“The Smartest Guys in The Room“, o livro que descreve em detalhe a ascensão e queda da ENRON é verdadeiro um tratado sobre a actual crise económica. Os autores, Bethany McLean e Peter Elkind, recorreram a centenas de entrevistas para reconstituir os percursos dos principais quadros da ENRON, a relação da empresa com os seus parceiros comerciais, com clientes, com a imprensa e com o poder polÃtico. Como se de um romance se tratasse vamos seguindo a apaixonante história dos principais actores, Jeff Skilling (CEO), Ken Lay (Presidente) e Rebecca Mark (sector internacional), desde os tempos de dificuldades vividos no seio de famÃlias modestas até à sua ascenção meteórica no seio da ENRON. Os dois últimos naturais do Midwest representam a encarnação perfeita do sucesso idealizado pelos teóricos do ultraliberalismo puro e duro, o seu supremo fantasma erótico. Aà estava o grande exemplo de que o esforço, o trabalho e o sacrifÃcio, aliados à desregulação e ao ultraliberalismo forjavam o que havia de melhor entre as empresas americanas. Praticamente todos caÃram que nem patinhos, a imprensa, os comentadores, os polÃticos e as principais escolas de economia, em particular Harvard. Sobre o verdadeiro significado de esforço, de trabalho e de sacrifÃcio, ficamos inteiramente esclarecidos na obra de McLean e Elkin. Durante largos perÃodos o trabalho dos principais quadros da ENRON pouco os distinguia dos viciados das salas de jogo de um casino, e a se a ENRON era alguma coisa, era sobretudo um casino onde se jogava forte, contra as probabilidades mais desfavoráveis, frequentemente por puro narcisismo e megalomania.
Um dos grandes méritos desta obra, lançada em 2004, é o de interpelar o leitor sobre um dos ingredientes principais que está na génese da crise que hoje vivemos. Aceita que a sua fornecedora de energia, a sua seguradora ou o seu banco joguem no mercado financeiro a um nÃvel de risco comparado ao risco do jogo de um casino? No entanto, o caso ENRON tem a agravante de parte dos seus intervenientes – crentes profundos nos benefÃcios sociais do darwinismo de mercado e do ultraliberalismo puro e duro – fazerem uso do mais profundo cinismo e de um desprezo absoluto pelos clientes que estavam obrigados a servir. O pior exemplo foi dado por um grupo de correctores bem doutrinados que instalou o caos na rede de abastecimento de energia da Califórnia, provocando apagões propositados que geraram desemprego, mortes, prejuÃzo, falências e demissões polÃticas. Tudo isto em troca de ganhos imediatos de milhões de dólares, ganhos sem esforço, sem produzir nada que justificasse sequer 1% dos ganhos. Esta foi a permanente história da ENRON, a história de como ganhar milhares de milhões sem produzir, ou produzindo pouco, sem servir os clientes, aproveitando a dimensão e a complexidade da empresa para escapar ao controlo financeiro. Foi assim que foram possÃveis grandes manobras através de contas em paraÃsos fiscais, a criação de fundos de investimento ilegais e uma especulação bolsista do mais cÃnico e do mais agressivo que se possa imaginar.

A ENRON foi ao fundo e levou consigo a Arthur Andersen, a empresa de consultadoria que fechava os olhos à s manobras mais fraudulentas, juntas produziram dezenas de milhares de desempregados, arruinaram fundos de pensões acumulados durante toda a vida por milhares de trabalhadores e deixaram inactiva durante mais de cinco anos uma mega-central eléctrica em Dabhol na Ãndia que teve de ser paga quase na integra pelos contribuintes indianos. Jeff Skilling, o cérebro da ENRON foi condenado a 24 anos de prisão, Ken Lay morreu antes da sentença e a maioria dos quadros envolvidos nas fraudes foram condenados com penas pesadas, à excepção dos que colaboraram com a justiça. A administração Bush posteriormente retocou algumas das regras dos mercados financeiros, mas deixou a auto-estrada da desregulação aberta para os mais habilidosos especuladores e que resultou na crise que se faz agora sentir.

A ENRON foi ao fundo e levou consigo a Arthur Andersen, a empresa de consultadoria que fechava os olhos à s manobras mais fraudulentas, juntas produziram dezenas de milhares de desempregados, arruinaram fundos de pensões acumulados durante toda a vida por milhares de trabalhadores e deixaram inactiva durante mais de cinco anos uma mega-central eléctrica em Dabhol na Ãndia que teve de ser paga quase na integra pelos contribuintes indianos. Jeff Skilling, o cérebro da ENRON foi condenado a 24 anos de prisão, Ken Lay morreu antes da sentença e a maioria dos quadros envolvidos nas fraudes foram condenados com penas pesadas, à excepção dos que colaboraram com a justiça. A administração Bush posteriormente retocou algumas das regras dos mercados financeiros, mas deixou a auto-estrada da desregulação aberta para os mais habilidosos especuladores e que resultou na crise que se faz agora sentir.
Grande estreia, Rui. Bem-vindo!
Excelente texto, Rui.
também há um filme com o mesmo titulo (exibido o ano passado no DocLisboa) e que como é evidente nunca chegou à exibição em salas comerciais – ali se vê como Bush tratava Kenneth Lay o presidente da Enron por tu e como foi esta corporação o maior contribuinte em fundos para a campanha de eleição do bush em 2000
Foi o sistema “enron” de criar acções sobre valores ficticios que elegeu o Biltre, o mandante do actual sistema criminal internacional que está a ser instituido com o lei
Lembro-me muito bem do escândalo à volta da ENRON e de todas as promessas que na altura se fizeram em torno das regras do funcionamento dos mercados.
É por isso que não alimento grandes esperanças quanto aos resultados desta “hiper-crise”: umas mudanças cosméticas aqui e ali, mas no que é importante a desigualdade e a injustiça social irão permanecer, quem sabe se com ainda maior força.
No meio disto tudo, aqueles que se dispuseram logo a comentar a morte da economia à moda de Milton Friedman ou do próprio capitalismo parecem-me um pouco idiotas, ou melhor, excelentÃssimos membros das chattering classes que têm arrastado a esquerda consigo para a (merecida, diga-se) irrelevância.
Sim, eu vi esse filme. Mas ler o livro é uma experiência completamente diferente. O livro é muuuuuito melhor que o filme. Dá uma ideia da dimensão das fraudes e das artimanhas que em 90 minutos de filme é praticamente impossÃvel abordar.
Excelente post.
Não é difÃcil imaginar o vórtice que esses CEO’s das grande multinacionais optam por construir. A cocaÃna ajuda a arquitectar espirais completamente loucas. Quem nunca experimentou faça a experiência e depois diga-me se assim não é.
caro Rui
presumo que não esteja ainda traduzido para português; de qualquer modo, mesmo se não estiver, vou seguir o seu conselho e vou ler o livro.
cumpr.
Finalmente alguém a falar do “episódio” ENRON! Já era sem tempo.
Há três anos passou um Fantástico documentário no doclisboa sobre a companhia em causa. Fica aqui tb a referência.
xatoo
A Apordoc deve ter o doc., o qual fechou o festival de 2005/6 já n me lembro.
O livro não foi traduzido, comprei-o nos EUA.
Havia um site oficial do filme, mas eplos vistos está fora de serviço:
http://www.enronmovie.com/
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