Francisco Queirós (2009) – No sentido dos ponteiros do relógio:
– The mind is a terrible thing to taste
– Regra de ouro: 1 + √5
ξ = ———
2
– Não esperes por milagres
– Eu e o meu mini eu contra Jeremias
Quando falamos em colagem/collage falamos num processo associativo de imagens pré-existentes que se mesclam truncadas, de forma a produzir perturbações significacionais, ou mesmo uma anulação do sentido, como em Dada principalmente (Duchamp, Schwitterz, Höch, John Heartfeld e Grosz). No construtivismo soviético, diferentemente, o processo e a definição de colagem, apropriação, corte e montagem era idêntido a Dada, mas os propósitos eram opostos: o sentido e a ligação ao real eram preponderantes. Aliás, as vanguardas soviéticas tiveram dois períodos: a Faktura (anos 10) e a Factografia (até ao realismo socialista); é interessante como autores como Rodchenko, Lissitzky ou Gustav Klucis participaram de ambas as fases. Diremos, resumidamente, que a Faktura pressupunha uma exploração nova do medium pintura ou poema (de Malevich a Maiakovski), e a Factografia achava burguesa essa exploração do medium e pretendia uma aproximação entre arte e jornalismo interventivo (Rodchenko e Lissitzky). Alfred Barr, fundador do MoMA (Museum of Modern Art, de Nova Iorque), está em 1927 na União Soviética para conhecer a nova arte que aí desponta e testemunha que, no atelier de Rodchenko, por exemplo, deixa de haver experiências pictóricas posteriores a 1922. Paralelamente, o surrealismo também se interessou pela colagem, destacando eu o vastíssimo trabalho de Max Ernst em torno de um “maravilhoso negro”, feito de manias e repetições compulsivas e outras patologias, muito divergente do “maravilhoso” de Breton. Por exemplo, o surrealismo dissidente de Bataille (e Dali) prefere a paranóia à alucinação de Breton, pois a paranóia não se liga ao maravilhoso e porque a repetição compulsiva da paranóia organiza e sistematiza a confusão e o vazio (como em Histoire de l’Oeil de Bataille). Agora é o jovem artista português Francisco Queirós quem se inscreve neste debate na sua última exposição ontém inaugurada. O Francisco deve aqui muito a Ernst, mas desloca-o para um plano “terreno”, como se de uma factografia se tratasse, mas não uma factografia política, antes onírica, perversa, simples e extremamente irónica, inventando um tipo de ironia que não existia em Ernst. O resultado é surpreendente. O recorte manual é ostensivamente exibido, logo o efeito absurdo é desmantelado. O dia-a-dia é reduzido à imbecilidade, onde quem luta, luta por nada e para nada, e quem se revolta é antes convidado a “dançar”. Apesar disso, sem luta e sem revolta, resta-nos a demência. Veneno puro, discreto, subtil, inteligentíssimo.
Na Galeria Lisboa 20-Arte Contemporânea (R. Tenente Ferreira Durão, 18B).
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