[resposta a um inquérito DN/6a]
Aceitar o sistema mediático é para o intelectual uma transigência ao facilitismo?
Não há ideia mais perniciosa do que a de reservar certos assuntos “só para especialistas”. Os especialistas são preciosos, mas considerar que certos temas lhes pertencessem em exclusividade consistiria em sequestrá-los da esfera pública, empobrecendo-a. Os assuntos são de todos, dos mais fúteis aos mais cruciais: essa coisa do “não percebo nada de arte” ou “não percebo nada de física” não pega, principalmente se discutirmos um novo museu ou uma central nuclear. O papel do intelectual público consiste em dar precisamente esse exemplo: chegar-se à frente para discutir um assunto que pode não dominar completamente, correndo os riscos da exposição sem rede, para em público tentar entendê-lo e torná-lo inteligível. É muito difícil fazê-lo mantendo o rigor e a honestidade intelectual enquanto se acrescenta vivacidade, um certo sentido de entretenimento e liberdade de espírito. Mas facilitismo seria não tentar.