Nada de inesperado: para Bento XVI, o tempo parece não passar. Quarenta anos depois da Humanae Vitae, os seus princípios continuam a merecer louvaminhas. E a colocar em perigo milhões de católicos. Se calhar, os dias em que desperdiçar “semente” era atrocidade a merecer a pena de morte também ainda não passaram lá para os lados do Vaticano.
Tanta conversa sobre os malefícios da coisificação sexual do outro, sobre elevação e espiritualidade… e afinal convém é não nos distinguirmos dos animais. Bom bom é ficarmos entregues às leis da Biologia, ignorando muito do que nos distingue de um mosquito. Separar, ainda que no quadro do santo matrimónio, o sexo da reprodução, tomando qualquer medida «destinada a impedir a procriação» continua a ser pecado. Caramba; até os bonobos já sabem que o sexo é algo de muito mais interessante, apaixonante e valioso do que um simples mecanismo reprodutivo, mesmo sem terem de lhe atribuir virtudes do outro mundo.
Esqueçam isso tudo: para Ratzinger, se a queca não se arriscar a produzir bebés, estaremos «negar a verdade íntima do amor conjugal». Verdade essa que só pode ser violada em caso de «circunstâncias graves», através do método das temperaturas ou traquitana similar que, embora na corda bamba, respeite os «ritmos naturais de fertilidade da mulher», procurando assim não «perturbar o significado íntegro da doação sexual». Traduzindo: é-nos permitido coisar quando o ciclo da mulher não está virado para a procriação, pois aí podemos fazer de conta que estamos a respeitar não sei o quê, embora tenhamos feito contas para nos certificarmos do oposto.
Não sei se me sinta ofendido ou divertido por esta visão da sexualidade e pelos infindos labores destes gerontes, entretidos em gongóricos jogos florais, a mil anos-luz da vida humana que tanto dizem glorificar.
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Em relação à pergunta “Com que direito?” eu respondo: com os mesmos direitos que a Ibidem e todos têm de defender posições contrárias e antagónicas às posições da Igreja Católica. Nem mais nem menos: exactamente os mesmos direitos.
António, as minhas posições não condicionam as vidas de milhões de pessoas. Não as forçam a viver na culpa de não conseguirem respeitar o absurdo arrazoado da ICAR – conheço várias mulheres casadas com remorsos por usarem o DIU ou a pílula depois de terem tido quatro e mais filhos. Não as condenam à pobreza por não poderem decidir o número de filhos que querem ter, nem à doença por terem sido matraqueadas com o discurso de que o preservativo é “um mal”.
Ao contrário da ICAR, não faço lobbying nem ameaço políticos para que se acabe com o planeamento familiar, como em Manila, onde o anterior presidente da Câmara, sob influência da Igreja, proibiu e fechou todos os centros de planeamento familiar (os que permaneceram só podiam advogar “métodos naturais” de controlo da natalidade, como as temperaturas), conduzindo rusgas para encontrar e destruir preservativos.
Ainda hoje, dia 11 de Outubro do séc. XXI, a ICAR no país continua a considerar métodos como a pílula e o preservativo de “abortivos”. A Lei que prevê o acesso das famílias a métodos contraceptivos tem sido bloqueada pela ICAR, que tem tentado por todos os meios impedir a aprovação do diploma.
Num país onde há anualmente cerca de 800 mil abortos clandestinos, uma das taxas mais altas na Ásia, e onde 70% das gravidezes não desejadas acabam em aborto, segundo o Pro-Life Philippines, um grupo anti-aborto, as ONGs são obrigadas a distribuir contraceptivos de forma clandestina às famílias pobres.
Que não se permita às pessoas a possibilidade de poderem recorrer a métodos contraceptivos e se imponha, a todos, uma visão cozinhada por papas misóginos e sexofóbicos, dá bem a medida do “Estado de direito” que a ICAR, se pudesse, nos impunha a todos.
Manila é longe, e temo que se alguém chegar a ler este comentário no cemitério dos posts passados no 5dias não veja o alcance e gravidade destas políticas, desculpando-as como exotismo asiático. Mas basta transpô-las para Portugal para sermos percorridos por um arrepio de horror. Imagine-se que em Lisboa a única forma de obter preservativos e pílulas era no mercado negro, a preços exorbitantes. Que os católicos eram ameaçados de excomunhão se recorressem a métodos “abortivos” de regulação da sua sexualidade, mesmo casados. Que uma ateia como eu e milhares de pessoas teríamos de estar sujeitos a estas crendices e patranhadas, não podendo decidir quando e se queremos ter filhos – não podendo, em suma, ser senhores e senhoras dos nossos corpos, apesar de não comungarmos das visões reducionistas da autonomia humana da ICAR. Que, impedidos de, de forma responsável, tomar medidas para evitar a gravidez, teríamos de abortar em vãos de escada ou ir para a prisão (esperem lá, isto começa a soar estranhamente familiar…).
Este pesadelo Orwelliano ainda é vivido por milhões de pessoas no mundo graças à sua iluminada ICAR.
Leitura recomendada de fim-de-semana:
Manila women fight contraception ban (BBC, Fevereiro de 2008)
http://news.bbc.co.uk/2/hi/asia-pacific/7234291.stm
Enviava-lhe mais links (incluindo uma notícia de hoje da Catholic Bishops’ Conference of the Philippines News, “Contraception is wrong even if others say otherwise, says prelate”, “Catholic Church Damns The Pill”, da Inter Press Service, ou o excelente “Philippines abortion crisis”, do International Herald Tribune), mas temo enervar o controlo de spam do 5dias, e não quero condicionar o seu direito a procurar links de obscuras numerárias que defendem em voz baixa o contrário disto tudo.
Ibidem
Não estamos a falar do preservativo como contraceptivo nem dos meios artificiais de controlo da natalidade. Isso é outro tema.
O que está em causa é a sida, o preservativo, a Igreja Católica e quem advoga o preservativo como meio único de impedir a transmissão de doenças sexualmente transmíssiveis, como me parece ser o casa da Ibidem.
Considero um erro essa oposição sim/não ao preservativo. O que está em causa é a oposição entre o sim, sem condições, ao preservativo e uma educação sexual centrada na auto-disciplina. E o tipo de sexualidade defendido pela Igreja Católica é muito mais eficaz na prevenção das doenças do que o preservativo por sí só. Ainda não me conseguiu demonstrar o contrário. O que me mostra até à exaustão é a diabolização da Igreja Católica face às políticas estatatais de controlo da propagação da doença. Mas isso já eu conheço há muito tempo.