissão vai no adro,
resta-nos descontruir essa vitória.
olhe, li até ao primeiro parágrafo. ainda arrisquei o segundo, mas parei no “esterilidade hierática habitual”. acredito sinceramente que o que vem a seguir seja interessante e pertinente. como o foi, aliás, toda a panóplia verbal causado pelo cartaz de manuela ferreira leite. sabe que quando entramos em gostos estéticos, há realmente gostos para tudo. este é simplesmente mais um cartaz que, dependendo do ponto de vista, está bem ou mal elaborado, ou assim assim. felizmente, o mais importante continua a ser o que o cartaz não mostra.
cumprimentos,
josé ricardo
Análise perspicaz… parabéns
o Corpo?
o “corpo” é, como dizia ontem o Jorge Silva Melo na Carta aos Actores, apenas um elemento de passagem entre a Boca (de buraco que recebe) até ao Ânus (o esfincter, que evita infaustos derrames) um tubo digestivo comandado instintivamente pelo baixo ventre. Sócrates e o seu corpus eleitoral são isso mesmo, um Actor e os Buracos que o rodeiam (de boca, c/ embocadura) à espera de material que os alimentem.
Quem consegue cagar neste regime é um gajo feliz. É pela quantidade de merda expelida que se mede o sucesso.
Fábio,
Boas pistas suplementares. A ideia da esfera armilar, como diz, é mesmo pano para muitas mangas. E está lá, por inteiro.
José,
Não se trata de análise estética: acho o cartaz feio (e o candidato imprestável, já agora). Mas sei umas coisas do ofÃcio da publicidade/propaganda, o que me dá a ilusão do olhar uns centÃmetros mais profundos sobre estas coisas.
Xatoo,
Infelizmente, teremos nestas eleições um actor em luta contra um adereço. Coisa desigual, portanto…
O Sócrates não precisa de jogar com imagens , nem de efeitos especiais para coisa nenhuma. É o melhor 1º ministro português que eu conheci, tem várias qualidades, e se, como eu espero, os portugueses não forem estupidos nem se deixarem levar pelos vendilhões de peixe, à esquerda e à direita, vence nas calmas.
Devo adiantar que eu não votei no sócrates há 4 anos, aliás nem votei, lixado que estava com um banana panhonhas como o Guterres. O Sócrates foi uma agradável surpresa, que de resto eu nem estava à espera.
Parece um homem entre funcionárias do partido: http://escoladelavores.blogspot.com/2009/07/uma-campanha-poupadinha.html
O único Socrates bom e que prestava foi o outro, o filósofo…
Mas com uma boa publicidade, a coisa é capaz de ir lá de novo.
Como dizia um antigo publicitário famoso, este produto não é bom e não presta mas tem uma boa publicidade.
Interessante análise, mas verdadeiramente este cartaz foi desenhado para cativar a legião de funcionárias públicas e empregadas de escritório que “adoram” sushi.
Poderá a análise estar formalmente perfeita. Porém esquece dois factores essenciais: um, a aversão à pessoa de Sócrates que a corporalização deste apenas poderá acentuar; outro, o pressuposto de que o eleitor é acéfalo e amnésico e que estes quatro anos não deixaram marcas no seu descerenimento e na avaliação que pode fazer destes anos de (des)governo.
Sem a mesma substancia e isenta de grandes adjectivos, a minha apreciação é de que o cartaz é péssimo – estéticamente desagradável (a parolice do verde e do vermelho, cromaticamente incompatÃveis, sobrepõe-se á conotação patriótica pretendida), vazio de qualquer mensagem ou sentido, e recordatório de que estas eleições têm um rosto (ou um corpo, como se quiser) cuja presença, para muitos, desencadeia sentimentos quiçá adversos dos pretendidos. Como a náusea, por exemplo.
Percebo perfeitamente o texto e onde quer chegar: Socrates como o rosto da mudança. Eu confesso que não percebo nada de polÃtica, e muito menos de polÃticos… Como mero eleitor, devo confessar que Socrates atrai: quando ele fala de mudança, parece que encarna a mudança; quando ele fala de justiça social, parece que encarna a justiça social… Ele engana-me bem! E votaria nele sem problema nenhum! Mas… há sempre um mas… Há uma coisa – uma coisa que aconteceu nos últimos quatro anos – em que ele não me consegue enganar: a profundÃssima falta de respeito que ele sente pelas mulheres, e pelas jovens adolescentes que, perante uma gravidez indesejada, a única coisa que têm é um aborto feito num hospital público, oferecendo-lhe um Cytotec e mandando-a para casa e assistindo à terrÃvel dor de perder um filho e vê-lo ir pela sanita. É triste… e ninguém queria isto. Muito menos as mulheres!
Começo a desconfiar que o Chico da Tasca é o EmÃdio Rangel. Cá por coisas…
“…a parolice do verde e do vermelho, cromaticamente incompatÃveis…”
Também eu tenho vergonha da nossa bandeira. Azul e branca é que deveria ser.
também podem fazer o mesmo a vóvó , basta porem-na na fila do supermercado , do centro de saúde , qualquer coisa do genéro , ou a ler uma história do animal feroz/ovelha no infantário. aliás , pola no meio de crianças era capaz de resultar , coisa que no caso do outro ainda fazia lembrar a casa pia.
Acho que estás a exagerar, LuÃs.
No Porto, há vários meses que circula exactamente o mesmo cartaz, mas com Elisa Ferreira. Muito antes de aparecer o do Sócrates. Elisa Ferreira sorridente, no meio do povo, destacndo-se o seu rosto acima de tudo o resto.
Como se vê pelas sondagens, não me parece que o magnÃfico cartaz lhe vá servir de muito.
Ricardo,
Nunca me ouvirás dizer que um (ou dez) cartaz decide eleições. E tem tudo a ver com os adversários em questão. Repara tb que a Elisa F. não tem de todo a presença de Sócrates.
Mas diz: a senhora também está nesse cartaz rodeada de mocetões verdes e vermelhos? 🙂
Dizia alguém num blog: « sou como a menina da esquerda, quando vejo Sócrates fico verde!»
Acho que não, Luis. Está rodeada de gente do povo, que acho que é a imagem que se quer passar, e com cores garridas. Elisa Ferreira é do povo. Porque no Porto, em grande parte, são os bairros sociais que decidem as eleições. E esses estão maioritariamente do lado de Rui Rio.
Será que aquela menina verde foi escolhida de propósito porque se parece com aquela atriz, mulher do tal Tom Cruise? È ela que chama a atenção para o cartaz…ou terá sido (digo eu) essa a intenção dos makerters! Se foi o caso, dou-lhes um ponto por boa táctica.
Era destes cartazes que te falava nesta caixa de comentários, Luis.
http://aventar.eu/2009/07/28/cartazes-das-autarquicas-porto-2/
Circulam há meses no Porto (devem ser mais de 10) e a receita é sempre a mesma: alguém a olhar para a Elisa Ferreira de forma deleitosa: ou velhas, ou jovens garbosos, ou senhoras finas, ou estudantes, etc. Brevemente vou publicar os outros.