A Corinne Maier é uma escritora como eu gostava de ser se algum dia for grande: pilha à direita e à esquerda sem vergonha, escreve livros sobre coisa nenhuma, com caracteres absurdamente grandes a boiar no branco das páginas, e o resultado, plim!, é sempre um best-seller, lots of dough, dois anos de férias a farenientar, é mais fácil que o euromilhões e muito mais divertido também. Eu conheci-a através de um híbrido de Paul Lafargue e Françoise Sagan chamado “Bonjour Paresse” que saiu há um par de anos e dizia aquilo que toda a gente com um mínimo de bom senso já sabe (e se não, devia saber): que o trabalho é, na maior parte dos casos, uma enorme maçadoria e que nós devemos, pela calada, resistir-lhe, car la vie, la vraie vie, est toujours ailleurs. Por repetir tais banalidades, conheceu a senhora grande fama – mas também alguns embaraços, pois parece que a entidade patronal (imprensa dixit) não apreciou excessivamente a franqueza dos seus propósitos, a ponto de hoje ela afirmar, com pudor, que trabalha apenas a meio-tempo na EdF, “consagrando o essencial das suas energias à psicanálise e à escrita” (cfr. Amazon.fr). O proverbial umbiguismo francês, é claro, também ajudou à festa, porque é difícil imaginar outro país debaixo do sol onde um livro destes fosse levado a sério e tomado como um “sintoma” profundo do que quer que fosse; mas Corinne Maier sabe o que o seu público pede e este ano serviu-lhe outra dose: se quando ele discutia trabalho ela lhe deu preguiça, agora que ele rejubila com a excelência da natalidade francesa (quem diria!), ela respondeu com o vendidíssimo “No kid” – um verdadeiro hino à anti-concepção. O livro tem por sub-título “quarenta razões para não ter filhos”, todas suficientemente sensatas e evidentes para estarmos também todos (ou quase) de acordo com elas: as criancinhas são cruéis, tirânicas e anti-sociais e, para além de envenenarem a vida dos pais, na sua sofreguidão, dão cabo dos recursos do planeta. Já se sabia que children should be seen but not heard, fica agora a saber-se que they should not be heard NOR seen. Mas o que mais se aprecia no livro é a humanidade, a franqueza, “o sabor autêntico”, como dizem os poetas da publicidade nacional: afinal, a própria editora reconhece que Corinne “est la mère de deux charmants enfants” – quem pode levar-lhe a mal que tente assegurar o seu futuro financeiro?
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