As imagens são de Douro Faina Fluvial, 1931 e A Caça, 1963
Habituei-me a amar profundamente o cinema de Manoel de Oliveira, desde que vi o Douro, já faz algum tempo.
Não me lembrava que hoje, exactamente hoje, faz cem anos. Sempre preferi valorizar os seu filmes, o seu visionarismo plástico, os seus tempos (num sentido duplo: cinematográfico e musical; a propósito de “sentido musical”, gostaria de falar em LEONARD BERNSTEIN, um dos directores de orquestra que mais admiro. Nos seus últimos anos, optou em gravações memoráveis – de Sibelius, por exemplo – por prolongar os tempos, “arrastando-os”, muito mais do que os desejados ou indicados pelos compositores, no que ficou conhecido como “Bernstein late style”: o resultado é esplendoroso – permite fruir texturas sonoras inimagináveis), sobre Oliveira, dizia, sempre preferi ver os seus filmes em lugar de comemorar exclusivamente a pessoa. Mas esta tem de ser comemorada, como pessoa e como cineasta, para que faça muitos mais filmes, tantos quantos mais desejar.
De resto, esta coisa das artes serem divulgadas como chocolates ou automóveis, é um disparate gigantesco. Sempre achei que as artes têm pouco a ver com democracia ou democratização vulgar. A expressão “democratização da arte” sempre me irritou solenemente. Sobretudo para quem diz que uma obra é “chata”, “enfadonha”, “aborrecida”, “mal feita” (ah meu bom El Greco !!, como pintavas mal mal mal !!!!). Sobretudo para esses para que é a “divulgação” ??
Terão direito à arte ?? Não, sem dúvida que não (força Greco, continua a pintar cada vez pior, dá cabo dessa anatomia das figuras, inventa-as, torce-as, reinventa-as !!!!!).
A ARTE NÃO PODE SER PARA TODOS !
À minha amiga Fátima Ribeiro, trabalhadora infatigável do cinema e cineasta, e que comenta na caixa de Luís Rainha (“A chateza está nos olhos de quem a vê”, bom título), pedia-lhe um breve texto sobre o Oliveira, para eu publicar aqui num post por mim assinado. Um texto sobre o Oliveira cineasta, um texto pequeno que se esquecesse momentaneamente de efemérides. Como Oliveira gostará, estou certo.
Vamos à forma e ao osso e deixemo-nos de foguetes vazios.
Dois dos bons, no fundo.
(ADENDA: Olhó Buonarrotti preocupado com as pessoas, e com o número de entradas na Capela Sistina. Qual foi a afluência hoje? Só? Tão pouca gente? )
50 Responses to Uma obra de arte não pode nem deve estar acessível a qualquer pessoa