Miguel Sousa Tavares começa a sua crónica de ontem, no Expresso, manifestando a sua crença na inocência de Sócrates. Um pouco à frente, percebe-se melhor porquê. Para MST, “todas as suspeitas contra José Sócrates assentam na existência de um video onde um tal Charles Smith, para tentar justificar perante os patrões do Freeport uma quantidade de dinheiro que desapareceu em Portugal, o explica dizendo que teve de corromper o então ministro do Ambiente”. Deste novelo encaracolado de prosa, sai a conclusão insinuada: Smith gamou a massa e pronto.
Pormenor deixado de fora: o problema está sim nas condições em que o processo de licenciamento decorreu. Não numa gravação que Cândida Almeida nem quer ver. De outra forma, Smith teria sido o burlão mais sortudo da história – embolsa o dinheiro e mesmo assim o licenciamento dispara não se sabe bem como.
MST aponta de seguida ao verdadeiro alvo da croniqueta: os magistrados do processo. O preclaro opinador não vê “aqui nenhum bico de obra: ou conseguem que o sr. Smith prove como e quando pagou a Sócrates” ou tratam de arquivar as dores de cabeça do quase-engenheiro como meninos bem comportados. Isto como se Smith fosse queixoso ou parte interessada em que tal prova (que o colocaria na choça) alguma vez seja feita.
O homem não alcança, como diz, que seja preciso tanto tempo para ver o que a ele se afigura tão óbvio. Mas já alcança bem o que chama “queixas”, “insinuações” ou “queixinhas” dos magistrados envolvidos, talvez já à procura de “desculpas”. Então não é mesmo claro que “há qualquer coisa de pouco transparente em queixarem-se de pressões”? Mas quem se lembraria de “queixar-se publicamente de pressões em lugar de lhes resistir silenciosamente e continuar o seu trabalho”? Lê-se estas frases sem tino nem estilo e não se acredita. Afinal, Sócrates só teria pedido o que todos queremos: a tal celeridade. Qual o problema?
Tudo é transparente e feliz no mundo simples de MST. Ele nem quer “saber se os senhores magistrados se sentem ou não pressionados” com os supostos recadinhos do poder. Ele quer “é que eles não finjam não perceber a gravidade do que têm em mãos”. Mas de onde é que MST conhecerá estes magistrados para saber se eles andam ou não a fingir seja o que for? A mim, parece-me que alguém finge aqui que não percebe as coisas; e não são os magistrados. Só isso explicaria o culminar da peça – com uma evocação do inspector do caso Madie e a sua convicção não provada da culpa dos pais da criança – e a suspeita quase repugnante que lança: “Será este tipo de ‘justiça’ que os investigadores do Freeport se preparam para reservar também a José Sócrates?”
Depois deste lindo exercício de prestidigitação, MST ainda arranja espaço e lata para chamar a Durão Barroso “alforreca”. Pois, pois.
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