Raoul Vaneigem
A Internacional Situacionista existiu entre 1957 e 1972.
Apesar de todas as ilusões, utopias realizadas, conflitos pessoais (o de Vaneigem versus Debord é o mais impactante), beleza oculta e secretamente vivida em todas as cidades em que a atomização do urbanismo contemporâneo ainda não tinha de todo triunfado (e o Maio de 68 como “possibilidade” foi disso a prova), apesar de tudo por aquilo que passou, a IS venceu, falhou, venceu, mas sempre pretendeu combater o seu sucesso. Estranho, não é verdade? Talvez, mas a “história secreta do século XX” (para retomar o termo de Marcus), guardará para a IS o centro dos acontecimentos ou mesmo do mundo, do mundo do vivido contra o mundo da representação (e já estamos a confluir para Debord, que não é exactamente o tema deste texto). Sublinho neste post a importância de uma retrospectiva da IS relatada em rara entrevista por Raoul Vaneigem (a Hans-Ulrich Obrist, o hiperactivo crÃtico, comissário de exposições e director da Whitechapell de Londres, no último e-flux journal #6 de Maio último).
O ano de 1967, como se sabe, foi fundamental para a IS: Guy Debord publica La Société du Spectacle e Vaneigem, Traité de Savoir-Vivre à l’Usage de Jeunes Générations. Na década de 70 já são dois inimigos sem conciliação. Morto Debord, é hoje Vaneigem o fiel depositário, digamos assim, deste património precioso e inédito, em que marxismo, revolução, dadaÃsmo e surrealismo se cruzam, como se de formas de respirar se tratassem (ou como de respiração natural se tratasse esse cruzamento hibridizado e sem hierarquias). Quando Guy Debord escreve La Société du Spectacle e nos diz, depois, que as pessoas que mais admirou foram Arthur Cravan, o artista-pugilista-aventureiro, e Lautréamont, percebemos que a poesia radical se une nele (neles) à polÃtica igualmente radical: Hegel, Marx, Stirner e Bakunine. E dessa mistura resultam quatro inimigos fundamentais: o Estado, o capitalismo, a economia e a militância partidária.
Como dirá Vaneigem, a economia é o inimigo central, pois ao nascer de uma passagem da colheita dos recursos naturais para a sua industrialização, a economia inaugura apenas a sua história contra a nossa. Para Vaneigem, a economia é sinónimo de pilhagem e destruição das relações humanas. Resta-lhe, resta-nos, o elogio da preguiça, que aliás faz nun raro livro sobre os pecados capitais para o Centro Pompidou (Paris, 1996): “O embrutecimento do trabalho quotidiano terminou reconhecido como ele é: uma alquimia de involução que transformou em chumbo o ouro da riqueza existencial”.
Daqui vamos para a primeira resposta de Vaneigem a Obrist (que lhe começa por perguntar o que gostaria de dizer a Obama): “Recuso cultivar todo e qualquer tipo de relação com gente do poder. Concordo com os Zapatistas de Chiapas, que nada pretendem nem do Estado nem dos seus figurões, as máfias multinacionais. Apelo à desobediência civil para que as comunidades possam formar, coordenar e encetar um poder natural autoproduzido, outras formas de exploração agrÃcola e concretizar serviços públicos libertos das escamas governativas quer da direita quer da esquerda. Por outro lado, apoio Chamoiseau e Glissant [escritores e teóricos de Martinica] na defesa de uma existência onde a poesia da vida ponha cobro aos bastiões da mercadoria”.
Vaneigem e Debord sempre quiseram tudo. E nós, já não queremos nada pois não?? (CONTINUA)
Perdidos no seu próprio palavreado…
os leitores do 5 dias interessados em prosseguir as leituras podem encontrar alguns dos textos mencionados neste post em http://www.radioleonor.org/?page_id=40, bem como outros de não menor interesse.
A questão com vaneigem é quão fácil foi “recuperar” a sua proposta existencial, formalmente mais óbvia do que a do debord: o seu “viver sem limites” está presente em toda a publicidade jovem contemporanea. Há uma carta de debord, presente também no livro que acompanha os seus filmes, que resume um pouco a questão. Não a cito de memória nem a tenho presente aqui, mas Debord recusa assumir o papel quer de “rebelde”, como vaneigem, postura formal e estética que pouco sentido faz para lá dos filmes do nicholas ray, quer de “dandy”, afirmando que já há muito que tinha deixado de existir qualquer local ou circulo cuja exclusividade merecesse algum tipo de crédito.
Mas os livros das edições entipáticas em geral não se prendem com estas tricas. De novo: http://www.radioleonor.org/?page_id=40
ler estes post do vidal é sempre uma experiência. ver a forma, como este autor, que escreve con conhecimento de causa, procede a um revisionamento da lição marxista, à sua depuração. neste processo, procede-se sempre a uma deslocação da atenção sobre o conteúdo (“o que é escrito”) para a forma (“o como é escrito”). a principal diferença entre a aplicação do conceito à prosa e ao seu sentido, consiste no facto de na primeira a actualização se realizar ao nÃvel dos temas, dos enredos e das personagens escolhidas, e, na segunda, ao nÃvel puramente linguÃstico. na linguÃstica jakobsoniana, trata-se do momento em que uma palavra deixa a sua realidade linguÃstica, enquanto termo de um dicionário vivo, para fazer parte de um discurso. no sistema linguÃstico saussuriano, por exemplo, podemos dizer que a fala é uma actualização da lÃngua. num sentido geral, a pragmática pode ser definida como um estudo de actualizações. o conceito está próximo de outras noções de jakobson, apresentadas nos essais de linguistique générale, como as de referência, que coloca a palavra em relação à quilo que representa, e embraiagem, que se refere à presença das marcas do sujeito da enunciação. opõe-se à virtualização e à abstracção na linguagem.
Tudo o que aqui escreveu Paulo Ribeiro é bem sabido.
Já estabelecido, consabido e consolidado.
Experimente outra via. Esforce-se um pouco mais, vá.
portantos, o pensamento poético é proplético e à Musa invocada sob o nome de Memória é implorada uma ajuda que faça o poeta recordar o futuro, tá?
SUINORDESTINO
Iniciei a reflexão buscando parâmetros de grandezas,
a relevante importância dos tamanhos antigas como seus conceitos
mais tardiamente pensados por nós
seres vivos.
Onde encontrar tais informações tão especÃficas?
Obviamente em máquinas rápidas
Criadas por minha espécie
Pensaria talvez a respeito de minha importância e superioridade
Pelo simples fato de ser bem maior e visÃvel nas proporções tridimensionais
Mas seria um grande equivoco se relacionasse a essa grandeza a nocividade como ser vivente e valor
Então vi que não seria necessário tais informações
Mesmo porque, os valores numéricos que encontrasse
Não seriam esclarecedores por minha inabilade com tantas vÃrgulas e zeros
CabÃveis as dimensões entre o vÃrus e um ser humano.
Continuei e logo mais dúvidas me atormentaram e grandes atalhos psÃquicos
E arte manhas de um órgão que pouco conhecemos me proporcionou
Subterfúgios e defesas contra o sofrimento de saber que sabemos e que fazemos parte de uma espécie tão diversificada em comportamentos, movidos e intuÃdos por forças.
Ãs vezes misteriosas que nos diferenciam uns aos outros.
Mas mesmo assim infelizmente não me achei mais importante por pensar e criar
Então, tentei parar de pensar um pouco.
E senti o estranho desejo de desejar proteção divina aos meus familiares
Contra os minúsculos seres que nos ameaçam de simplesmente viver.
Alguns nomeiam esse sentimento de amor.
Outro fenômeno também tão pouco conhecido
E confundido.
É difÃcil pensar que para estarmos vivos
Alimentamos de tantos seres que foram vivos
E que muitas vezes indiretamente ou não
O subjugamos e tornamos suas vidas curtas e dolorosas
Muitas vezes fazemos isto entre nós da mesma espécie
Mas precisamos fingir que não é o nosso maior desejo
E que simplesmente precisamos sobreviver e perpetuar nossa nobre espécie
De preferência feliz Mas alguma coisa me diz
Que os vÃrus querem viver também mesmo não pensando nisto.
Alfredo Nobel
Inverno 2009
01h38min